O enorme deslocamento de forças militares da maior potência do mundo requer todo tipo de assistência: pistas de aterrissagem, pontos de abastecimento, radares em postos avançados, manobras e acampamentos para seus soldados. Sem falar em missões de reconhecimento e espaço para armazenar material.

Aviões e helicópteros militares dos EUA são vistos em base militar em Porto Rico, mais perto da Venezuela
Desde então, o deslocamento levou às águas da região pelo menos 12 navios de guerra, um submarino nuclear, aviões, helicópteros e drones. Além deles, também se encontram no Caribe dois porta-aviões, o Iwo Jima e o USS Gerald R. Ford.
Acredita-se que o número de militares americanos na região já supere 15 mil pessoas.
Os Estados Unidos realizam no Caribe sua maior operação militar dos últimos anos — Foto: Getty Images via BBC
Na verdade, a maior parte do tráfico de drogas dos cartéis latino-americanos para a América do Norte passa pelo leste do Oceano Pacífico.
Esta rota representa 74% do tráfico, segundo a Administração de Controle de Drogas dos Estados Unidos (DEA, na sigla em inglês). E as atuais operações militares americanas não se concentram naquela região.
Beam explica que, ao declarar um "conflito armado" contra agentes não estatais que operam no território venezuelano, Washington dilui a fronteira entre a luta contra o terrorismo e a mudança de regime.
Até o momento, além de Porto Rico e das Ilhas Virgens Americanas, a República Dominicana e Trinidad e Tobago forneceram aos Estados Unidos acesso à sua infraestrutura. Mas eles não são os únicos envolvidos.
Aqui estão as ilhas e territórios que estão dando cobertura ao exército americano no Caribe.
Pelo menos 7 ilhas do Caribe estão fornecendo apoio logístico aos EUA — Foto: BBC
As ilhas de Aruba, Bonaire e Curaçao ficam a 80 km da Venezuela.
Elas são territórios de ultramar pertencentes à Holanda. Por isso, apesar do seu status especial e governo próprio, seu uso para qualquer ataque, teoricamente, exigiria autorização do governo holandês.
Os Estados Unidos possuem uma base de operações avançada em Curaçao e outra menor em Aruba. Sua missão, segundo fontes oficiais, é a detecção e monitoramento aéreo de supostas atividades de narcotráfico por via aérea e marítima.
Nas suas conversas com diplomatas e altos oficiais do exército, Ellis observa um certo nervosismo.
"Maduro, provavelmente, não seria tão insensato, mas existe apreensão frente a um possível cenário como este."
Há apenas algumas semanas, o portal de monitoramento aéreo Flightradar24 documentou a presença de aviões bombardeiros americanos sobrevoando o espaço aéreo entre Aruba e Curaçao.
Os EUA tem bases em Aruba e Curaçao — Foto: BBC
Localizadas a 11 km do leste venezuelano, as ilhas de Trinidad e Tobago são as mais próximas do país e, por isso, as mais expostas.
Há muito tempo, Trinidad e Tobago é um dos países mais prejudicados pelo fluxo de migrantes venezuelanos e pela atividade de diversos grupos criminosos.
A primeira-ministra local, Kamla Persad-Bissessar, assumiu o cargo em maio. Seu governo vem mostrando, desde o início, forte posicionamento pró-Estados Unidos.
Nos seus primeiros meses à frente do país, ela se reuniu com o chefe do Estado-Maior Conjunto, Dan Caine, para estreitar laços e favorecer o intercâmbio de dados de inteligência militar.
Recentemente, o governo de Trinidad e Tobago recebeu navios de guerra americanos e facilitou o treinamento de forças especiais dos Estados Unidos.
Persad-Bissessar confirmou que fuzileiros navais americanos operam no aeroporto de Tobago, trabalhando em uma pista e uma rodovia, além de trabalharem na instalação e modernização de um radar.
Além disso, diversos aviões militares usaram a ilha para reabastecimento de combustível.
O governo justifica o projeto como parte da segurança nacional e da luta contra o narcotráfico em suas águas.
Forças Especiais dos EUA realizaram treinamentos em alto mar em Trinidad e Tobago — Foto: BBC
A República Dominicana é outro país gravemente afetado pelo fluxo de drogas, pelo crime organizado e pela migração na região. E é o que ofereceu mais abertamente apoio logístico à "Operação Lança do Sul".
Desde o primeiro mandato de Donald Trump (2017-2021), o governo do presidente dominicano Luis Abinader sempre foi muito alinhado a Washington. Ele ocupa o cargo desde 2020.
A República Dominicana é enorme beneficiária do turismo proveniente dos Estados Unidos e do acesso ao mercado americano, através do Tratado de Livre Comércio CAFTA-DR.
"Esta luta contra o narcotráfico constitui prioridade para o governo Trump, por se tratar de uma ameaça que afeta a estabilidade nacional e regional", declarou Abinader.
Em meio à escalada com a Venezuela, o secretário de Defesa americano, Pete Hegseth, visitou a República Dominicana e assinou uma série de acordos. Eles incluem o uso militar de zonas restritas da Base Aérea de San Isidro e do Aeroporto Internacional das Américas, no país caribenho.
A República Dominicana também permite o reabastecimento de combustível de naves americanas, além do transporte de equipes e pessoal técnico pelo seu território.
"Recentemente, por exemplo, o país solicitou ingresso como membro associado do Caricom, um espaço fundamental para o comércio e a cooperação das nações do Caribe", prossegue Ellis. "Isso aumentaria consideravelmente sua cooperação em temas como o intercâmbio de informações de inteligência contra o crime organizado."
O apoio dominicano às operações dos Estados Unidos é temporário, técnico e limitado, concentrado no reforço à vigilância aérea e marítima contra o crime organizado internacional.
Granada fica a cerca de 145 km da Venezuela, em linha reta pelo mar do Caribe.
Os Estados Unidos solicitaram a instalação de equipamentos de radar e o deslocamento temporário de pessoal técnico, no Aeroporto Internacional Maurice Bishop, localizado na ilha.
Ellis destaca que esta solicitação remonta ao governo Joe Biden (2021-2025) ou até antes, mas aparentemente, agora, é efetiva.
"O exército norte-americano estava de visita, mas não se divulgou publicamente se o propósito era instalar o radar ou se foram realizadas discussões técnicas para auxiliar na sua instalação."
Washington é um dos principais parceiros comerciais de Granada. O país caribenho é beneficiário da Iniciativa da Bacia do Caribe, que permite a entrada de muitos dos seus produtos, livres de impostos.
Granada e os Estados Unidos assinaram diversos tratados para possibilitar a cooperação policial e o intercâmbio de informações e o exército norte-americano forneceu capacitação e equipamento para as forças de segurança granadinas.
Porto Rico e Ilhas Virgens Americanas
Estes dois territórios dos Estados Unidos encontram-se a cerca de 800 km de distância da Venezuela. Eles estão sendo usados para abrigar pessoal militar e oferecer apoio logístico para as operações.
Uma investigação da agência de notícias Reuters indica que a estação naval americana Roosevelt Road (uma antiga base da Guerra Fria, fechada em 2004) se encontra em processo de modernização, com repavimentação e ampliação das pistas, onde já operam aeronaves de grande tamanho.
Entre esses aviões, está o gigantesco Boeing C-17 Globemaster, empregado pelas forças dos Estados Unidos para o rápido transporte de tropas e suprimentos.
Além disso, a Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA, na sigla em inglês) anunciou uma zona de voo restrita que afetará o espaço aéreo em frente ao litoral sudeste de Porto Rico, entre 1° de novembro de 2025 e 31 de março de 2026.
Esta medida facilitaria as operações militares de alta intensidade perto do Aeroporto José Aponte de la Torre, para onde foram deslocados os caças F-35 de última geração mobilizados pelo Pentágono.
No aeroporto, foram observadas operações de aviões de combate e transporte. E é nestas instalações que fica a maior parte do pessoal em terra.
Existem também registros de aviões militares no Aeroporto Henry E. Rohlsen, nas Ilhas Virgens Americanas. Ele funciona como plataforma operativa e logística para deslocamentos regionais.
Saint Croix, a maior ilha do território, abriga pessoal militar adicional no acampamento Port Hamilton Refining and Transportation (PHRT).
Por fim, o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês) informou que a base naval americana na baía de Guantánamo, em Cuba, aumentou seu contingente militar em destacamento permanente.
Grande parte dos equipamentos militares americanos está reunida em Porto Rico — Foto: Getty Images via BBC
De onde sairia um ataque?
Todo este aumento progressivo das forças americanas no Caribe gera uma pergunta. Se houver uma operação militar dos Estados Unidos na região, de onde ela seria lançada?
"Se houvesse ataques terrestres limitados, eles provavelmente proviriam de mísseis americanos, talvez os mísseis Tomahawk, pois a Venezuela ainda tem defesas aéreas sob seu controle."
Por isso, o especialista acredita que os F-18 dos porta-aviões não seriam lançados enquanto essas defesas aéreas continuassem funcionando.
"Talvez pudéssemos observar o deslocamento militar de algumas Forças de Operações Especiais no terreno", prossegue Ellis. "Mas, se precisasse adivinhar, eu diria que os ataques iniciais seriam com mísseis, simplesmente porque esta é a forma mais segura."
O CSIS indica que as forças norte-americanas atualmente comprometidas são insuficientes para um desembarque anfíbio ou invasão terrestre, o que exigiria pelo menos 50 mil soldados.
"Mas os recursos aéreos e navais acumulados nos últimos três meses proporcionaram poder de fogo suficiente no Caribe para lançar ataques aéreos e com mísseis contra a Venezuela", destacam os especialistas do CSIS.
Mapas de Caroline Souza e projeto de imagens de Daniel Arce, da equipe de Jornalismo Visual da BBC News Mundo.

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