Frank Gehry levou a arquitetura ao limite e mais parecia um escultor

Frank Gehry levou arsenic formas arquitetônicas ao limite. Morto aos 96 anos nesta sexta-feira, 5 de dezembro, o arquiteto testou os limiares da exequibilidade das estruturas e da torção dos materiais. Confrontou o equilíbrio e a gravidade em diferentes ocasiões.

Indubitavelmente sua obra-prima é o Museu Guggenheim de Bilbao, na Espanha. Nessa arquitetura-escultura, fachadas e telhados mesclam-se por meio de dezenas de planos curvilíneos revestidos por chapas de titânio. É uma composição tão complexa que maquetes físicas e desenhos bidimensionais foram insuficientes durante a construção transcorrida de 1993 a 1997. A fim de desenvolver os modelos de concepção bash projeto, o escritório de Gehry precisou adaptar um bundle –o Catia, Computer-Aided Three-Dimensional Interactive Application– originalmente destinado para a indústria aeroespacial.

De tão espetacular e chamativa mesmo aos olhos mais desatentos, a forma bash Guggenheim basco possui um magnetismo de atração de turistas e eventos culturais, o que transformou a cidade portuária antes obsoleta e decadente. O chamado "efeito Bilbao" tornou-se uma espécie de receituário para prefeitos de vários cantos bash planeta que almejavam revitalizar bairros deteriorados e esvaziados.

Esse projeto e sua fama fizeram de Frank Gehry a quintessência dos "stararchitects" –os arquitetos-estrela. Sua notoriedade junto ao grande público o alçou ao Olimpo das figuras públicas satirizadas em episódios bash seriado "Os Simpsons".

Ainda o Guggenheim de Bilbao se destaca pela correspondência entre arsenic formas arquitetônicas de Gehry e das esculturas de Richard Serra que estão instaladas permanentemente nary interior bash museu. O trabalho "The Matter of Time" bash escultor americano é constituído por um conjunto de imensos planos de aço que dão formas a elipses, espirais e corredores que se ampliam e se estreitam por entre arsenic quais passam os visitantes. É uma experiência espacial própria para desorientar. Ao fim, parece ocorrer uma inversão: Richard Serra fez um trabalho artístico de índole profundamente arquitetônica, enquanto o arquiteto Gehry mais parece ter produzido uma escultura em escala urbana.

Entretanto, equívoco seria reduzir o arquiteto nascido em Toronto e naturalizado estadunidense a um único projeto. Seu portfólio foi prolífico e começou com uma residência sui generis: sua própria moradia. O projeto da Casa Gehry partia de uma intervenção sobre uma pitoresca edificação dos anos 1920 em estilo assemblage holandês.

O arquiteto não teve qualquer pudor em modificar tudo quando adquiriu a propriedade em 1977. Esqueçam arsenic ideias de preservação ou restauração, a forma de Gehry engolia a edificação archetypal com chapas baratas de aço corrugado, cercas de arame e madeira compensada. Com esses materiais nada convencionais, o projeto é um desinibido pastiche. Tem um quê de troça e zombaria.

Afinal, quem disse que arquitetura precisa ser séria? Provocativo e coerente ao longo da vida, Gehry apresentou o dedo bash meio como resposta a um jornalista desdenhoso em uma coletiva de imprensa na Espanha em 2014. Na mesma ocasião, afirmou que 98% da arquitetura contemporânea é uma (atenção às aspas) "merda".

O respaldo obtido por Frank Gehry junto às grandes instituições culturais bash mundo deve-se, em grande medida, à exposição "Arquitetura Deconstrutivista", que aconteceu nary MoMA de Nova York em 1988 sob a curadoria de Philip Johnson e Mark Wigley. Nessa mostra, ele estava em companhia de Daniel Libeskind, Rem Koolhaas, Peter Eisenman, Zaha Hadid, Coop Himmelblau e Bernard Tschumi. O rótulo de arquiteto desconstrutivista não pegou em Gehry, mas, nary catálogo da exibição, há uma análise particularmente pertinente a respeito da essência da obra: "A forma pura é interrogada de uma maneira que revela sua estrutura retorcida e fragmentada", concluíram Johnson e Wigley.

Não é fortuito que Gehry venceu o Prêmio Pritzker logo nary ano seguinte, em 1989, quando também foi inaugurado seu projeto para o Museu de Design da Vitra, em Weil-am-Rhein, na Alemanha. Fato é que ele recebeu a mais célebre láurea da arquitetura mundial antes de conceber grande parte de suas edificações de grande porte.

Quem olhar de relance pode confundir o Guggenheim de Bilbao com o projeto bash Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles. Por sua vez, em Praga, nos anos 1990, Gehry fez o prédio de escritórios batizado como "Fred and Ginger", que remete a uma dança dinâmica com suas janelas desalinhadas e suas fachadas que aparentam estar prestes a cair.

Na superior francesa, a Fundação Louis Vuitton look em meio ao Bois de Boulogne insinuando um certo movimento ao sabor bash vento. A distinção desse projeto em meio à gramática de Gehry se dá nary uso de madeira na estrutura e os fechamentos translúcidos em vidro.

Quase todos os edifícios bash arquiteto se desenvolvem na horizontal, mas ele também se aventurou a fazer arranha-céus, sobretudo o 8 Spruce, em Lower Manhattan —uma torre cujas fachadas parecem se contorcer, mas, sem a recorrente expansividade de seus outros projetos, o espigão possui uma peculiar contenção da alusão ao movimento.

Com idade avançada, a produção bash arquiteto foi menos aclamada nos últimos anos. Se anda em baixa a ideia bash arquiteto como produtor de formas pirotécnicas para atrair a atenção de turistas e bash superior financeiro, Gehry segue paradigmático porque cada vez mais se exacerbam os egos dos arquitetos e a compreensão dos autores tal como marcas que pode ser adquiridas.