Atacado pela esquerda e direita, BC crava independência no caso Master

Em março, o BRB anunciou a intenção de compra do Master, encarada por autoridades como tentativa de unir os balanços das duas instituições e diluir a carteira fraudulenta. Um socorro bilionário com dinheiro público ao banqueiro de atitudes agressivas no mercado, visto com desconfiança pela Faria Lima.

A Diretoria de Fiscalização, comandada por Ailton de Aquino Santos, foi a grande responsável por analisar balanços e descobrir que não estavam adequados. Ailton é o primeiro diretor negro do BC e foi um dos mais criticados pelos políticos e empresários que queriam seguir com o processo de venda para o BRB. Outra resistência à conclusão do negócio veio de Renato Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC.

A reação no Congresso veio no estilo rolo compressor. Líderes partidários do centrão assinaram pedido de urgência para emplacar um projeto de lei que restringe a autonomia e permite a demissão de diretores do Banco Central. Mas a autoridade monetária falou mais alto. Rejeitou a compra do Master pelo BRB. Ontem, decretou a liquidação extrajudicial da instituição. Há muita gente com insônia em Brasília à medida que a investigação avança.

Na esquerda, também há sinais do fim da lua de mel com Gabriel Galípolo. Os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, cobram a redução dos juros do patamar mais alto em quase duas décadas. Antes inseparáveis — moravam no mesmo hotel e faziam academia juntos todas a manhãs —, Haddad e Galípolo se afastaram.

Muito de leve, Lula também começou a martelar na tecla do corte de juros. Mas Galípolo faz ouvidos moucos. Na ata do Copom e nas falas públicas, o tom se mantém duro e técnico.

Em 11 meses de mandato, Galípolo surpreendeu o meio político — que achou que pudesse influenciá-lo — e a Faria Lima, que imaginou um pau-mandado do governo. Até aqui, o Banco Central tem sido apenas independente.