Tanque israelense manobra perto de maquinário pesado, com vista da destruição no norte de Gaza, ao fundo, visto do lado israelense da fronteira, em 17 de julho de 2025

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Netanyahu havia dito antes que queria assumir o controle total da Faixa de Gaza — o plano aprovado se concentra especificamente na Cidade de Gaza, a maior cidade do enclave

Há 20 minutos

O gabinete de segurança de Israel aprovou um plano para assumir o controle da Cidade de Gaza, onde vivem centenas de milhares de palestinos, uma escalada controversa na guerra que já dura quase dois anos.

A decisão foi tomada depois que "uma maioria absoluta dos ministros do gabinete avaliou que o plano alternativo apresentado ao gabinete não seria capaz de derrotar o Hamas nem garantir o retorno dos sequestrados", segundo um comunicado do gabinete do primeiro-ministro.

Também foram divulgados "cinco princípios para encerrar a guerra", incluindo o desarmamento do Hamas; o retorno de todos os reféns, vivos ou mortos; a desmilitarização da Faixa de Gaza; o controle de segurança israelense sobre a Faixa de Gaza; e um governo civil alternativo que não seja o Hamas nem a Autoridade Palestina.

O anúncio veio em um momento em que Israel enfrenta uma pressão internacional cada vez maior, inclusive de seus aliados, para encerrar a guerra em Gaza e permitir mais acesso a ajuda humanitária ao território.

Israel iniciou sua guerra em Gaza após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1,2 pessoas foram mortas e 251 levadas para Gaza como reféns.

Desde então, a ofensiva militar de Israel matou pelo menos 61 mil palestinos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas.

Como resultado das operações militares de Israel, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 87% de Gaza seja uma zona militar designada ou sujeita a avisos de evacuação.

Palestinos desalojados internamente, incluindo crianças, seguram panelas enquanto recebem comida de uma cozinha beneficente, na Cidade de Gaza, na Faixa de Gaza, em 4 de agosto de 2025

Crédito, EPA

Legenda da foto, Grupos de ajuda humanitária alertaram que a crise humanitária em Gaza vai piorar

"É como se não houvesse mais nada para ocupar", afirmou o palestino Mahmoud al-Qurashli à agência de notícias Reuters, da Cidade de Gaza, em resposta aos planos de Netanyahu de assumir o controle total da região.

"Praticamente toda a Faixa de Gaza foi espremida na parte ocidental da Cidade de Gaza, e isso é tudo o que resta. Neste momento, para o povo, não há mais diferença — se ele ocupa ou não", acrescenta.

Raed Abu Mohammed conta que eles estão vivendo em tendas há cinco meses, e começaram a se acomodar um pouco: "Sim, há sofrimento, sim, há morte. Mas ainda estamos nos agarrando à vida. Israel não está matando o Hamas. Israel está matando civis, crianças, mulheres".

Em resposta à proposta de assumir o controle da Faixa de Gaza, o Hamas afirma que Netanyahu está "planejando continuar sua abordagem de genocídio e desalojamento, cometendo mais crimes" contra o povo palestino.

Suas ações "representam uma clara reversão do curso das negociações e revelam claramente os verdadeiros motivos por trás de sua retirada da rodada final (de negociações)", diz um comunicado.

O grupo acrescentou que eles estavam "muito próximos" de um acordo final, e que o preço seria alto para Israel ocupar Gaza.

O Hamas também fez um apelo aos países árabes e islâmicos, assim como à comunidade internacional, para que "condenem e rejeitem estas declarações perigosas, e tomem medidas urgentes para interromper a agressão e acabar com a ocupação".

Em entrevista antes da reunião do gabinete de segurança, Netanyahu disse à rede Fox News que Israel pretende assumir o controle de toda Faixa de Gaza, remover o Hamas, mas "não quer mantê-la".

"Queremos nos libertar e libertar o povo de Gaza do terrível terror do Hamas."

"Queremos ter um perímetro de segurança. Não queremos governá-la", acrescentou.

As Forças Armadas se opõem aos planos de ocupação total de Gaza, de acordo com reportagens publicadas na imprensa. O tenente-general Eyal Zamir, chefe do Estado-Maior do Exército, teria dito a Netanyahu em uma reunião tensa no início desta semana que isso seria "o mesmo que cair em uma armadilha".

Famílias e simpatizantes dos reféns israelenses mantidos pelo Hamas em Gaza carregando tochas, faixas e fotos dos reféns protestam em frente ao gabinete do primeiro-ministro israelense durante uma reunião do gabinete de segurança, para exigir a libertação imediata dos reféns e o fim da guerra, em Jerusalém, em 7 de agosto de 2025

Crédito, EPA

Legenda da foto, Famílias dos reféns israelenses e simpatizantes protestaram durante a reunião do gabinete de segurança

O plano de assumir o controle da Cidade de Gaza foi fortemente condenado pelas famílias dos reféns que ainda estão detidos no território. Elas continuam a exigir o fim imediato da guerra e querem um acordo negociado.

Mais cedo, familiares e apoiadores dos reféns protestaram em Tel Aviv e em frente ao gabinete de Benjamin Netanyahu, em Jerusalém, enquanto o gabinete de segurança discutia os planos.

Alguns manifestantes se acorrentaram uns aos outros e alertaram que a medida seria uma "sentença de morte" para os seus entes queridos.

As pesquisas de opinião sugerem que a grande maioria da população israelense é a favor de um acordo com o Hamas para a libertação dos reféns e o fim da guerra. Os líderes israelenses afirmam que o Hamas, neste momento, não está interessado em negociar, uma vez que, na sua opinião, o grupo se sente encorajado pela pressão internacional sobre Israel devido à crise humanitária em Gaza.

A ameaça de uma ocupação total pode ser parte de uma estratégia para tentar forçar o grupo a fazer concessões nas negociações que estão paralisadas.

Mas muitos aqui acreditam que Netanyahu está prolongando o conflito para garantir a sobrevivência da sua coalizão, que depende do apoio de ministros ultranacionalistas que ameaçaram deixar o governo se houver qualquer acordo com o Hamas.

O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, e o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, defenderam publicamente a expulsão dos palestinos de Gaza — o que poderia equivaler ao desalojamento forçado de civis, um crime de guerra —, e o reassentamento de judeus na região.

Palestinos correm em direção a paraquedas carregando pacotes de ajuda humanitária lançados de avião sobre o norte da Faixa de Gaza, em 7 de agosto de 2025

Crédito, Reuters

Israel impôs um bloqueio total à entrega de ajuda humanitária no início de março, e retomou sua ofensiva militar contra o Hamas duas semanas depois, rompendo um cessar-fogo de dois meses. O país afirmou que queria pressionar o grupo para que libertasse os reféns israelenses restantes.

Embora o bloqueio tenha sido parcialmente aliviado após quase dois meses, em meio a alertas de fome iminente por parte de especialistas internacionais, a escassez de alimentos, medicamentos e combustível piorou.

Quatro pessoas morreram de desnutrição nas últimas 24 horas, informou o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, na quinta-feira (07/08). Isso eleva o número total de mortes por desnutrição desde o início da guerra para 197, incluindo 96 crianças.

Israel insiste que "não há fome" em Gaza, e apoia a Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês) na distribuição de ajuda.

Um grupo de especialistas das Nações Unidas pediu, no entanto, que a GHF fosse extinta depois que a ONU informou que pelo menos 859 pessoas foram mortas em torno dos centros de distribuição da GHF desde o início de suas operações.

Na quinta-feira, Israel anunciou que 80 pacotes de ajuda humanitária foram lançados do ar em Gaza pelos Emirados Árabes Unidos, Alemanha, Jordânia, Bélgica e Canadá.

Mas as agências de ajuda humanitária têm alertado consistentemente que os lançamentos aéreos em Gaza estão longe de ser suficientes para satisfazer a quantidade de ajuda necessária para combater a propagação da desnutrição e a falta de outros recursos vitais, como combustível e suprimentos médicos.

O governo israelense não permite que organizações internacionais de notícias, incluindo a BBC, entrem em Gaza para apurar informações e cobrir o conflito livremente.