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Captura de CO2 pode contribuir para transição energética mais equilibrada

de Ordos, China

A necessidade da redução dos gases de efeito estufa é uma pauta colocada mundialmente devido às mudanças climáticas. No entanto, ainda são incertas a forma e a velocidade com que essa ação será feita, se de uma maneira mais radical ou conservadora. A tecnologia de captura de CO2, por exemplo, é uma alternativa que vem sendo utilizada para se tentar alcançar as metas globais de diminuição de emissões, mas sem abandonar totalmente o uso das fontes fósseis.

O superintendente adjunto de petróleo e gás natural da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Marcelo Ferreira Alfradique, ressalta que o Brasil tem observado e buscado soluções que combinem tanto benefícios para a transição energética como para a sociedade em geral. “A questão da produção de fertilizantes, utilizando um processo de descarbonização, combina muito bem esses dois fatores”, diz Alfradique.

O representante da EPE é um dos participantes da comitiva brasileira que está na China para conhecer a tecnologia da empresa JNG na área de captura de dióxido de carbono e produção de fertilizantes dentro desse processo. Ele frisa que as seguranças energética e alimentar são dois pontos que o governo federal tem buscado atender, seja no plano nacional de fertilizantes ou com os planejamentos da EPE que focam na eficiência energética. Os exemplos que estão sendo observados na China, assinala Alfradique, são oportunidades que o Brasil pode aproveitar.

De acordo com o integrante da EPE, a transição energética tem que ser social e economicamente justa, sendo viável conciliar a diversificação de fontes. Ele salienta que a EPE está trabalhando nos planos, seja no decenal ou no nacional de energia, que é de mais longo prazo, cenários futuros de descarbonização. Seguir o aprimoramento tecnológico nessa questão, como foi visto na China, é algo fundamental, conforme Alfradique. “Não só por estar descarbonizando uma fonte fóssil, mas também dando oportunidades para o crescimento do mercado de fertilizante, produto que o Brasil é importador”, enfatiza.

Ele reforça ainda que a produção de fertilizantes com uma baixa pegada de carbono é um caminho que o Brasil precisa trilhar. O superintendente adjunto de petróleo e gás natural da EPE recorda que há programas vinculados ao Ministério de Minas e Energia, como o Gás para Empregar, que buscam possibilidades que também passam pela produção de fertilizantes nitrogenados. Além do gás natural, o segmento carbonífero é um dos diretamente interessados nesse tema.

“Eu entendo que é uma necessidade premente descarbonizar a geração de energia termelétrica a partir do carvão”, sustenta o coordenador-geral de Desenvolvimento Tecnológico e Transformação do Ministério de Minas e Energia, Miguel C. B. Leite. Ele considera que a tecnologia vista na China vem a colaborar com essa meta. “O que me preocupa é a escala”, argumenta.

Leite frisa que é preciso ter um grande volume de geração de CO2 para viabilizar o custo da implantação de um complexo desse tipo. Contudo, o dirigente pondera que, demonstrando que é possível descarbonizar e reduzir os efeitos de poluição, há uma chance de implementar projetos de captura de CO2 também no Brasil.

Para ele, mesmo o País importando esse tipo de tecnologia, em um primeiro momento, a partir do desenvolvimento de pesquisa e inovação, é recomendável criar soluções próprias em cima desse processo. “Colocar a sua cara, o seu jeito de fazer. Mas, nesse momento, acho que tem que ser importada (a tecnologia)”, aponta o coordenador-geral de Desenvolvimento Tecnológico e Transformação do Ministério de Minas e Energia.

Segundo o dirigente, dentro do setor elétrico é importante contar com uma fonte que represente a chamada “energia firme”, ou seja, que não oscile com as condições climáticas, como a eólica e a solar. “O problema da energia de carvão, da termelétrica, é a questão mesmo da poluição. Se você conseguir reduzir isso, ela pode ser uma boa opção”, reforça Leite. 

Ele defende que a transição energética necessita ser feita, mas precisa ser realizada paulatinamente, aproveitando os recursos disponíveis, dando segurança e sustentabilidade para usuários e trabalhadores. Especificamente no caso da mineração, que é uma atividade atrelada à geração de energia termelétrica, Leite diz que o objetivo do governo federal é atuar com esse setor de forma segura e sustentável. Ele afirma que se tem avançado nessa área. “Se olhar hoje, boa parte das empresas de mineração já trabalham com circuito fechado de água, o que já diminui o impacto desse quesito”, argumenta.

Outro ponto mencionado pelo integrante do Ministério de Minas e Energia é que boa parte das empresas que atuam no segmento trabalham com a questão do reflorestamento das áreas afetadas. “Isso tudo vai contribuindo para reduzir o impacto ambiental que a mineração causa”, salienta.

Ele acrescenta que outra medida que pode ser tomada, por exemplo, é a diminuição da emissão de carbono pelos próprios equipamentos adotados na mineração, usando veículos elétricos. “Caminhos há, eu acho que o que falta, muitas vezes, é a vontade de apostar nesses caminhos porque aumentam os custos”, conclui o coordenador-geral de Desenvolvimento Tecnológico e Transformação do Ministério de Minas e Energia.

EPE prepara estudo do uso de hidrogênio verde para produzir fertilizantes

Provavelmente ainda neste ano, a EPE deverá divulgar um estudo relacionado à utilização de hidrogênio verde (combustível fabricado a partir de fontes renováveis de energia, como a solar e a eólica) para a produção de fertilizantes. Entre os pontos que deverão ser abordados pelo levantamento, detalha a analista de pesquisa energética da empresa vinculada ao Ministério de Minas e Energia, Fernanda Marques Pereira Andreza, estão análise de custos, taxa de retorno e variação de preço.

Ela considera que, ao adotar uma tecnologia para produção de fertilizantes, seja no caso de hidrogênio verde ou do carvão, como está se observando na China uma das questões que têm que ser avaliadas no momento da implantação de empreendimentos dessa natureza é a sua localização.

Fernanda argumenta que complexos que aliam a captura de CO2 com a produção de fertilizantes começam a ficar cada vez mais interessantes quanto mais próximos dos centros de consumo desse item da cadeia agrícola. Dentro dessa lógica, estados como o Rio Grande do Sul, que possuem um setor de agronegócio relevante, têm melhores condições para sediarem empreendimentos dessa espécie. “A logística interfere no custo total do projeto”, alerta Fernanda.  Ela considera que tecnologias distintas podem encontrar seu espaço dentro do mercado. “Eu acredito que em cada região do País se terá um projeto que será mais adequado, mais próximo à realidade local”, prevê a analista.

Uso de carros elétricos é incentivado e se desenvolve fortemente na China

Carros elétricos na China | JEFFERSON KLEIN/ESPECIAL/JC

Carros elétricos na China JEFFERSON KLEIN/ESPECIAL/JC

Quem for visitar o território chinês e olhar para as placas de automóveis vai perceber que alguns veículos (cada vez mais numerosos) usam placas verdes. A cor serve para identificar carros que usam a eletricidade como combustível e não fontes fósseis.

Uma das medidas tomadas pelo governo local para incentivar que mais pessoas adquiram esses automóveis é facilitar o emplacamento deles em grandes cidades do país como Beijing e Shangai, enquanto que os carros que usam combustíveis fósseis passam por uma maior burocracia para serem liberados.

Além da questão do menor impacto ambiental, um dos motivos para a aceleração da mobilidade elétrica chinesa é o país não contar com uma abundância de fornecimento de petróleo, fazendo com que a eletricidade possibilite uma maior independência na gestão de seus recursos nessa área automotiva.

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