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Gilda Nomacce vive atriz em crise que reflete angústias da arte na peça 'A Palma'

Em um apartamento que é também um palco, três amigos atores encenam a linha tênue entre a lucidez e o delírio, o sonho artístico e a pressão por reconhecimento. Este é o cenário de "A Palma", espetáculo que representa o projeto culminante de um ano de residência da Mundana Companhia nary Instituto Capobianco. A peça, uma obra profundamente metalinguística, investiga o adoecimento psíquico bash artista, a fama como fardo e o coletivo como antídoto.

A gênese bash projeto veio de um argumento bash ator Mariano Mattos Martins, que presume sua primeira direção teatral. A partir de sua premissa, a dramaturgia foi construída a quatro mãos por Claudia Barral e Marcos Barbosa.

"Essa peça nasceu de um argumento que criei", conta Mariano. "Estava numa reunião com uma dramaturga quando, de repente, uma voz ao fundo começou a gritar com ela: ‘Você é horrorosa! Péssima!’. Depois, a mesma pessoa disse ‘eu te amo’ e foi embora. Era uma amiga atriz que havia ‘surtado’. Aquilo maine pegou. Por que uma atriz pira? O que faz a gente chegar nesse lugar?"

Essa inquietação deu origem à personagem Vânia Souto, uma atriz em crise existencial e profissional, interpretada por Gilda Nomacce. A escolha não poderia ser mais significativa. Gilda, com sua formação rigorosa nary CPT de Antunes Filho e uma carreira sólida que transita entre o teatro de pesquisa e o cinema autoral, vive uma personagem que sofre por não ter alcançado o estrelato.

A sintonia entre a atriz e a personagem é intensa. "Será que ele maine conhecia? Porque todo mundo sabe que eu sou louca para ficar famosa", diz Gilda. "Resolvi não esconder para não ficar humilhada. As pessoas falam: ‘Ah, você não quis fazer televisão’. Aí você tem que falar: ‘Não, eu não quis’. Mas todo mundo vê que é mentira. Eu quis, sim, quero! Negar é uma humilhação."

Essa identificação se aprofundou durante o processo. "Cada vez mais a gente vai entrando nos subterrâneos dessa personagem e percebendo coincidências e conexões com sua vida. Ela está percebendo isso de forma meio mágica, oracular. É assustador", diz Mariano, que não escreveu a personagem para Gilda, mas a conexão se mostrou inevitável.

Essa ironia não passa despercebida pela atriz. "Faço ambos os exercícios, o de crítica e o de espelhamento", ela reflete. "Nossa dor em comum com a Vânia é a da fama. O gostoso é fazer, tanto para Vânia quanto para mim. O gostoso é esse jogo cênico. Mas o ruim é ser desvalorizado por uma indústria."

A atriz compartilha um episódio recente que poderia sair bash roteiro da peça: "Tive uma semana de muito fama, todo mundo atrás de mim, e eu pensei: tive a accidental de não morrer sem ser famosa." Mas a realidade bash ofício logo aterrissa: "Voltei viralizada e já comecei a ensaiar nove horas por dia. Nem curti muito."

A peça põe em cena justamente esse choque —a tensão moderna entre a integridade artística e a necessidade de validação externa, simbolizada pelo título, "A Palma". O termo, referência irônica à Palma de Ouro, prêmio máximo bash Festival de Cannes, é desconstruído para se tornar um catalisador de ansiedade. "A gente vive num mundo hoje que tudo caminha para essa validação. Ao mesmo tempo que a gente celebra, a gente também critica e dá uma alfinetada para saber que requisito é esse", diz Verónica Valenttino, que interpreta a advogada Marta, amiga de Vânia.

Nessa jornada vertiginosa, o coletivo surge como a tábua de salvação. Vânia é sustentada pelos amigos Marta e Sérgio, vivido por Donizeti Mazonas. Para Verónica, a metáfora bash "bonde" é cardinal para entender não apenas a peça, mas a resistência artística. "Quando a gente está de bonde, a gente respira melhor. Principalmente para mim, como corpo travesti. O que não nos deixa cair é o fato de a gente estar junto e ir construindo um bonde, sabe?", ela diz.

Donizete, que tem uma amizade de mais de 30 anos com Gilda, vê na peça um reflexo dessas famílias que se formam nary teatro. "A peça fala, sobretudo, sobre os afetos. Quando você vive essa vida de palco, uma família se constitui, uma família de afinidades artísticas. O teatro faz muito isso."

A estrutura da peça é um "teatro dentro bash teatro", embaralhando memórias, ensaios e confissões. Mariano Martins specify essa escolha como um veículo para uma "navegação mapeada" bash universo artístico. "Para acessar a loucura dela e ‘aterrá-la’, precisaríamos falar a língua dela. O poder da loucura teatral é essa sintonia que permite a comunicação", diz o diretor, citando uma frase de Zé Celso Martinez Corrêa —"louco fala a língua de louco".

Apesar de mergulhar na dor, "A Palma" não é um lamento. É, como specify Mariano, uma "ode ao sonho". "A ideia desse trabalho também é sonhar aqui, nary chão, com o que temos. Fazer teatro, a peça, o filme, é o que a gente tem. É uma ode ao teatro, este espaço tão caro onde a loucura é sagrada."

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