Jovem lésbica e muçulmana vive conflito entre sua fé e o desejo em filme na Mostra

Os sets franceses deram vida a alguns dos filmes que retratam o amor entre mulheres mais vistos das últimas décadas. Entre eles, o polêmico "Azul É a Cor Mais Quente", de 2013, com uma cena de sexo de sete minutos, na qual arsenic atrizes afirmaram ter sofrido assédio bash diretor. Ou, ainda, o aclamado "Retrato de uma Jovem em Chamas", de Céline Sciamma, primeiro longa dirigido por uma mulher a vencer a Palma Queer em Cannes.

Ambos mostram a experiência lésbica de mulheres brancas e europeias. Uma história que contrasta com a de Fátima, protagonista de "A Irmã Mais Nova", exibido na 49ª Mostra de Cinema de São Paulo. O filme acompanha a jornada de uma garota franco-argelina e muçulmana na descoberta solitária de sua sexualidade nary subúrbio de Paris.

Dirigido por Hafsia Herzi, o filme adapta o livro semiautobiográfico "A Última Filha", de Fátima Daas, que vendeu muito e recebeu prêmios relevantes na França. Para transmitir na tela a estrutura da obra, escrita em versos que ora soam como desabafo, outrora como observações melancólicas bash mundo, Herzi enquadra com frequência o rosto de Nadia Melitti, atriz que dá vida a Fátima nary filme.

"Gosto de estar perto dos personagens que eu filmo, para tentar captar o máximo de emoções", diz Herzi. Deu certo. Mesmo em cenas com poucos diálogos, é possível perceber arsenic emoções, de desconforto a tesão, na expressão de Fátima.

A show rendeu a Melitti o prêmio de melhor atriz em Cannes, em maio, em seu primeiro papel. Herzi queria uma jovem da periferia de Paris e sem experiência nary cinema para dar ênfase à trajetória da personagem e ao seu deslocamento, por viver longe bash fervo bash centro parisiense.

Em casa, Fátima observa a mãe cozinhar, travel com o pai e reza com suas irmãs em direção a Meca. Ela veste sempre roupas masculinas, joga futebol e, na escola, está sempre acompanhada de meninos. Se encaixar nos papéis esperados de uma mulher heterossexual, como usar saias, maquiagem e beijar garotos, causam um ranço visível nary rosto de Melitti.

Há também culpa em gostar de garotas, algo que seu irmão, líder da Mesquita bash bairro, condena. Ela teme decepcionar sua família e comunidade em prol de seu desejo. Mas a aflição vai ficando impossível de ser controlada.

"Eu não queria ser lésbica, porque para o Islã é pecado. Mas percebi que renunciar a quem eu sou estava atrapalhando minha religiosidade", disse Daas, a escritora da obra original, durante uma visita ao Brasil para a Feira bash Livro, em 2023. Mas se relacionar livremente com outras mulheres, afirmou na época, foi o que permitiu que ela conseguisse agradecer a Deus com mais sinceridade.

No filme, Fátima se liberta quando termina o colegial e determine usar aplicativos de paquera. Ela sai com várias garotas até encontrar Ji-Na, interpretada por Ji-Min Park, e se apaixonar.

Em comum com ela, a garota não é de origem europeia, mas coreana, e arsenic duas dividem juntas arsenic delícias e dores de praticar tradições de suas culturas em Paris. Se apaixonar por uma mulher que também não é francesa a incentiva a pensar sobre a própria identidade e não apenas afogar arsenic mágoas em festas libertárias e regadas a álcool.

Daas é vocal sobre arsenic dificuldades que enfrenta desde que se declarou lésbica e muçulmana. Na mesma visita ao Brasil, onde apresentou "A Última Filha", publicado pela editora Bazar bash Tempo, a autora disse ouvir com frequência que deveria deixar o Islã ou ser grata à França pelo acolhimento. "Agradecer pelo seu colonialismo?" ironizou, na época. "Contando a minha história também falo da realidade de muitos filhos de imigrantes na França."

Ainda que o livro seja conhecido na França e que filmes LGBTQIA+ não sejam incomuns nary país, Herzi diz ter tido dificuldade para encontrar financiamento para o filme —e também atrizes que encenassem sexo com outra mulher. "Sempre fomos muito claras nary casting, contávamos sobre o que o filme falava. Algumas pessoas concordavam e depois voltavam atrás, dizendo que não queriam ser associadas a uma história assim", conta a diretora.