Diddy é um homem negro. Ele usa um terno preto listrado com uma camisa branca por baixo

Crédito, Reuters

Legenda da foto, O rapper Diddy é acusado de tráfico sexual de mulheres e de extorsão
    • Author, Madeline Halpert
    • Role, BBC News, Nova York
  • Há 25 minutos

Os promotores de Nova York estão prestes a encerrar o caso no julgamento federal por tráfico sexual e extorsão contra o rapper Sean "Diddy" Combs, que já dura várias semanas.

Diddy admitiu ter cometido violência doméstica, mas se declarou inocente das acusações da promotoria, algumas das quais se baseiam em leis originalmente criadas para combater chefões da máfia.

A defesa ainda não apresentou seus argumentos — os advogados de Diddy disseram que isso levará apenas alguns dias.

Enquanto isso, os promotores convocaram mais de 30 testemunhas, incluindo a ex-namorada de Diddy, a cantora Cassandra Ventura, o rapper Kid Cudi, que já namorou Ventura, além de assistentes, seguranças de hotel e outras pessoas que testemunharam os abusos cometidos por Diddy.

Especialistas jurídicos afirmam que os depoimentos ajudaram os promotores a apresentar um caso convincente para o painel de 12 jurados — mas uma condenação por todas as acusações ainda está longe de ser garantida.

Aqui estão alguns pontos-chave do caso e as potenciais fragilidades nos argumentos da promotoria.

Cassie e 'Jane' ajudaram a construir o argumento de tráfico sexual

Grávida de oito meses e muitas vezes falando em meio a lágrimas, Cassie relatou que Diddy a espancava e a coagia a participar de encontros sexuais em que ela era obrigada a fazer sexo com garotos de programa, enquanto ele a filmava.

Promotores alegam que Diddy usava drogas, violência e manipulação para pressionar várias mulheres a participar de encontros sexuais indesejados com garotos de programa.

Cassie usa uma vestido branco. Ao lado dela está Diddy, de terno preto

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Ex-namorada de Diddy, Cassie Ventura relatou ter vivido 11 anos de um relacionamento abusivo

O depoimento de Cassie, feito a poucas semanas de dar à luz, foi crucial para o argumento da promotoria de que Diddy cometeu tráfico sexual, uma acusação que pode levar à prisão perpétua.

Uma das evidências mais fortes inclui uma gravação de vídeo de Diddy batendo em Cassie no corredor de um hotel durante um desses encontros sexuais, e o depoimento do segurança do hotel, que disse que o rapper ofereceu a ele dinheiro para se livrar das fitas de gravação.

Os promotores também exibiram fotos de vários machucados da cantora, supostamente causados pelos abusos.

Cassie não foi a única ex-namorada de Diddy a depor. Os advogados também convocaram "Jane", que falou sob pseudônimo, e compartilhou histórias semelhantes sobre como ela também foi pressionada a participar desses encontros sexuais, que ela chamava de "noites de hotel".

Várias pessoas na rua

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Legenda da foto, Julgamento de Diddy já dura várias semanas e tem ganhado destaque na imprensa

Mensagens carinhosas que Cassie e "Jane" enviaram para Diddy, incluindo algumas em que elas demonstravam interesse em participar de atos sexuais, também foram exibidas para os jurados.

"O público está ficando cada vez mais consciente sobre a violência doméstica e sobre o fato de que mulheres podem se sentir obrigadas a permanecer em relacionamentos abusivos", disse Jennifer Biedel, ex-procuradora do Distrito Sul de Nova York.

Mas, a mistura de mensagens de amor e alegações de coerção pode, em alguns casos, ser difícil para o júri compreender, segundo Biedel.

O caso de Diddy "pode não ser tão claro quanto o júri gostaria que fosse", afirmou.

Para complicar ainda mais, os promotores perderam uma suposta terceira vítima, que eles esperavam que testemunhasse.

Neama Rahmani, ex-procurador federal, afirmou que perder uma suposta vítima pode prejudicar o caso, pois a acusação se beneficia de múltiplos depoimentos.

"Os jurados podem não acreditar em uma vítima, mas é muito difícil não acreditar em várias", ele explicou.

Existência de uma "empresa criminosa"

Diddy enfrenta uma acusação igualmente séria de extorsão, com os promotores alegando que ele contava com a lealdade de seus funcionários para comandar uma "empresa criminosa" e facilitar os abusos de mulheres, além de encobrir suas condutas.

A Lei de Organizações Influenciadas e Corruptas por Extorsão (RICO) foi originalmente criada para combater os chefes da máfia, mas desde então tem sido usada em outros casos, incluindo o julgamento de tráfico sexual do cantor R. Kelly, que foi condenado.

Durante o julgamento, os promotores colheram depoimentos dos funcionários de Diddy sobre como organizavam os encontros sexuais, faziam uma limpeza após os encontros e traziam drogas.

O governo também acusou Diddy the usar essa organização criminosa para cometer um incêndio. Em depoimento, o rapper Kid Cudi disse que Diddy colocou fogo em seu Porsche porque estava furioso sobre seu relacionamento com Cassie.

Kid Cudi é um homem negro. Ele está usando uma jaqueta preta

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Legenda da foto, Em depoimento, Kid Cudi disse que Diddy colocou fogo em um carro após ficar irritado com sua ex-namorada Cassie

Segundo Biedel, pode ser mais fácil para os promotores provarem os elementos de tráfico sexual do que os de extorsão, por causa das inúmeras partes técnicas do estatuto de extorsão, incluindo o envolvimento de outras pessoas e entidades.

"É difícil simplificar conceitos legais complexos para uma linguagem em que pessoas de diferentes contextos entendem", acrescentou.

Mas se os jurados já tiverem concluído que Diddy é "um cara mau", eles podem estar menos propensos a absolvê-lo só por causa de um elemento específico de uma acusação legal, disse Mitchel Epner, advogado e ex-procurador.

"Na minha experiência, o júri tende a se apegar a uma história e depois alinha os fatos para combinar com essa história, disse Epner.

A defesa: será que Diddy vai depor?

Os advogados de Diddy enfrentam um dilema: deixar ou não seu cliente a depor. Nesta semana, os advogados disseram que eles não convocariam nenhuma testemunha, o que significa que o magnata da música não deve depor.

Se testemunhasse, o caso inteiro poderia se resumir às suas declarações, segundo especialistas jurídicos.

Esse tipo de situação seria um risco para o rapper, já que ele teria que responder a muitas acusações de violência e incidentes em que foi filmado.

Em julgamentos criminais, réus de alto perfil normalmente evitam depor para não se expor a interrogatórios da promotoria.

Durante os contra-interrogatórios das testemunhas do governo, os advogados de Diddy obtiveram algumas vitórias, segundo os advogados.

No depoimento de "Jane", por exemplo, tentaram retratá-la como alguém que, em certos momentos, aparecia agir com autonomia no relacionamento com Diddy, explicou o advogado Mitchell Epner.

Para Biedel, a defesa dificilmente tentaria desacreditar as várias testemunhas individuais que depuseram sobre a má conduta já admitida pelo rapper. Em vez disso, a estratégia dos advogados deve ser atacar a acusação de uma conspiração maior envolvendo tráfico sexual e extorsão.

"A promotoria apresentou um conjunto de fatos realmente convincentes, que será difícil de contestar", diz. "Então, eu acho que a defesa vai focar em demonstrar se esses fatos atendem aos requisitos legais das acusações."