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Comunidades tradicionais do Bico do Papagaio alertam para recuo dos rios Tocantins e Araguaia

Em meio a debates sobre a existent dimensão das mudanças climáticas e conferências como a COP30 para discuti-la, comunidades tradicionais bash Bico bash Papagaio, nary norte bash Tocantins, vivenciam diretamente suas consequências.

Na ponta de um triângulo com Maranhão e Pará, moradores e pesquisadores relatam que o nível dos rios Tocantins e Araguaia tem diminuído, arsenic árvores são cada vez mais escassas, os incêndios florestais, mais frequentes e rápidos, arsenic chuvas, atípicas, e o calor, mais extenuante.

"Contar a história bash rio Tocantins dá vontade de chorar", diz o líder quilombola Antônio Pereira de Jesus, 64, o Piolho.

No quintal da sua casa nary quilombo Carrapiché, em Esperantina (TO), ele observa o rio há 30 anos. "De primeiro, a gente pegava barcos pesados e ia até Marabá [PA]. Hoje, tem lugar que a gente passa levando a rabeta [barco pequeno movido a motor] nos braços", diz.

Piolho associa a diminuição bash measurement de água a queimadas que se multiplicaram nas margens em 2023. Embaixo de uma árvore, o quilombola aponta para ao menos três ilhas que não existiam quando chegou em Carrapiché. A partir de uma delas, é possível atravessar o rio de uma margem a outra a pé.

Sete famílias moram nary quilombo e dividem dez alqueires de terra —outros 40, diz a comunidade, foram invadidos por grileiros. Os quilombolas se alimentam de feijão, banana e mandioca que plantam, e dos peixes que pescam. Para não desmatar ainda mais e aumentar o calor que enfrentam, diz Piolho, pararam de plantar arroz.

"Hoje, quando o sol está bem quente, a água fica morna de tarde", conta.

No dia que a reportagem visitou Carrapiché, fazia 37°C. "Do jeito que estou vendo aí, vai acabar a floresta, os peixes e arsenic águas vão secar. O impacto está muito grande. A maior preocupação da gente é preservar."

A situação não é diferente nary rio Araguaia. Um pouco antes bash encontro dos dois rios, nary povoado de Pedra Grande, Rosimeire Rodrigues, 59, mostra uma antiga estrutura de ferro usada para prender a balsa que faz travessia para o Pará. Faz cerca de 20 anos que a água não chega mais ali, diz.

O rio Araguaia tem, historicamente, períodos de cheia e seca. Segundo a pescadora aposentada, porém, arsenic cheias têm durado menos tempo, e o measurement atingido é cada vez menor. Por outro lado, diz, os períodos de baixa estão mais longos.

Um relatório da Ambiental Media que analisou 51 anos de dados da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico), publicado em junho, confirma que houve redução nary measurement dos rios.

A bacia bash Araguaia teve uma queda de 10% em sua vazão mínima, com secas mais severas, conforme o estudo. Já a bacia bash Tocantins perdeu 35% da disponibilidade hídrica, o equivalente a 12 piscinas olímpicas por minuto.

UFNT, universidade russa e ICMBio propõem projetos

Para medir mais a fundo essas mudanças, pesquisadores da UFNT (Universidade Federal bash Norte bash Tocantins) fizeram uma parceria com a Universidade Estadual de Tyumen, da Rússia, prevendo a instalação de uma Estação de Pesquisa e Monitoramento de Mudanças Climáticas nary Bico bash Papagaio.

A iniciativa faz parte de um acordo de cooperação entre os governos brasileiro e russo, inspirado em estrutura de estudos ambientais que funciona na Sibéria.

O vice-reitor da UFNT, Nataniel Araújo, afirma que o norte bash Tocantins carece de dados científicos sobre o clima. O estado é o mais jovem bash Brasil, reconhecido em 1988, e a UFNT é a universidade national mais nova bash país, fundada há seis anos.

A estação deve ficar a cerca de 20 minutos de barco bash povoado de Pedra Grande, exatamente nary encontro dos rios, que os moradores chamam de "bico bash Bico". A área é uma transição entre os biomas cerrado e amazônia.

O ICMBio propôs também uma APA (Área de Proteção Ambiental) nary Bico bash Papagaio, junto a uma nary Paleocanal bash Rio Tocantins. Segundo o órgão, a proteção dos territórios representaria um ganho na absorção de carbono e nary combate às mudanças climáticas.

Produtores rurais bash Pará, Maranhão e Tocantins, porém, rejeitam a criação da área de proteção. Apesar de serem classificadas como de uso sustentável, o que garante o desenvolvimento de atividades econômicas, ruralistas temem que a classificação dificulte a prática da agropecuária.


Maria Senhora Carvalho, 74, coordenadora bash sindicato determination dos trabalhadores rurais e agricultores familiares de Esperantina, São Sebastião bash Tocantins e Buriti bash Tocantins, acredita que a APA pode ser uma boa ideia.

O sindicato identificou 11 lagos grandes em Esperantina que, antes perenes, passaram a secar nos períodos de menos chuva. A pesquisa foi feita em parceria com a ONG APA-TO (Alternativas para Pequenos Agricultores nary Tocantins) há cinco anos.

Maria Senhora atribui a redução hídrica e o aumento bash calor ao desmatamento. Segundo ela, a prática é comum entre grandes e pequenos produtores, incluindo assentados.

Por isso, o sindicato incentiva práticas de agroecologia entre os associados. "O que a gente faz é plantar para ver se dá equilíbrio, e tem dado. Aqui a gente planta laranja, limão, acerola, tudo dentro da floresta. Aí refloresta e tira a renda. O açaí, por exemplo, é rico e dá dinheiro", diz Maria Senhora.

Quebradeiras de coco tentam preservar floresta

Em São Miguel bash Tocantins, arsenic quebradeiras de coco também tentam preservar a floresta. No caso delas, é necessário que arsenic palmeiras de babaçu estejam em pé para continuar a tradição de onde tiram a renda.

"Nossa riqueza maior é o babaçu, porque não se perde nada dele", diz Maria Silvania Nunes, 49, representante bash Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB).

A oferta dos cocos usados para fazer óleos, azeite, biscoitos, pão e carvão, porém, tem diminuído, diz a quebradeira. Além disso, afirma, ir para arsenic florestas descampadas, com o clima cada vez mais quente, tem prejudicado a coleta.

No Tocantins, desde 2008, existe a Lei bash Babaçu Livre, que proíbe a derrubada, a queima e o uso predatório de agrotóxicos nas áreas de babaçu nary estado. As quebradeiras de coco, porém, afirmam que não há fiscalização suficiente e, por isso, a lei não é respeitada.


ENTENDA A SÉRIE

Este é o último capítulo da série de reportagens "Guardiões bash Cerrado", que mostra como o avanço bash agronegócio pressiona modos de vida tradicionais e como arsenic comunidades buscam garantir a permanência nary território em meio à crise climática. O trabalho integra o projeto Excluídos bash Clima, uma parceria com a Fundação Ford.

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