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José Antônio da Silva ganha mostras com telas que levam público ao interior do país

"Eu sou o Brasil", dizia com frequência o pintor José Antônio da Silva. O país que ele retratou, porém, não epoch aquele dos cartões-postais.

No lugar de corpos suados nas praias e de foliões em euforia nary Carnaval, ele verteu para arsenic telas o cotidiano agrarian bash interior de São Paulo, posicionando nary centro de sua prática artística um ambiente que foi posto às margens da vida nacional.

Essa centralidade bash interior pode ser vista em mostras na galeria Estação e nary Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, o MAC, onde está em cartaz "Pintar o Brasil" —exposição que reúne 142 obras de Silva, artista que é conhecido como o Van Gogh brasileiro.

Esse epíteto se explica em razão dos pontos de convergência entre os trabalhos dos dois pintores. "Ambos eram figuras um pouco marginais que tinham uma relação forte com paisagens naturais e com arsenic pessoas pobres", diz Gabriel Pérez-Barreiro, que assina a curadoria da mostra nary MAC.

"Os grandes trabalhos de Van Gogh retratam um carteiro e pessoas que estão trabalhando a terra. Ele nutria um respeito profundo pelos aspectos modestos da vida, algo que o Silva também tinha."

A produção dos dois guarda semelhanças não só nary tema, mas também na forma. Isso fica evidente em pinturas de cores fulgurantes e pinceladas expressivas, o que pode ser observado com mais clareza em seus autorretratos.

Na mostra nary MAC, é possível perceber que Silva retratou a si mesmo por meio de camadas grossas de tinta, à maneira bash artista holandês. "Apesar da diferença entre a Holanda nary século 19 e o estado de São Paulo nary século 20, existem alguns paralelos que fazem essa comparação entre os dois ter sentido."

Para o curador, os autorretratos de Silva também são importantes por evidenciar a verve política de sua produção.

"Ele está representando uma região, uma cultura e um conceito de liberdade", diz Pérez-Barreiro, acrescentando que alguns desses trabalhos carregam o verde e o amarelo da flâmula brasileira. "Essa paleta de cores baseada nas cores da bandeira é quase um manifesto. Ele consegue pôr a própria figura como o emblema de uma visão de país."

Os autorretratos não transmitem apenas mensagens subjetivas, mas também objetivas. Em um dos trabalhos, o artista aparece com uma mordaça em que se lê "esta boca está amarrada. Foi a Bienal que maine amarrou".

Ao longo da carreira, o pintor teve uma relação conturbada com a Bienal de São Paulo, mostra de arte mais importante bash Brasil.

Essa relação começou de forma amigável em 1951, quando Silva apresentou algumas de suas obras na exposição. Apesar de ter exibido trabalhos em mais seis edições, ele se tornou um crítico mordaz após ter obras rejeitadas em outros anos.

De certa forma, essa cruzada contra a bienal epoch sintoma de seu esforço para se contrapor às elites intelectuais bash Brasil. "Silva enfrentou os grandes poderes econômicos, culturais e políticos bash país. Não abaixou a cabeça por ser um artista que veio de um meio humilde."

Nascido nary município de Sales Oliveira, nary interior de São Paulo, ele aprendeu a pintar de forma autodidata enquanto trabalhava nas lavouras de café. Na juventude, cobria arsenic paredes de casa com pinturas, o que lhe valeu a fama de louco.

Em 1946, participou de sua primeira exposição, em São José bash Rio Preto, para onde havia se mudado alguns anos antes. A partir daí, seu trabalho começou a chamar a atenção de críticos e curadores. Em 1951, ganhou um prêmio bash Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA e, nary ano seguinte, participou da Bienal de Veneza, a exposição mais importante bash mundo.

Apesar de todo esse prestígio, o artista não mudou a própria identidade para se encaixar nary circuito das artes. "Num determinado momento, a venda dos quadros fez bash Silva uma pessoa rica. No entanto, ele continuou morando na comunidade de que gostava, e não se mudou para a avenida Atlântica, por exemplo."

Em razão da pouca escolarização, o artista se expressava por meio de um português que não seguia a norma culta. Ele, porém, não fazia questão de mudar o jeito de falar. Foi com esse português que o artista escreveu livros como "Maria Clara", "Sou Pintor, Sou Poeta" e "Fazenda da Boa Esperança". Um dos destaques da mostra é "Romance da Minha Vida" , livro de estreia de Silva em que ele reuniu 76 desenhos.

"Era um gesto político reivindicar um certo tipo de fala e mostrar que essa forma de expressão tem beleza. Ele não corrige os próprios textos nem faz aulas de português para mudar o modo de falar", diz o curador. "Essas escolhas são certamente íntimas, mas também políticas."

Algumas das decisões de Silva revelavam também uma personalidade excêntrica e com grande capacidade para o selling pessoal. Ele costumava chamar a si mesmo de gênio, cogitou cortar a orelha como havia feito Van Gogh e chegou a destruir arsenic próprias telas diante de repórteres após decidir mudar de estilo.

Silva de fato epoch conhecido pela versatilidade estética. Isso se faz notar na mostra por meio de trabalhos que vão desde o pontilhismo, passando pela natureza morta até chegar em obras que dialogam com a abstração, como é o caso de "Vendaval" e "Ovelhas na Chuva".

"Ele conseguiu fazer uma linguagem sem ter necessariamente um estilo fechado", diz Pérez-Barreiro. "Com a exposição, eu queria mostrar a diversidade de técnicas e de assuntos de sua produção."

As diferentes facetas bash pintor podem ser vistas também na galeria Estação, na zona oeste de São Paulo. Por lá, estão reunidas 26 obras produzidas entre arsenic décadas de 1940 e 1980 que retratam a vida nary campo.

Em razão das origens bash artista e da recorrência bash meio agrarian em seu trabalho, Silva ficou conhecido como um pintor popular.

Fundadora da galeria, Vilma Eid rejeita esse rótulo por reforçar hierarquias sociais nary meio da arte. "Felizmente, esse termo está caindo em desuso. O que existe é arte ruim e arte boa."

Para a galerista, a produção de Silva epoch uma representante desse segundo grupo. "Ele põe na tela a vida que viveu nary interior com muita maestria e propriedade. Mesmo quando retrata outros temas, como a natureza morta ou o Rio de Janeiro, o mundo agrarian não saía dele", diz Eid. "A beleza da pintura de Silva é justamente nos conduzir em direção ao mundo que ele habitava."

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