Smartwatches que prometem medir a glicose no sangue estão à venda no mercado brasileiro, mas a Anvisa alerta que esses dispositivos não têm comprovação de eficácia e podem colocar o usuário em risco. A agência proibiu a venda, importação, distribuição, propaganda e uso desse tipo de relógio após constatar que nenhum deles tem validação clínica para medir glicemia. Mesmo assim, alguns modelos continuam circulando em marketplaces brasileiros e sendo oferecidos como falsa solução para controle do diabetes.
A Sociedade Brasileira de Diabetes e profissionais de saúde não recomendam o uso desses aparelhos, afirmando que as medições não são confiáveis e podem induzir os usuários a tomar decisões perigosas sobre o controle do açúcar no sangue. Além dos relógios, a Anvisa também proibiu anéis que fazem a mesma promessa de leitura não invasiva da glicose, reforçando que nenhum dispositivo desse tipo tem evidência científica que garanta segurança ao consumidor. A seguir, o TechTudo explica os riscos que esses relógios representam.
Relógio inteligente à venda no Mercado Livre promete medir glicose no sangue — Foto: Reprodução/Mercado Livre Existe smartwatch que mede glicose? Entenda a verdade antes de comprar
No índice abaixo, você confere os tópicos abordados na matéria.
- Existe smartwatch que mede glicemia?
- Por que a Anvisa proibiu a venda do smartwatch medidor de glicose?
- Como os anúncios enganam o consumidor?
- Por que medir glicose é tão difícil sem perfurar a pele?
- Quais métricas dos smartwatches são realmente úteis hoje?
Existe smartwatch que mede glicemia?
Os relógios que prometem medir glicose aparecem à venda em algumas lojas online no Brasil, mesmo sem comprovação de eficácia e sendo proibidos pela Anvisa por não oferecerem resultados cientificamente comprovados e confiáveis. Esses aparelhos imitam o design de smartwatches tradicionais, com pulseira ajustável, tela touch e a promessa de uma variedade de funções inteligentes, incluindo supostos recursos de saúde associados ao termo “monitoramento de glicose no sangue”.
As propagandas divulgadas pelas fabricantes afirmam que esses relógios oferecem monitoramento contínuo da glicose 24 horas por dia, geração automática de dados a cada 30 minutos e gráficos que indicariam níveis altos, normais ou baixos de glicemia por meio de faixas coloridas. Também mencionam o uso da técnica de Fotopletismografia (PPG), normalmente empregada apenas para aferir fluxo sanguíneo, como se fosse suficiente para medir glicose com “segurança”, sem agulha, sem dor e com “aferição precisa”.
Smartwatches (relógios inteligentes) que prometem medir glicose no sangue estão à venda no Brasil — Foto: Reprodução/Mercado Livre Em alguns anúncios, prints de aplicativos que seriam utilizados em sincronização com os relógios mostram gráficos diários de uso e afirmam que seria possível acompanhar um histórico de medições e horários detalhados da glicemia. Além disso, prometem “avaliar e exibir valores personalizados da faixa glicêmica”, com “análise simultânea e interpretação das tendências de mudança do açúcar no sangue”.
Apesar da proibição no país, esses smartwatches continuam acessíveis em marketplaces como o Mercado Livre, podendo ser encontrados a preços que variam de R$ 78 a R$ 760, com vários modelos fabricados no Brasil e no exterior, vendidos por meio de comércio nacional e internacional.
Por que a Anvisa proibiu a venda do smartwatch medidor de glicose?
A Anvisa proibiu a venda de smartwatches que prometem medir glicose no sangue após identificar a comercialização do modelo “GlicoWatch”, vendido pela plataforma online GWF Negócios Digitais Ltda. A decisão, publicada no Diário Oficial da União do dia 4 de agosto de 2025, determinou a proibição da comercialização, distribuição, importação, propaganda e uso do produto no Brasil.
Segundo a agência, esses smartwatches ainda não tiveram sua eficácia comprovada em estudos e investigações clínicas para medir glicose ou auxiliar no controle do diabetes. Por esse motivo, nenhum relógio inteligente com essa função tem registro válido no Brasil. A medida foi assinada por Marcus Aurélio Miranda de Araújo, gerente-geral de Inspeção e Fiscalização Sanitária da Anvisa.
A agência reforça que o uso desses dispositivos representa risco para pessoas que dependem de monitoramento diário e preciso dos níveis de glicose, já que os resultados fornecidos pelos relógios não têm validação científica. “Produtos sem registro não oferecem garantia de qualidade, segurança e eficácia, representando sérios riscos à saúde. Portanto, a Anvisa não recomenda a sua utilização”, diz a nota oficial.
Smartwatches que prometem medir glicose estão à venda no Brasil por preços que chegam a R$ 760 — Foto: Reprodução/Mercado Livre O médico cardiologista Audes Feitosa, professor da Pós-Graduação em Ciência da Saúde da Universidade de Pernambuco (UPE), diz que a proibição tem um fundamento simples: a glicemia não pode ser estimada com precisão pela pele.
A preocupação com esses equipamentos não é exclusiva do Brasil. Em fevereiro de 2024, a Food and Drug Administration dos Estados Unidos (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, já havia emitido alerta sobre smartwatches e anéis que alegam medir glicose sem perfurar a pele. O órgão afirmou que esses produtos podem ser perigosos e devem ser evitados, independentemente da marca, destacando que várias empresas americanas trabalham em tecnologias não invasivas, mas nenhuma alcançou resultados precisos e seguros o suficiente para aprovação.
“O uso de smartwatches e anéis inteligentes não aprovados pode resultar em medições imprecisas de açúcar no sangue, com consequências potencialmente devastadoras. Isso pode fazer com que os pacientes tomem doses erradas de medicamentos, levando a níveis perigosos de açúcar no sangue e possivelmente confusão mental, coma ou até morte”, alertou Robert Gabbay, da Associação Americana de Diabetes.
Os anéis citados pela FDA também foram proibidos no Brasil pela Anvisa, em setembro de 2025, por oferecerem a promessa de medir os níveis de glicose sem a necessidade de retirar o sangue por picadas de agulha, procedimento que não tem base científica. Assim como os relógios, alguns modelos de anéis seguem sendo comercializados no Mercado Livre por preços a partir de R$ 31.
Mercado Livre também tem anéis que prometem medir glicose no catálogo para venda — Foto: Reprodução/Mercado Livre Como os anúncios enganam o consumidor?
As estratégias usadas para enganar consumidores que buscam smartwatches capazes de medir glicose seguem um padrão conhecido no ambiente digital. Muitos anúncios exibem selos falsos de certificação, como se o produto tivesse passado por testes oficiais ou atendesse a normas técnicas inexistentes. Também é comum o uso de frases como “produto em fase de testes” ou “tecnologia prestes a ser liberada no Brasil”, afirmações que não encontram qualquer respaldo em documentos oficiais e servem apenas para dar aparência de legitimidade a equipamentos sem comprovação científica.
As peças publicitárias induzem o consumidor ao erro ao sugerirem que o relógio permitiria “ajustar a dieta, controlar o açúcar no sangue e prevenir problemas de forma eficaz com antecedência”. Outra promessa comum é a existência de um “novo algoritmo patenteado” capaz de avaliar o estado de saúde do usuário, armazenar dados no celular e fazer cálculos supostamente precisos e completos.
Em anúncios mais sofisticados, gráficos e telas de aplicativos são editados para parecerem profissionais, reforçando uma suposta precisão clínica. Essas informações costumam aparecer lado a lado com outras funções que existem em smartwatches confiáveis, como monitoramento de frequência cardíaca, pressão arterial, oxigênio no sangue e sono, o que reforça a ilusão de que a medição de glicose seria igualmente eficaz.
Anúncios de relógios inteligentes prometem medição de glicose no sangue com gráficos em apps — Foto: Reprodução/Mercado Livre Por que medir glicose é tão difícil sem perfurar a pele?
O médico Audes Feitosa diz que medir a glicose sem perfurar a pele é um dos maiores desafios da tecnologia médica moderna. Ele afirma que o procedimento, embora pareça simples, é biologicamente complexo, uma vez que fatores relacionados ao ambiente externo podem comprometer a medição precisa da glicose, o que pode levar a distorções na aferição do nível da substância.
Segundo ele, os relógios que prometem medir a glicose sem o uso do sangue precisam fazer cálculos para estimar um valor que não está, de fato, sendo medido, o que representa risco para o paciente. “Uma diferença de 20 ou 30 mg/dL pode significar dar insulina sem necessidade ou deixar de tratar uma hipoglicemia, e isso pode ser perigoso. A ciência está avançando, e esse é um sonho possível no futuro, mas no presente ainda não temos tecnologia segura a ponto de substituir sensores subcutâneos ou a tradicional gota de sangue”, acrescentou o cardiologista.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), atualmente existem três métodos não invasivos de monitorização da glicemia em estudo: os ópticos, os de micro-ondas e os eletroquímicos, mas todos ainda estão em fase de pesquisa e não chegaram a um nível de maturidade que permita uso clínico ou aprovação regulatória.
Segundo a entidade, os valores obtidos por esses métodos têm baixa correlação com a glicose real no sangue e operam em uma faixa muito estreita, o que exige correções constantes nos algoritmos. Isso torna as medições pouco confiáveis e sem comprovação científica robusta, mesmo quando testadas em grupos maiores de pacientes.
Anúncio de relógio que promete medir glicose no sangue sem furar a pele — Foto: Reprodução/Mercado Livre A SBD também destaca que alguns relógios alegam medir glicose por radiofrequência, tecnologia altamente suscetível a interferências de temperatura corporal, suor, alergias e outras variáveis que reduzem a precisão. Por isso, o órgão reforça que dispositivos não invasivos não são recomendados, já que faltam estudos que comprovem sua segurança e eficácia.
Ainda segundo a SBD, a visualização confiável da glicose por meio de equipamentos eletrônicos só é possível por meio de um sensor inserido no tecido subcutâneo do paciente, que envia os dados para um aplicativo no celular ou para os relógios inteligentes via Bluetooth. Esses dispositivos, por sua vez, espelham essas informações na tela, sem qualquer capacidade própria de aferição.
A entidade reforça que essa possibilidade é semelhante ao que ocorre em sistemas automatizados de entrega de insulina, como o Android APS e o Medtronic 780G. Ou seja, nesses casos reconhecidos pela medicina, o relógio não mede o nível de glicose, apenas mostra dados produzidos por um sensor aprovado e validado, inserido sob a pele do paciente, algo totalmente diferente dos relógios que se anunciam como capazes de medir glicemia sem agulha.
Quais métricas dos smartwatches são realmente úteis hoje?
Os smartwatches oferecem hoje um conjunto de métricas realmente úteis e com boa confiabilidade, especialmente quando utilizados como ferramentas de acompanhamento contínuo. A frequência cardíaca é a medida mais madura dos smartwatches, segundo o cardiologista Audes Feitosa, servindo bem para monitorar exercícios, estresse e a qualidade do sono. Essa função está disponível em relógios de marcas conhecidas, como o Apple Watch e o Samsung Galaxy Watch.
Já a saturação de oxigênio (SpO2) é razoavelmente boa em pessoas saudáveis, em repouso, mas não deve ser usada para diagnóstico ou acompanhamento de doenças respiratórias, segundo o especialista. O Eletrocardiograma (ECG), por sua vez, tem qualidade boa em alguns dispositivos, mas de forma simplificada. O recurso, inclusive, já ajudou a salvar a vida de alguns usuários.
Medição do preparo cardiovascular por meio do Apple Watch — Foto: Divulgação/Apple Por outro lado, a aferição da pressão arterial pelo relógio exige cautela, uma vez que nenhum smartwatch utiliza a técnica padrão (oscilométrica), aplicando somente algoritmos baseados em frequência cardíaca e variações ópticas. A bioimpedância para analisar a gordura corporal, massa magra ou retenção hídrica, na visão do médico, também é pouco confiável nesses equipamentos devido a vários fatores, como temperatura e até a posição do braço, podendo ser usada apenas como curiosidade, mas não para tomadas de decisão.
🎥 Fomos até Paris conhecer a nova linha Huawei Watch GT 6!
Fomos até Paris conhecer a nova linha Huawei Watch GT 6!

German (DE)
English (US)
Spanish (ES)
French (FR)
Hindi (IN)
Italian (IT)
Portuguese (BR)
Russian (RU)
5 dias atrás
3
/https://i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_08fbf48bc0524877943fe86e43087e7a/internal_photos/bs/2025/o/R/KJNsSQTz20lIUfg6ZwkA/ano-novo.png)
/https://i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_08fbf48bc0524877943fe86e43087e7a/internal_photos/bs/2024/A/i/AEz38iSt22k6vZA5af8g/00-abertura.jpg)
/https://i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_08fbf48bc0524877943fe86e43087e7a/internal_photos/bs/2025/I/V/Wpk00jRF2HwS6ypsWiqQ/2.jpg)
/https://i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_08fbf48bc0524877943fe86e43087e7a/internal_photos/bs/2024/M/6/cpOO7fQz6Na1Q0Y8sqRA/dff.jpg)

:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/l/g/UvNZinRh2puy1SCdeg8w/cb1b14f2-970b-4f5c-a175-75a6c34ef729.jpg)










Comentários
Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro