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Futebol brasileiro ignora continuidade e repete demissões de treinadores

A falta de paciência por parte dos clubes brasileiros com os trabalhos dos treinadores é notória. A média em que um técnico permanece no cargo é de 6 meses no Brasil. E mesmo com o retrospecto cultural negativo, o Campeonato Brasileiro de 2025 tem agravado a problemática. Nesta temporada, em 15 rodadas disputadas, foram modificados 13 vezes o comando técnico das equipes - ou seja, mais da metade dos times da elite do futebol nacional já trocaram de comandante.

A demissão mais recente foi a de Juan Pablo Voyvoda, que estava a mais de quatro anos no comando do Fortaleza. Com o desligamento, a média de permanência dos treinadores no Brasileirão sofreu uma queda de cerca de 20,2%, passando de 345 para 275 dias, aproximadamente.

Mesmo estando fora da Série A, o treinador e ex-jogador, Pedro Iarley também foi refém dessa falta de paciência. O campeão do mundo pelo Inter comandou o Santa Cruz em apenas cinco jogos na Divisão de Acesso e, com um mês de trabalho, foi demitido no dia 17 de julho.

Iarley atribui a rotatividade do comando técnico no Brasil à falta de planejamento e cultura imediatista. "Depois, quando o resultado não vem em poucos jogos, o mais fácil é trocar o técnico. Isso virou padrão no futebol brasileiro", acredita.

Na mesma linha que o ex-jogador, o treinador Lisca também usa a questão cultural como justificativa para a rotatividade de técnicos no País. Além disso, ele fala que é muito mais simples direcionar a culpa dos maus resultados ao técnico do que aos jogadores, por exemplo. "É muito mais fácil você trocar uma pessoa do que 10, 12, 15. Dificilmente as pessoas assumem as suas responsabilidades. É cultural e vai seguir assim", crê.

Entretanto, os malefícios ao alternar repentinamente de treinador não se limitam apenas ao comandante. Segundo Iarley, "o grupo de jogadores se fragiliza tanto tática quanto mentalmente, pois exige uma adaptação quase que instantânea à nova metodologia de trabalho". Mesmo concordando com o colega de profissão, Lisca pondera que, em certos momentos, existe uma potencialização positiva dentro do grupo de atletas.

A necessidade de uma leitura rápida do elenco citada pelo bicampeão mundial não é à toa. Os treinadores recém-contratados se deparam, muitas vezes, com um material humano incapaz de reproduzir a estratégia vista como ideal por ele. Diante desta situação, Lisca diz que o grande desafio é o de achar uma maneira de jogar que potencialize os jogadores. Mas explica que hoje em dia é incomum o treinador fazer parte de uma montagem de elenco.

Em relação ao novo comandante que chega após uma ruptura de trabalho, os problemas também são uma tônica. Ambos falam que o maior deles é a adaptação por partes dos jogadores à mecânica de jogo do novo líder. "Chegar no meio do caminho exige leitura rápida do elenco, entender o que vinha sendo feito e o que pode ser mudado", aponta Iarley, que enfatiza, também, que o potencial coletivo da equipe é reduzido drasticamente, pois a repetição e a assimilação das ideias são exigências no futebol moderno.

Os apontamentos trazidos pelos profissionais interferem no desenvolvimento do futebol brasileiro. Ambos falam que a realidade de fazer um time a cada semestre inferioriza a formação de jogadores, a qualidade do coletivo e a perda de identidade do futebol nacional.

"Na Europa a gente vê treinadores com até 5 anos sem resultados até obterem a primeira conquista. Desenvolvimento gradualmente na equipe, colocando reforços pontualmente de temporada em temporada, coisa que aqui no Brasil é uma utopia. Com isso, teríamos muito mais equipes desenvolvidas, o nosso futebol seria bem mais vistoso Mas é a nossa realidade e nós temos que fazer um time a cada semestre praticamente. Sequência e longevidade do trabalho fazem muita falta pra gente melhorar o nosso futebol”, conclui Lisca. 

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