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Entenda como o governo Trump se tornou sócio da Intel

A compra, no entanto, foi feita com um dinheiro que a Intel já receberia do governo dos Estados Unidos.

O investimento total de US$ 11,1 bilhões está dividido dessa forma:

  • US$ 5,7 bilhões em subsídios previstos pela Lei Chips, aprovada no governo Biden, ainda não pagos à empresa;
  • US$ 3,2 bilhões de um subsídio relacionado ao programa Secure Enclave, também da era Biden, ainda não pago à empresa;
  • Outros US$ 2,2 bilhões em subsídios da Lei Chips que a Intel já recebeu do governo americano.

O governo também obteve desconto de 17,5% na compra. As ações da Intel, que valiam US$ 24,80 no fechamento da sexta-feira, foram adquiridas por US$ 20,80 cada uma, segundo a Reuters.

🔍O que foi a Lei Chips? Aprovada durante o mandato de Biden, a Lei Chips destinou US$ 52 bilhões em incentivos para a indústria de chips impulsionar a produção de semicondutores no país.

Donald Trump na Casa Branca — Foto: AP Photo/Evan Vucci

Trump afirmou que os EUA “não pagaram nada” pelas ações, já que usaram subsídios como moeda de troca. Segundo ele, o acordo surgiu durante uma reunião sua com o CEO da Intel, Lip Bu Tan, dias depois de o próprio Trump ter pedido a renúncia do executivo devido a ligações com a China.

Em comunicado, a Intel classificou o acordo como “histórico” e disse que ele mostra a confiança do governo na empresa e em seu papel estratégico na indústria de semicondutores. A fabricante também informou que o governo será um acionista passivo, sem direito a voto no conselho nem acesso a informações internas.

As ações da Intel fecharam em alta de 5,5% na sexta-feira com a notícia da participação acionária do governo, mas caíram 1% nas negociações pós-mercado, após a empresa detalhar os termos do acordo.

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Estamos passando de uma economia puramente capitalista para uma economia muito mais engajada pelo Estado. Isso é uma mudança enorme para os EUA. Nunca vi uma era como esta”, disse Bill George, ex-CEO da Medtronic e pesquisador da Harvard Business School, à Reuters.

Nos últimos anos, a Intel passou por problemas de gestão e perdeu sua liderança no setor de fabricação de chips para a TSMC, de Taiwan. Além disso, também foi superada pela Nvidia na corrida por chips de inteligência artificial.

A fabricante, no entanto, ainda possui uma reserva de caixa de US$ 9 bilhões e um valor de mercado de US$ 105 bilhões.

Segundo a Reuters, um documento regulatório da Intel informou, na segunda-feira (25), que a presença do governo como acionista pode prejudicar as vendas internacionais, dificultar a obtenção de novos subsídios e sujeitar a empresa a mais regulamentações em outros países.

A participação também reduziria a influência de voto de outros acionistas, pois os poderes do governo sobre regulamentações que afetam a Intel limitariam a capacidade da empresa de buscar transações em benefício dos sócios, segundo o documento obtido pela agência.

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Investimento ou intervenção?

As fabricantes de chips Nvidia e AMD também concordaram, neste mês, em pagar 15% da receita de suas vendas na China ao governo dos EUA.

Outro exemplo foi a recente venda da siderúrgica americana US Steel para a japonesa Nippon Steel, em um acordo que garantiu ao governo dos EUA a 'golden share', que dá amplo poder de veto sobre decisões corporativas da US Steel e o direito de nomear um membro do conselho.

Houve também o anúncio, em julho, de que o governo dos EUA se tornaria o maior acionista da única mina de terras raras em operação nos país, de propriedade da MP Materials.

"A gestão Trump está realmente adotando uma visão ampla do que é possível em termos de intervenções do governo dos EUA no setor privado e forçando muito os limites", afirmou à DW Geoffrey Gertz, pesquisador sênior do Centro para uma Nova Segurança Americana, de Washington.

Ele descreveu as medidas como "incomuns" e fez uma distinção entre as políticas que estimulam setores inteiros e a estratégia direcionada de Trump, que fecha acordos pontuais com empresas específicas.

"Essa é uma abordagem bem diferente de estabelecer padrões ou diretrizes de política industrial para todo o setor."

No entanto, essa abordagem de Trump também recebeu apoio, especialmente quando se trata de setores considerados estrategicamente importantes na rivalidade entre os EUA e a China, como semicondutores e terras raras.

"A Intel é mais do que apenas uma empresa, e acho que a decisão de investir deve ser aplaudida", disse à DW Sujai Shivakumar, Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, de Washington.

"É hora de entender que esse tipo de política industrial é a norma nas economias avançadas, e que os governos estão fornecendo essa forma de apoio amplo. Se nos agarrarmos a esse mito de um mercado puro aqui nos EUA, corremos o risco de perder terreno em um dos setores mais estratégicos do século", acrescentou.

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