Você abre uma rede social para “dar só uma olhada” e, quando percebe, já se passaram vários minutos - ou até horas - rolando o feed. Vídeos, fotos, textos e opiniões surgem em uma sequência quase intuitiva, como se a plataforma soubesse exatamente o que você quer ver naquele momento. Essa sensação de personalização extrema, porém, não é coincidência. O que aparece na tela é resultado de algoritmos complexos, capazes de analisar comportamentos, interações e padrões de uso para decidir, em frações de segundo, quais conteúdos ganham destaque, quais são ignorados e até o que simplesmente nunca chega ao seu feed.
Em um cenário em que milhões de usuários passam boa parte do dia conectados sem compreender como seus feeds são construídos, cresce o debate sobre bolhas de informação, polarização online, vício em rolagem infinita e impactos diretos na saúde mental. Com mudanças recentes nos algoritmos das principais plataformas, como Instagram, TikTok e X, entender os critérios técnicos e comerciais por trás dessas escolhas deixou de ser apenas curiosidade tecnológica e passou a ser uma questão de consumo consciente de informação.
Para explicar como funcionam os algoritmos que decidem o que você vê - e o que fica invisível, o TechTudo ouviu o especialista em marketing digital e inteligência artificial Igor Carvalho, que detalha os mecanismos técnicos por trás da personalização do feed, e o psicólogo André Machado, que analisa as consequências desse modelo para o comportamento, o humor e o bem-estar emocional. A seguir, veja como os algoritmos operam na prática, porque certos conteúdos aparecem com mais frequência, quais interesses estão em jogo e até que ponto é possível ter mais controle sobre o que surge na sua tela.
Como seu feed é formado? Especialistas explicam o algoritmo das redes sociais — Foto: Nicolly Vimercate/TechTudo O que é um algoritmo de rede social?
De forma simplificada, o algoritmo de uma rede social é um sistema automatizado que organiza e recomenda conteúdo fpara cada usuário com base em dados de comportamento. Em vez de mostrar todas as publicações disponíveis, a plataforma seleciona aquelas que considera mais relevantes para cada perfil.
Segundo Igor Carvalho, Creative Marketer Senior no The Cloud Circle e especialista em marketing digital e inteligência artificial, esse processo funciona a partir de uma espécie de “pontuação de relevância”. “Hoje, os algoritmos operam avaliando milhares de sinais ao mesmo tempo. Cada rede tem seus próprios pesos, mas a lógica geral é a mesma”, explica.
De acordo com Igor, quatro pilares costumam orientar essa seleção. O primeiro é o inventário, que reúne tudo o que foi publicado por pessoas e páginas seguidas pelo usuário. Em seguida, entram os sinais, considerados o fator mais importante do sistema. “Aqui entram quem postou, se é um amigo próximo ou uma marca favorita, o formato do conteúdo, a atualidade da publicação e até o contexto do usuário, como horário do dia ou velocidade da conexão”, detalha.
A partir desses dados, o algoritmo faz predições, usando inteligência artificial para calcular a probabilidade de interação. “É o momento em que a IA tenta responder: ‘Qual a chance dessa pessoa curtir, comentar ou simplesmente parar para olhar esse post?’”, afirma Igor. Por fim, pesa o engajamento prévio, ou seja, o histórico de comportamento do usuário dentro da plataforma.
Do feed cronológico ao feed algorítmico
No início das redes sociais, o feed era cronológico e mostrava primeiro as publicações mais recentes. Com o aumento do volume de conteúdo, esse modelo passou a ser considerado pouco eficiente.
“A diferença fundamental é tempo versus relevância”, explica Igor. “O feed cronológico é linear e justo, mas ruidoso. Você vê tudo, inclusive o que não te interessa. Já o feed algorítmico é curado e focado em retenção.”
Segundo o especialista, essa mudança teve impacto direto na experiência do usuário. “Por um lado, o feed fica mais fluido e viciante, porque você vê quase sempre aquilo de que gosta. Por outro, cria-se a chamada bolha de filtro, que reduz a exposição a opiniões divergentes ou temas fora da zona de conforto”, afirma.
Os ingredientes que moldam o seu feed
Apesar das diferenças entre plataformas, alguns fatores são decisivos na construção do feed personalizado:
- curtidas, comentários, compartilhamentos e salvamentos;
- tempo de visualização e retenção de conteúdo;
- perfis com os quais o usuário mais interage;
- tipo de conteúdo consumido (vídeo, foto, texto ou live);
- comportamento de usuários com interesses semelhantes.
Nos últimos anos, um fator ganhou peso central: o dwell time, ou tempo de atenção. Mesmo sem curtir ou comentar, parar para ler ou assistir já é interpretado como interesse. “A atenção virou a moeda mais valiosa das redes sociais”, resume Igor. “O algoritmo entende que, se você parou, algo ali funcionou.”
Como o algoritmo aprende com você
Os algoritmos atuais não seguem regras fixas escritas manualmente. Eles utilizam machine learning para aprender continuamente com o comportamento dos usuários.
Para explicar esse processo, Igor usa uma analogia simples. “É como um garçom muito observador que nunca esquece nada”, diz. “Quando você abre o aplicativo, ele te oferece um prato, que é o post.”
Segundo ele, se o usuário consome o conteúdo até o fim, o sistema registra preferência. “Se você empurra o prato ou nem toca nele, rolando o feed rápido, o algoritmo entende que aquilo não agradou.” Já quando o usuário sinaliza explicitamente que não quer ver algo, o ajuste é imediato. “Esse ciclo de tentativa, erro e reajuste acontece milhares de vezes por dia.”
Atenção vale mais do que curtida
As plataformas também passaram a valorizar cada vez mais os chamados sinais implícitos, como pausar o scroll, assistir a um vídeo mais de uma vez ou ativar o som.
“Nós mentimos nos likes, muitas vezes por educação. Mas o nosso tempo não mente”, afirma Igor. “Se você parou, aumentou o brilho da tela ou assistiu de novo, isso é um sinal muito mais forte do que um simples curtir.”
Conteúdo orgânico e anúncios no mesmo feed
Embora apareçam misturados no feed, conteúdos orgânicos e anúncios seguem lógicas diferentes. O algoritmo orgânico busca maximizar a retenção, enquanto o de anúncios tem como objetivo a conversão.
“Eles competem pelo mesmo espaço, que é a tela do celular”, explica Igor. “O sistema funciona como um leilão, mas não considera só o dinheiro. A qualidade do anúncio é fundamental.” Segundo ele, anúncios irrelevantes são penalizados porque prejudicam a experiência do usuário. “O ponto ideal é quando o anúncio é tão bem segmentado que o algoritmo orgânico o trata quase como conteúdo nativo.”
As consequências psicológicas do feed personalizado
O impacto dos algoritmos vai além da tecnologia. De acordo com o psicólogo André Machado, mestre e doutor pela PUC-RJ, esses sistemas são projetados para maximizar engajamento, o que favorece conteúdos emocionalmente intensos.
“Informações negativas ou tendenciosas costumam provocar reações mais fortes e, por isso, são amplificadas”, explica André. “Quando o usuário consome esse tipo de material, o algoritmo interpreta como interesse e entrega ainda mais, reforçando o doomscrolling.”
Segundo o especialista, esse mecanismo explora o viés da negatividade humana. “É uma tendência evolutiva prestar mais atenção a ameaças. O problema é que isso transforma a busca por informação em um comportamento que aumenta estresse, ansiedade e sensação de impotência.”
A comparação constante com vidas e corpos idealizados também afeta autoestima e humor. “As redes mostram recortes editados da realidade. Isso leva muitas pessoas a se sentirem inadequadas, o que pode evoluir para tristeza persistente e até sintomas de depressão”, afirma André.
Ansiedade, irritabilidade e sensação de alerta constante
De acordo com o psicólogo, feeds altamente personalizados também estão associados ao aumento de ansiedade e irritabilidade. “Os algoritmos criam bolhas que reforçam emoções e opiniões, mantendo o usuário em estado de alerta constante”, diz.
Esse excesso de estímulos, segundo André, sobrecarrega o cérebro, prejudica o sono e dificulta a regulação emocional. “O medo de ficar de fora e a busca constante por validação elevam os níveis de ansiedade no dia a dia.”
É possível ter mais controle sobre o feed?
As plataformas oferecem ferramentas como marcar conteúdos como “não tenho interesse”, silenciar palavras ou perfis e ajustar preferências de anúncios. Embora ajudem, essas opções têm alcance limitado.
“O algoritmo continua aprendendo a partir de comportamentos automáticos”, explica Igor. Por isso, especialistas indicam estratégias como seguir perfis fora da própria bolha, interagir conscientemente com novos temas, reduzir o tempo de uso diário e fazer pausas regulares nas redes.
Essas práticas não desligam o algoritmo, mas ajudam o usuário a recuperar parte do controle sobre o que consome e sobre quanto tempo e atenção está disposto a oferecer.
Veja também: Como você explicaria a IA para crianças? Estagiário Pergunta!!
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