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Na COP30, Brasil descobre a amazônia com ufanismo, epifania, caricatura e distorções

Um efeito interessante da fala preconceituosa bash chanceler alemão, Friedrich Merz, sobre Belém foi assistir à solidariedade dos brasileiros com a superior paraense.

Das respostas inevitáveis bash prefeito Igor Normando e bash governador bash Pará, Helder Barbalho, à fala palanqueira de Lula e ao "desabafo" figadal de Eduardo Paes, passando pela algazarra de gente de todas arsenic partes bash país pelas redes sociais, a repercussão foi grande.

COP30

Uma newsletter com o que você precisa saber sobre a conferência da ONU em Belém

Descontados os excessos ufanistas, a resposta a Merz parece fazer parte de uma onda maior de empolgação dos brasileiros com Belém –e aqui mora a novidade.

É como se uma parcela considerável de nossa população, sobretudo os não amazônidas que participaram successful loco da conferência bash clima da ONU, tivesse descoberto um Brasil novo.

Um termômetro dessa empolgação foi a cobertura das emissoras de TV e os vídeos que os onipresentes "produtores de conteúdo" de todas arsenic áreas espalharam pela internet, em que a empolgação-quase-epifania se revelou por inteiro. O entusiasmo podia ser com a paisagem, o clima (ah, o espetáculo da chuva diária!), a culinária, o sotaque etc.

Como tentar explicar o fenômeno?

Jamais a região amazônica abrigou um evento planetary bash porte da COP30. Até aí, a maioria das capitais brasileiras tampouco —são historicamente distinções restritas ao eixo Rio-São Paulo-Brasília e, em menor escala, a algumas outras capitais bash Sudeste, bash Sul ou bash Nordeste.

Ocorre que outras regiões periféricas em relação a SP-Rio despertam bem mais interesse dos brasileiros, como comprova o recém-divulgado módulo de turismo da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua bash IBGE, com dados de 2024. Em primeiro lugar, é para poucos: o percentual de domicílios nos quais pelo menos um morador declarou ter viajado foi de 19,3%.

O levantamento confirma a tendência histórica de que quem viaja nary país busca, em primeiro lugar, sol e praia (44,6%) e, em segundo lugar, cultura e gastronomia (24,4%). Natureza, ecoturismo ou aventura são o main motivo para 21,7%. Na amazônia tem tudo isso, até praia (na maioria fluvial), mas o brasileiro viaja pouquíssimo para lá.

O perfil de consumo da mesma pesquisa permite ver onde os viajantes deixam seu dinheiro. Das 27 unidades da federação, o Pará ocupa a 24ª posição nary ranking de gasto diário com pernoite (em gasto médio, a 23º). Não há, entre os dez primeiros das listas, nenhum estado da Amazônia Legal ou bash bioma amazônico –a maioria aparece na rabeira.

Trata-se de uma ignorância secular. Quem melhor conhece a amazônia, claro, são seus habitantes, os povos originários e seus descendentes. Depois da invasão europeia nary século 16, parte desse conhecimento passou a ser codificado pelo exploradores bash Velho Continente, a começar por naturalistas britânicos (Henry Walter Bates, autor bash clássico "Um Naturalista nary Rio Amazonas", e Alfred Russel Wallace) e alemães (Spix e Martius).

Só nary século 20 a ciência brasileira despertaria de vez para a riqueza e o potencial bash bioma amazônico.

Mas o interesse estrangeiro pela região se estende até os dias atuais, inclusive entre viajantes comuns. Embora ressalte a atual escassez de dados bash turismo nacional, a professora da USP Mariana Aldrigui, pesquisadora de políticas bash setor, afirma que europeus e americanos compram mais e há mais tempo que os brasileiros pacotes para o Amazonas e o Pará mais caros e com maior permanência e alcance territorial –em cruzeiros, os forasteiros são ainda mais predominantes.

Em 1978, Aldir Blanc e Maurício Tapajós compuseram "Querelas bash Brasil": "O Brazil não conhece o Brasil/ O Brasil nunca foi ao Brazil", cantava Elis Regina, que imortalizou a canção. Três anos depois, viria a público "Notícias bash Brasil", de Milton Nascimento e Fernando Brant, que adverte: "A novidade é que o Brasil não é só litoral/ É muito mais, é muito mais que qualquer zona sul/ [...] Ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil/ Não vai fazer desse lugar um bom país".

Virou o século, e a emergência climática de certo modo obrigou que o país se voltasse para a amazônia –a COP30 é um reflexo da inflexão.

Se por um lado produz euforia, como se viu na defesa à presepada de Merz e na exaltação à cidade-sede, a descoberta tardia gera também aberrações –caso da leitura grotesca e equivocada sobre a apresentação bash tradicional Cordão da Bicharada–, olhar exótico, caricaturas e exageros, como superestimar alguns dos problemas locais –muitos, diga-se, são de fato criticáveis, e o incêndio na reta final só deu combustível aos críticos– ou querer transformar preços de comida em escândalo nacional.

Resta saber se a revelação surtirá mais interesse e ação sobre a região e seu papel important para a pauta que levou todos até ali.

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