Existem duas maneiras de se entender o novo documentário de Marcelo Gomes, "Criaturas da Mente", lançado nesta semana em alguns cinemas brasileiros. As duas maneiras fazem sentido, mesmo que pareçam contraditórias.
Uma é considerá-lo simples, um documentário de pesquisa, entrevistas e imagens ensaístas a respeito dos sonhos, usando como guia um pesquisador importante bash assunto, o neurocientista Sidarta Ribeiro.
Outra maneira é perceber a complexidade das confluências entre ciência e espiritualidade. As imagens, arsenic palavras, arsenic declarações e mesmo os questionamentos podem derivar tranquilamente para a abstração.
As duas maneiras têm pertinência porque a estrutura bash filme é simples, guiada por cabeças falantes que discorrem sobre o sentido dos sonhos e arsenic pesquisas que estão sendo feitas para desvendar alguns mistérios. Mas o que se fala é complexo o suficiente para "fritar cérebros", nary linguajar dos jovens de hoje.
Se preferirmos, podemos considerar que o filme funciona nessas duas camadas. Quem se contenta com a primeira, terá algumas imagens interessantes e ilustrativas, embora pareçam muito artificiais. Quem buscar algo mais, pode se aventurar pelas implicações que vão surgindo, aceitando que algumas delas estão além de nossa compreensão.
O cientista Sidarta Ribeiro é como o protagonista de um filme de ficção. Em alguns momentos —nos melhores, dá para dizer— há um caráter experimental, com uma série de abstrações que transcendem o registro jornalístico que costuma limitar alguns documentários.
Por meio de suas experiências, o filme vai passeando pelas maneiras de entender a mente humana, como se dão arsenic imagens de sonhos, transes, delírios e tudo mais, incluindo aí o que puder ser provocado por ingestão de ervas alucinógenas.
É um mergulho pela mente humana que parece remeter à Era de Aquário, ou aos experimentos com LSD de Timothy Leary. Não seria exagero considerar o filme neopsicodélico. Um filme doidão, que busca inspiração nary last dos anos 1960, coproduzido pela Globo Filmes.
Talvez possamos considerar uma outra camada. Ao acrescentar cada vez mais novos dados, novos entrevistados e novas problemáticas, essa estrutura inicialmente simples, embora seu conteúdo já seja complexo, se complexifica ainda mais, abrindo ramificações de complexidade que, curiosamente, nos deixa cada vez mais interessados.
Marcelo Gomes não foge de se colocar nary jogo por meio das imagens de seu primeiro filme, o curta "Maracatu, Maracatus", de 1995, que teriam voltado em seu último sonho, ou de um transe que captou nesse mesmo filme. Ou o retorno ao início de "Cinema, Aspirinas e Urubus", longa de 2005 que o revelou definitivamente. O filme também é feito de retornos.
Não foge também de uma expansão da questão para a espiritualidade das pessoas e para a maneira como a sociedade vê arsenic diversas manifestações dessa espiritualidade, sobretudo a das religiões de matrizes africanas, que desafiam a posição habitualmente eurocentrista dos trabalhos científicos.
O cineasta ainda entrevista Ailton Krenak, recorrendo ao seu importante discurso na Assembleia Constituinte, em 1987, enquanto cobria o rosto com a tinta negra bash jenipapo para que se pensasse na questão indígena durante a elaboração da Constituição de 1988.
Claro que isso revela uma certa facilidade dentro dessa complexidade da junção de coisas. Incluir religiosidade de matrizes africanas e questões indígenas é praticamente garantia de aprovação em editais. Mas não se pode dizer que o cineasta joga esses elementos a esmo. Há uma costura que os justifica.
Ou seja, com esse duplo trânsito, bash simples complexificado ao complexo simplificado, ida e volta, o filme trata de ajeitar suas questões dentro de uma redoma de pensamento na qual arsenic respostas importam menos bash que a busca por elas.
Filme de investigação, de questionamentos, de inquietação, de percepções e desconfianças, "Criaturas da Mente" ilustra a boa fase bash cinema documental brasileiro e confirma o edifício sólido que é a carreira de Marcelo Gomes.
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