
Crédito, AFP via Getty Images
- Author, Leonardo Lichote
- Role, Do Rio de Janeiro para a BBC News Brasil
Há 12 minutos
Tempo de leitura: 6 min
Foram muitas as emoções desde 1974, quando foi ao ar a primeira edição de um especial de fim de ano de Roberto Carlos. Em meio a elas, mudanças de formatos, convidados inusitados, interrupções por motivos de força maior.
Destacamos aqui cinco curiosidades da história dessa tradição que segue viva — este ano com gravações em Gramado e participações de Sophie Charlotte, Fafá de Belém, Jorge Ben, João Gomes e Supla.
1. "A mamãe de mamãe"
No início, entre 1974 e 1979, o especial do Rei ia muito além do formato do show, incorporando esquetes, convidados de outros programas da Globo e diferentes recursos dramatúrgicos.
Já na primeira edição, a presença do ator Paulo Gracindo declamando a letra de Não quero ver você triste — enquanto Roberto o acompanhava ao violão — transformou a canção em texto teatral.
Em 1976, Roberto encenou uma ceia de Natal na qual recebeu ídolos da velha guarda da música brasileira: Aracy de Almeida, Carlos Galhardo, Linda Batista, Moreira da Silva, Isaurinha Garcia e Orlando Silva.
Em 1979, os Trapalhões transformaram Amanhã de manhã em A mamãe de mamãe, paródia na qual o avô morre depois de uma noite de amor tórrida com a avó ("A mamãe de mamãe/ Olha as chamas das velas acesas/ E o vovô esfriando na mesa").
Na mesma edição, o rei encenou uma cena de casal com Christiane Torloni e recitou poemas de Vinicius de Moraes e Manuel Bandeira. Em meio aos números musicais, o especial era, portanto, uma espécie de teatro popular televisivo.
2. O Rei ao ar livre
Entre mais de cinco décadas de especiais de fim de ano, Roberto Carlos só levou o programa para fora do estúdio e de teatros fechados em quatro ocasiões. Em 1977, o especial foi gravado na Concha Acústica da Uerj, no Rio de Janeiro, diante de mais de 12 mil pessoas.
O roteiro misturava canções do próprio Roberto, como Se você pensa e Amada amante, com clássicos da MPB (Ponteio, Wave, Travessia) e um bloco inusitado em homenagem a Elvis Presley, ao lado de Erasmo Carlos, ambos vestidos com macacões ao estilo do ídolo americano.
Em 2010, o especial foi transmitido ao vivo da praia de Copacabana, com estrutura de megashow e convidados populares como Paula Fernandes e Exaltasamba, assumindo o formato de espetáculo de massa em espaço público.
No ano seguinte, 2011, Roberto protagonizou um programa fora do circuito tradicional: gravado em Jerusalém, no Sultan's Pool, cenário histórico ao ar livre, o programa apostou numa imagem mais solene e internacionalizada do cantor. Mas esse não era o especial de Natal, tendo sido exibido no fim do ano apenas como reprise, em 2020.
Já em 2024, o especial celebrou seus 50 anos ao ser gravado no Allianz Parque, em São Paulo, com linguagem de show de estádio, telões e plateia monumental, transformando o ritual televisivo em evento pop de grande porte.

Crédito, TV Globo / Zé Paulo Cardeal
3. Silêncios
Desde 1974, houve apenas dois anos em que não houve especial inédito de Roberto Carlos no fim do ano — duas exceções que dizem muito do peso simbólico do programa.
A primeira foi em 1999. Naquele ano, o especial não foi exibido em razão do delicado estado de saúde de Maria Rita, mulher do cantor, que enfrentava um câncer avançado e morreria em dezembro. A tradição foi interrompida pela primeira vez, e por um motivo pessoal muito direto, expondo o quanto o programa sempre esteve atrelado à biografia e ao tempo emocional de seu protagonista.
A segunda quebra aconteceu em 2020, em meio à pandemia de covid-19. Por sugestão do próprio Roberto, a Globo optou por não mobilizar grandes equipes num momento de risco sanitário. Para manter o encontro anual com o público, a emissora reprisou o show gravado em Jerusalém, em 2011.
Em mais de 50 anos, foram apenas esses dois silêncios — ambos provocados por circunstâncias extraordinárias, que ajudaram a reforçar que o programa, mais do que um evento automático, tem um caráter ritual, familiar, sujeito às circunstâncias da vida da família Brasil e de seu Rei.
4. Participações internacionais
Ao longo de cinco décadas, o especial de fim de ano de Roberto Carlos sempre foi um espelho bastante doméstico da música popular brasileira. Por isso mesmo, as participações internacionais no palco do Rei são raras — e, quando acontecem, ganham status de destaques.
A primeira dessas ocasiões se deu em 1978, quando Roberto dividiu o palco com o cantor e pianista americano Freddy Cole, num dueto em For once in my life, sucesso na voz de Stevie Wonder.
Depois disso, o especial passou décadas sem repetir a experiência. Em 2016, o programa exibiu o dueto do Rei com Jennifer Lopez, em Chegaste, gravado em Los Angeles.
No ano seguinte, 2017, o especial entrou de vez no clima do pop global ao receber no palco a panamenha Erika Ender, que cantou o megahit Despacito — do qual ela é uma das autoras — ao lado de Roberto, com direito à participação de percussionistas e passistas da Beija-Flor de Nilópolis.

Crédito, TV Globo/Estevam Avellar
Em 2018, foi a vez do espanhol Alejandro Sanz, num encontro que reforçava o diálogo latino do repertório romântico, cantando Esa mujer.
Já em 2024, na edição comemorativa de 50 anos, o tenor italiano Andrea Bocelli foi um dos convidados, num dueto com Roberto em L'appuntamento, versão de Sentado à beira do caminho.
O dado curioso é que, apesar de dividir palcos e gravações com Roberto ao longo da carreira, nomes óbvios do imaginário latino romântico — como Julio Iglesias — nunca participaram do programa anual. No especial de Roberto, o internacional sempre foi exceção, não regra.
5. Se o Rei dança, eu danço

Crédito, TV Globo / Márcio de Souza
Diferentemente do pagode, do axé e do sertanejo, o funk levou tempo para atravessar a porta do programa de fim de ano de Roberto Carlos. Mesmo depois de se consolidar como fenômeno popular e dominar rádios, bailes e a indústria fonográfica ao longo dos anos 1990, o ritmo só foi aparecer de forma explícita no especial a partir dos anos 2000, dando início a um processo lento de legitimação.
A estreia foi em 2006, quando Roberto dividiu o palco com MC Leozinho em Ela só pensa em beijar, hit absoluto daquele ano. O momento marcou que o gênero ganhava chancela no palco mais tradicional da TV brasileira.

Crédito, TV Globo / Paulo Belote
Seis anos depois, em 2012, o gênero avançaria um passo: Roberto lançou e apresentou Furdúncio, parceria sua com Erasmo Carlos classificada como funk melody, sinalizando não apenas abertura, mas apropriação estética.
Em 2013, o funk voltou em chave pop, com Anitta cantando Show das poderosas em diálogo com Se você pensa.
Ludmilla reforçou esse lugar ao se apresentar com o Rei em 2015, cantando seu hit Hoje — na qual Roberto se destacou cantando apenas a palavra "gostoso". Eles fizeram um dueto também em Café da manhã, sucesso do anfitrião.

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