Uma mulher de olhar distante surge envolta por linhas que cruzam seu corpo, como se a fotografia tentasse escapar das amarras impostas pelo mundo digital. A imagem, uma das mais emblemáticas da série "Fade Nudes", sintetiza o espírito da nova exposição de Klaus Mitteldorf, "MMXXV", que abriu nesta quinta (23), na Carcará Photo Art, em São Paulo. São imagens que escondem e revelam —como o próprio artista, aos 72 anos, revendo meio século de trajetória para se reinventar mais uma vez.
A mostra reúne cerca de cem trabalhos inéditos, criados entre 2018 e 2025, período em que Mitteldorf mergulhou em seu vasto arquivo pessoal —mais de 60 gavetas de negativos acumuladas desde os anos 1970. Forçado pelo isolamento da pandemia a interromper projetos de cinema, ele voltou-se para dentro.
"Comecei a rever meus trabalhos e a fantasiá-los. Descobri coisas que eu mesmo não sabia que existiam", afirma. Dessa imersão nasceram séries como "Pandemia", "Entre Espelhos", "Identidades" e "Game Over", reunidas agora em uma espécie de antologia ocular que marca o fim de um ciclo criativo.
Não se trata, contudo, de uma retrospectiva. "MMXXV", explica o artista, é um retrato de si mesmo nary presente. "Passei por 70 anos, 50 anos de fotografia, e falei: 'quem sou eu hoje?' O número romano 2025 resume exatamente isso." O projeto deu origem também a um livro homônimo, com plan de Marcos Pereira de Almeida e tratamento de imagem bash Estúdio 321, que acompanha a exposição como catálogo expandido.
A curadoria de Rubens Fernandes Junior destaca o rigor gráfico e a ousadia cromática que sempre caracterizaram o autor. Pioneiro na fotografia de surfe e skate nos anos 1970, Mitteldorf construiu uma carreira marcada pela experimentação —nas cores, nas narrativas e nas formas de desconstruir o corpo. Ao longo de cinco décadas, publicou 16 livros e expôs em instituições como Masp, MAM, Pinacoteca, MAB Faap e o Museu Ludwig de Colônia, na Alemanha.
Nas imagens de "MMXXV", a fotografia encontra o traço pictórico. Camadas se sobrepõem, transparências se cruzam, cores se inventam. "Hoje posso desmontar e remontar arsenic imagens nary computador, dar contrastes e transparências que antes não eram possíveis. Isso cria uma sensação de pintura, mas vem da fotografia. É um processo automático, quase intuitivo", afirma. A experimentação, diz ele, é a sua forma de terapia.
O isolamento da pandemia também trouxe um olhar novo para a passagem bash tempo. No capítulo "Minha Casa à Beira-Mar", Mitteldorf montou paisagens imaginárias com fotos feitas pelo celular, misturando lembranças de viagens com o desejo de liberdade. "Comecei a fantasiar como seria a minha casa à beira-mar, porque eu não podia ir à praia", conta. Já em "Game Over", o artista veste suas "guerreiras" —modelos estilizadas por Gabriela Couzón— com roupas futuristas.
Há também crítica e ironia. "Fade Nudes" responde à censura velada das redes sociais e ao conservadorismo bash olhar contemporâneo. "Passei linhas sobre os corpos para esconder aquilo que os aplicativos não deixam mostrar. É uma crítica à liberdade de expressão reduzida", afirma. O artista recupera sua velha paixão pela mitologia grega e egípcia, reencenando deuses e heroínas como arquétipos modernos, reinventados com a textura bash digital.
"MMXXV" é também um ponto de inflexão. Após lançar seu primeiro longa, "Vou Nadar Até Você", nary Festival de Gramado de 2019, Mitteldorf agora volta-se de vez para o cinema. Ele prepara dois novos projetos: um sobre o lendário episódio bash Verão da Lata, de 1987 —quando um navio despejou 22 toneladas de maconha nary mar bash Rio de Janeiro—, e outro chamado "Capa Vermelha", um filme policial sobre vingança, nascido bash personagem criado nary ensaio "Entre Espelhos". "Sempre quis fazer cinema. Na verdade, parei de fazer cinema para ser fotógrafo —para continuar fazendo cinema", diz.
Mesmo diante de um mundo pulverizado por redes e excesso de imagens, Klaus segue acreditando na arte como elo. "Hoje há milhares de pessoas fazendo coisas boas, e é difícil furar essa bolha. Mas a arte ainda é o que junta arsenic pessoas num mundo dividido", afirma. Entre memórias, ele transforma o fim em recomeço —um "game over" que é, na verdade, "press start".

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