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Cotribá vende ativos e traz novo CEO para enfrentar crise

Com sede em Ibirubá, no norte gaúcho, a Cooperativa Agrícola Mista General Osório (Cotribá) atravessa um período delicado em sua trajetória centenária. Produtores associados relatam atrasos nos pagamentos da venda de soja desde maio e confirmam que parte dos compromissos vem sendo quitada apenas de forma parcelada, à medida que a entidade se desfaz de ativos como armazéns e postos de combustíveis. Apesar das dificuldades, ainda prevalece a expectativa de que os valores serão pagos, em um processo que deve exigir tempo e ajustes internos.   Dados fiscais recentes da própria Cotribá sustentam o cenário de atenção sobre a liquidez da cooperativa. Segundo o balanço auditado de 2024, o patrimônio líquido consolidado caiu de R$ 237,7 milhões em 2023 para R$ 174,5 milhões, enquanto o auditor fez ressalva sobre a classificação de dívidas de curto prazo, indicando que algumas obrigações podem estar subavaliadas.   LEIA MAIS: Governo publica MP que libera R$ 12 bilhões para renegociação de dívidas de produtores rurais   A Cotribá reúne 9,5 mil associados, 1,4 mil funcionários e mais de 30 mil clientes, movimentando negócios que vão de armazenagem de grãos a supermercados, postos de combustíveis e indústria de rações. O tamanho da operação ajuda a dimensionar a relevância do momento vivido pela cooperativa, que já anunciou a criação de um comitê de reestruturação e a contratação de um novo executivo para conduzir mudanças na gestão.   Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ibirubá e produtor de grãos, Leonir Fior confirma ter valores a receber da cooperativa. Ele afirma que recebeu parte do valor referente à produção entregue no início do ano, mas que os pagamentos ficaram irregulares a partir de maio. “Eu mesmo tenho produto a receber. Sei que vou receber, mas o problema é que o agricultor precisa do recurso agora para fazer a próxima safra”, relatou.   Segundo ele, praticamente todos os associados do sindicato local também mantêm negócios com a Cotribá e têm buscado orientação diante do quadro.   A dificuldade financeira está relacionada, em parte, ao modelo de custeio das lavouras. Muitos produtores que já não dispõem de limite de crédito bancário recorrem à cooperativa para financiar insumos. A liquidação das dívidas se dá por meio da entrega da produção, mas sucessivas frustrações de safra na região – com excesso de chuvas em um ciclo e estiagens nos anos seguintes – comprometeram a capacidade de retorno, descapitalizando a Cotribá.   Para recompor o caixa, a cooperativa iniciou a venda de patrimônio. Nos últimos 40 dias, confirmou a negociação de postos de combustíveis e de unidades de recebimento de grãos. Fontes do setor indicam que novas alienações estão em estudo. Produtores ouvidos pela reportagem afirmam que a dívida com associados é “expressiva”, mas reforçam não haver temor de calote, e sim preocupação com o ritmo dos pagamentos.   Em meio ao processo, a Cotribá anunciou a contratação de Luís Felipe Maldaner como seu primeiro CEO. Ex-executivo do Banco do Brasil e do Badesul, ele foi escolhido para liderar a reestruturação, com foco em gestão e finanças. Maldaner atendeu à reportagem do Jornal do Comércio por telefone enquanto retornava de carro ao Rio Grande do Sul para assumir a função nesta quarta-feira (17). Ele disse, porém, que não comentaria números ou diagnósticos antes de conhecer os detalhes internos, mas reconheceu a existência de uma situação delicada a ser atacada.   Segundo a cooperativa, caberá exclusivamente ao novo CEO tratar publicamente do tema a partir de agora — medida que reforça a centralização da condução da crise e sinaliza a importância do movimento de profissionalização da gestão.     A Cotribá em números

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Com sede em Ibirubá, no norte gaúcho, a Cooperativa Agrícola Mista General Osório (Cotribá) atravessa um período delicado em sua trajetória centenária. Produtores associados relatam atrasos nos pagamentos da venda de soja desde maio e confirmam que parte dos compromissos vem sendo quitada apenas de forma parcelada, à medida que a entidade se desfaz de ativos como armazéns e postos de combustíveis. Apesar das dificuldades, ainda prevalece a expectativa de que os valores serão pagos, em um processo que deve exigir tempo e ajustes internos.

Dados fiscais recentes da própria Cotribá sustentam o cenário de atenção sobre a liquidez da cooperativa. Segundo o balanço auditado de 2024, o patrimônio líquido consolidado caiu de R$ 237,7 milhões em 2023 para R$ 174,5 milhões, enquanto o auditor fez ressalva sobre a classificação de dívidas de curto prazo, indicando que algumas obrigações podem estar subavaliadas.

A Cotribá reúne 9,5 mil associados, 1,4 mil funcionários e mais de 30 mil clientes, movimentando negócios que vão de armazenagem de grãos a supermercados, postos de combustíveis e indústria de rações. O tamanho da operação ajuda a dimensionar a relevância do momento vivido pela cooperativa, que já anunciou a criação de um comitê de reestruturação e a contratação de um novo executivo para conduzir mudanças na gestão.

Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ibirubá e produtor de grãos, Leonir Fior confirma ter valores a receber da cooperativa. Ele afirma que recebeu parte do valor referente à produção entregue no início do ano, mas que os pagamentos ficaram irregulares a partir de maio.

Eu mesmo tenho produto a receber. Sei que vou receber, mas o problema é que o agricultor precisa do recurso agora para fazer a próxima safra”, relatou.

Segundo ele, praticamente todos os associados do sindicato local também mantêm negócios com a Cotribá e têm buscado orientação diante do quadro.

A dificuldade financeira está relacionada, em parte, ao modelo de custeio das lavouras. Muitos produtores que já não dispõem de limite de crédito bancário recorrem à cooperativa para financiar insumos. A liquidação das dívidas se dá por meio da entrega da produção, mas sucessivas frustrações de safra na região – com excesso de chuvas em um ciclo e estiagens nos anos seguintes – comprometeram a capacidade de retorno, descapitalizando a Cotribá.

Para recompor o caixa, a cooperativa iniciou a venda de patrimônio. Nos últimos 40 dias, confirmou a negociação de postos de combustíveis e de unidades de recebimento de grãos. Fontes do setor indicam que novas alienações estão em estudo. Produtores ouvidos pela reportagem afirmam que a dívida com associados é “expressiva”, mas reforçam não haver temor de calote, e sim preocupação com o ritmo dos pagamentos.

Em meio ao processo, a Cotribá anunciou a contratação de Luís Felipe Maldaner como seu primeiro CEO. Ex-executivo do Banco do Brasil e do Badesul, ele foi escolhido para liderar a reestruturação, com foco em gestão e finanças. Maldaner atendeu à reportagem do Jornal do Comércio por telefone enquanto retornava de carro ao Rio Grande do Sul para assumir a função nesta quarta-feira (17). Ele disse, porém, que não comentaria números ou diagnósticos antes de conhecer os detalhes internos, mas reconheceu a existência de uma situação delicada a ser atacada.

Segundo a cooperativa, caberá exclusivamente ao novo CEO tratar publicamente do tema a partir de agora — medida que reforça a centralização da condução da crise e sinaliza a importância do movimento de profissionalização da gestão.

A Cotribá em números

  • Fundação: 1911, em Ibirubá (RS)

  • Associados: 9,5 mil

  • Funcionários: 1,4 mil

  • Clientes ativos: 31 mil

  • Estrutura: 29 unidades de armazenagem, 25 lojas agropecuárias, 5 postos de combustíveis, 4 supermercados, 1 indústria de rações e 1 centro comercial

  • Situação financeira: estimados R$ 100 milhões em dívidas com vencimento no curto prazo

  • Movimento recente: venda de postos de combustíveis e unidades de recebimento de grãos para recompor o caixa

  • Gestão: criação de Comitê de Reestruturação e contratação do primeiro CEO, Luís Felipe Maldaner, ex-executivo do Banco do Brasil e do Badesul

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