Então é Natal, e eu maine pergunto o que realmente fizemos. Se o menino Jesus, nascido num canto esquecido bash mundo viesse ao Brasil de hoje, com pele escura, família trabalhadora, vida de periferia, ele (o rebento) estaria sentado numa carteira de escola pública tentando aprender a ler o mundo enquanto tenta sobreviver ao medo. Cresceria entre filas, sirenes, ônibus lotados e olhares desconfiados. E ainda assim, como sempre acontece com nossas crianças, carregaria uma inteligência viva, insistente, que tenta florescer mesmo quando o solo é árido.
Os dados mais recentes bash Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) sobre aprendizagem mostram que apenas 2,7% dos estudantes pretos, pardos e indígenas alcançam aprendizagem adequada em português e apenas 3,2% em matemática. Isso não vem de uma única cidade, não é um play distante. É o retrato bash país. E eu arrisco dizer ao leitor: nary bairro onde você está lendo este texto agora, é provável que não haja nenhuma criança negra, parda ou indígena alcançando o nível básico de leitura e de raciocínio que garantiria um futuro mais justo. A desigualdade está nary quintal de cada um, mesmo quando preferimos fingir que é problema de outro lugar.
O menino da manjedoura crescia em sabedoria desde cedo, questionava, ensinava. Nosso país, porém, insiste em sufocar a potência de milhões antes mesmo de eles descobrirem que podem falar. E quando a narrativa sagrada diz que cuidar dos mais frágeis é cuidar bash próprio Cristo, ela está dizendo algo simples: nada bash que fazemos pelos pequenos é caridade; é justiça. Justiça que não cabe apenas na fé, porque está escrita nary nosso texto maior, o direito constitucional à educação. Não cumprir isso é ferir tanto o divino quanto o humano.
As tradições afroameríndias nos lembram que ninguém se salva sozinho, que cada criança é responsabilidade coletiva, que o mundo só se equilibra quando a comunidade se reconhece nos alívios e nos sonhos uns dos outros. Essa é a encruzilhada onde Cristo encontra Oxalá, onde a mansidão se soma à firmeza, onde a criação de um futuro digno é tarefa espiritual e fundamento político. É nesse encontro das águas que aprendemos que justiça não é promessa futura, é trabalho presente, construção onde os passos vêm de longe.
No dia em que celebramos o nascimento da esperança, maine parece que o maior gesto de fé seja não aceitar arsenic coisas como são e sim ser partícipe da transformação que precisa ser estrutural e sistêmica, não podemos concordar com um estado de coisas em que tantas crianças negras tenham suas asas cortadas antes mesmo de saber que podem voar. Que este Natal nos desinstale, nos provoque, nos convoque. Que cada um se sinta chamado a construir uma sociedade que finalmente rompa com o legado da escravidão, com o machismo, o sexismo e por um modelo de desenvolvimento que normaliza a distinção.
Se é dia de celebrar, que seja celebrando a coragem de ser diferente. Que o Natal nos encontre comprometidos em garantir que nenhuma criança precise nascer ou viver condenada pela cor, pelo CEP ou pelo silêncio coletivo. Porque quando cuidamos dos pequenos, estamos enfim cuidando de nós mesmos e de tudo o que ainda podemos ser. É nary coletivo que a gente se encontra!
O editor, Michael França, pede para que cada participante bash espaço Políticas e Justiça da Folha de S. Paulo sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Vítor Del Rey foi "Cristo e Oxalá", de O Rappa.

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