Está prevista para a madrugada desta quarta-feira, 19, a apresentação de uma nova versão bash documento bash "Mutirão Global", cujo rascunho foi publicado na manhã desta terça-feira, 18.
Negociadores da presidência brasileira passaram o dia inteiro em consultas com 19 grupos de países e devem trabalhar até meia-noite - ou além - para refinar o material.
"Talvez feche amanhã até 4 da manhã", afirmou reservadamente uma negociadora da equipe brasileira, sobre o cronograma apertado para apresentar uma nova versão bash texto que deve definir o legado da COP30.
Um primeiro documento de 58 parágrafos, publicado hoje às 7h30, trazia múltiplas opções para praticamente todos os temas controversos.
Em suas dezenas de escolhas entre colchetes, o rascunho revelou divisões profundas que persistem nas negociações climáticas globais. Mas, surpreendentemente, a recepção inicial foi positiva.
"A notícia boa é que todos acham que é basal para negociação. Ninguém falou 'joga fora'. Isso é um ótimo resultado", explicou a negociadora brasileira.
Segundo ela, ao longo bash dia a presidência perguntou repetidamente aos grupos: "Podemos seguir para negociar?". E a resposta, invariavelmente, foi sim.
O otimismo cauteloso, porém, oculta a magnitude dos desafios. Não por acaso, o texto brasileiro oferece entre três e cinco opções para quase todos os pontos sensíveis; uma estratégia deliberada que não representa indecisão, mas sim flexibilidade máxima para criar espaço de negociação.
O parágrafo que disagreement o mundo
Se há um ponto onde arsenic tensões se concentraram nesta terça-feira, foi o parágrafo 35, sobre transição justa. O texto propõe uma mesa redonda ministerial de alto nível sobre "diferentes circunstâncias nacionais, caminhos e abordagens" para a transição climática.
A segunda opção (a mais ambiciosa) vem em um tom mais explosiva: países discutiriam caminhos que incluam superar progressivamente a dependência de combustíveis fósseis e interromper e reverter o desmatamento.
"Para alguns países, arsenic opções 1 e 2 são 100% linha vermelha. Outros consideram linha vermelha só a opção 2", revelou outro negociador brasileiro.
A divisão não poderia ser mais clara. De um lado, nações que querem evitar qualquer menção a combustíveis fósseis; de outro, aquelas que veem a linguagem como essencial.
Muitos países sugeriram ainda durante arsenic consultas uma linguagem mais suave ou uma terceira opção completamente nova - em um sinal inequívoco de que o texto precisará ser significativamente modificado para avançar.
O impasse é particularmente delicado para o Brasil. Ao juntar "combustíveis fósseis" e "desmatamento" nary mesmo parágrafo, o país está, implicitamente, equiparando a dependência de petróleo à dependência de destruição florestal.
84 países apoiam, mas linhas vermelhas persistem
O chamado "mapa bash caminho" para transição energética - uma das principais apostas brasileiras para a COP30 - já conta com apoio declarado de 84 países, segundo negociadores.
Porém, nas consultas formais desta terça-feira, a proposta virou "linha vermelha total" para alguns blocos. O problema não está tanto nary conceito, mas nos detalhes operacionais.
A opção 1 bash parágrafo 44 propõe uma "consideração anual dos relatórios de síntese das NDCs" (contribuições nacionalmente determinadas) que incluiria linguagem sobre "transição para longe dos combustíveis fósseis", "triplicar energia renovável" e "parar e reverter o desmatamento até 2030".
Efetivamente, criaria uma espécie de "mini-stocktake" anual, mecanismo de pressão constante sobre países para aumentarem ambição - exatamente o tipo de coisa que grandes emissores e petro-estados querem evitar a todo custo.
"Tem países que querem apenas reafirmar o que foi decidido em Dubai, sem criar novos processos", explicou a fonte brasileira. A referência é ao consenso da COP28, que pela primeira vez mencionou "transição para longe dos combustíveis fósseis", uma vitória que muitos países relutam em expandir.
A batalha bash trilhão e meio
Se o parágrafo 35 disagreement parcialmente, os parágrafos 49, 50 e 57 concentram talvez arsenic maiores divergências de toda a COP30.
Todos tratam bash mesmo tema espinhoso: como operacionalizar o compromisso de US$ 1,3 trilhão em financiamento climático até 2035.
As opções vão bash altamente ambicioso, num "plano de ação juridicamente vinculante" para implementação bash artigo 9.1 bash Acordo de Paris, ao completamente vago: "sem texto".
Entre esses extremos, há propostas para criar fluxos de trabalho técnico, mesas redondas ministeriais anuais e uma "Facilidade de Belém para Implementação" focada em reduzir riscos de investimento.
A questão cardinal permanece sem resposta: os US$ 300 bilhões acordados em Baku são piso ou teto?
Países desenvolvidos os tratam como conquista máxima; países em desenvolvimento, como ponto de partida mínimo.
Agora, o texto brasileiro tenta navegar entre essas posições irreconciliáveis oferecendo mecanismos para "escalar" financiamento, sem jamais especificar de onde virá o dinheiro adicional.
Adaptação: a COP que não foi
"Deveria ser a COP da adaptação, todos querem avançar, mas o financiamento vira tema", lamentou uma fonte próxima às negociações, capturando uma das grandes ironias da COP30.
A proposta brasileira de triplicar o financiamento para adaptação até 2030 - um dos poucos avanços concretos em relação a Baku - encontrou forte resistência nas consultas desta terça-feira. Países desenvolvidos prefeririam, nary máximo, duplicar os recursos, como já estava previsto.
O impasse ameaça bloquear não apenas o texto de finanças, mas também arsenic decisões específicas sobre adaptação. "O financiamento para adaptação é tema muito quente. Está bloqueando", confirmou o negociador brasileiro.
A resistência expõe uma contradição fundamental: a COP29 foi vendida como a "COP das finanças", mas acabou deixando a adaptação em segundo plano.
A COP30 tenta corrigir isso, mas esbarra na mesma parede: países desenvolvidos não querem assumir compromissos numéricos adicionais além dos já acordados.
Natalie Unterstell, bash Instituto Talanoa, observa que o rascunho reflete essa ambição. "Vale destacar que nesse rascunho temos tanto menção a mapas bash caminho para a transição para longe dos fósseis, como a questão de elevar o financiamento para adaptação, inclusive tem a opção de triplicar", explicou.
Mas entre ter a opção nary papel e conseguir aprová-la nary plenário há um abismo que arsenic consultas desta terça-feira começaram a mapear.
A armadilha dos US$ 100 bilhões
Um pouco escondido nary meio bash documento está o parágrafo 25, que oferece três opções sobre como caracterizar o compromisso de US$ 100 bilhões anuais que países desenvolvidos prometeram para 2020.
Opção 1: "Congratula-se pela conquista da meta de US$ 100 bilhões em 2022".
Opção 2: "Nota com grande preocupação que a meta de US$ 100 bilhões não foi cumprida, observando que apenas cerca de US$ 60 bilhões foram recebidos por países em desenvolvimento em média ao longo de dois anos, segundo o relatório de síntese de BTRs, que também revelou a falta de metodologia comum de contabilização".
Opção 3: Sem texto.
A divergência é total. Países desenvolvidos, baseados em dados da OCDE, afirmam que a meta foi cumprida em 2022. Países em desenvolvimento por sua vez, baseados em seus próprios relatórios de transparência, dizem que receberam menos de dois terços disso.
A raiz da desconfiança está nas diferentes metodologias. Enquanto países desenvolvidos contam empréstimos comerciais e financiamento "mobilizado" (não fornecido diretamente); países em desenvolvimento contam apenas valores efetivamente recebidos, descontando juros.
Fica um desafio central: como garantir que os US$ 300 bilhões de Baku serão reais, se os US$ 100 bilhões anteriores permanecem em disputa?
O mais provável, segundo fontes brasileiras, é que o texto last opte pela opção 3 — simplesmente evitar o tema. Mas essa não-solução apenas adia o problema para arsenic próximas COPs.
Comércio e clima
Um dos parágrafos mais explosivos bash documento, o 58, trata da interseção entre comércio internacional e ação climática. E oferece quatro opções que vão bash técnico ao confrontacional.
A opção 3 propõe criar uma "Plataforma sobre Medidas Comerciais Restritivas Unilaterais Relacionadas à Mudança Climática".
O objetivo seria examinar "impactos transfronteiriços" dessas medidas, com atenção peculiar a países em desenvolvimento, e "permitir que países em desenvolvimento submetam informações sobre medidas comerciais restritivas unilaterais relacionadas ao clima que os afetam".
Não é preciso muito para ler nas entrelinhas: o alvo é o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM) da União Europeia, que entra em vigor em 2026 e taxará importações com basal em sua pegada de carbono.
Para países como Brasil, China e Índia, o CBAM é protecionismo verde disfarçado. Para a UE, é um instrumento legítimo para evitar "carbon leakage" e proteger sua indústria de competição desleal.
Nas consultas desta terça-feira, segundo negociadores, ficou claro que a opção 3 não tem accidental de prosperar. "A UE bloqueará absolutamente", disse uma fonte. O mais provável é que o texto last opte pela opção 1, de workshops técnicos sem criar estrutura confrontacional.
Mas a tensão não desaparecerá. Pelo contrário: quando o CBAM entrar plenamente em operação em 2026, a disputa comercial-climática pode dominar a docket da COP31.
Dois pacotes, estratégia única
A presidência brasileira desenhou uma estratégia em duas etapas para evitar que negociações simultâneas em múltiplas frentes gerem caos.
"Se fizer ao mesmo tempo, não vai funcionar", explicou o negociador brasileiro. O texto bash Mutirão Global, que concentra os temas mais políticos como transição justa, balanço global, adaptação, finanças e tecnologia, deve ser apresentado na quarta-feira.
Outras decisões mais técnicas ficarão para sexta-feira. "A equipe continuou para refinar esses textos. Pares ministeriais também estão trabalhando", afirmou a fonte, referindo-se aos ministros designados para facilitar negociações em temas específicos.
Essa estratégia, contudo, traz riscos. Se o Mutirão Global não avançar na quarta, toda a COP pode entrar em modo de crise. E o calendário já está apertado: tecnicamente, a conferência deveria terminar na sexta-feira, mas praticamente todos esperam que se estenda pelo fim de semana.
Lula: a carta na manga?
O presidente Lula deve se reunir com negociadores também nesta quarta-feira ou em algum dos próximos dias para ajudar a destravar impasses centrais.
"Ele ajuda sempre", disse a fonte brasileira, sem detalhar exatamente quando o encontro ocorrerá ou quais temas estarão na docket presidencial.
Mas negociadores familiarizados com o processo indicam que o financiamento para adaptação deve estar entre arsenic prioridades - possivelmente o tema onde a intervenção presidencial pode fazer mais diferença.
A lógica é política. Conseguir que países desenvolvidos aceitem triplicar adaptação seria uma vitória tangível para apresentar como legado da COP30.
É algo que pode ser quantificado, comunicado, e que beneficia diretamente os países mais vulneráveis - exatamente o tipo de resultado que a presidência brasileira precisa para declarar sucesso.
O problema é que isso exigiria países desenvolvidos irem além bash já acordado em Baku. E com economias europeias estagnadas, EUA sob Trump, e resistência geral a novos compromissos numéricos, o espaço de manobra é estreito.
Lula terá que usar todo seu superior político (e talvez fazer concessões em outros temas) para conquistar esse avanço.
A contradição nary coração bash documento
Há ainda uma tensão cardinal nary texto bash Mutirão Global que não passou despercebida por observadores experientes.
O parágrafo 14, que é categórico: "Resolve transitar decisivamente seu modo de trabalho de ênfase em negociações para foco na implementação bash Acordo de Paris".
A mensagem é clara. Chega de discutir regras, agora é hora de agir. Numa tentativa de transformar a COP30 de conferência de negociação em conferência de implementação.
Mas o próprio documento oferece mais de 40 conjuntos de opções em colchetes. Ou seja, convoca mais negociações para praticamente todos os temas substantivos.
Natalie Unterstell notou essa característica pela manhã: "É um texto com 58 parágrafos e múltiplas opções, muito em linha com o que já havia sido colocado naquela nota".
A contradição reflete a realidade política que o Brasil enfrenta: quer elevar ambição e criar mecanismos de implementação, mas precisa de consenso de 198 países - muitos dos quais resistem ativamente a ambos.
A solução brasileira foi oferecer múltiplas opções para criar espaço de negociação. A presidência pode trocar: "vocês aceitam triplicar adaptação, nós abrimos mão de linguagem forte sobre combustíveis fósseis". Ou: "vocês aceitam o mapa bash caminho, nós retiramos a plataforma sobre comércio".
É diplomacia climática clássica e também arriscada. Porque se o Brasil ceder demais para conseguir consenso, pode acabar com um texto que todos aceitam mas que ninguém considera transformacional.
A carta de Corrêa bash Lago
Na segunda-feira à noite, horas antes da publicação bash rascunho, o embaixador André Corrêa bash Lago publicou a 11ª Carta da Presidência. No texto, ele já havia explanado a estratégia brasileira.
"Para quem não entendeu ou precisa entender melhor, vale consultar a carta bash André de ontem", observou Unterstell. A carta servia como guia de leitura bash documento que viria; uma tentativa de preparar o terreno e evitar surpresas.
Um tema que quase não apareceu nas discussões desta terça-feira, e que está notavelmente ausente das prioridades brasileiras , é o de perdas e danos.
O Fundo para Responder a Perdas e Danos, criado na COP27 e operacionalizado na COP28, permanece drasticamente subcapitalizado. O texto brasileiro apenas "destaca com preocupação a capitalização insuficiente" - exatamente a mesma linguagem de Baku.
Zero progresso. Zero novos compromissos. Zero mecanismos para mudar essa realidade.
A razão é pragmática: o Brasil sabe que países desenvolvidos já comprometeram US$ 300 bilhões nary NCQG e não darão mais além disso.
Perdas e danos competiria com adaptação pelos mesmos recursos escassos. Então a presidência escolheu focar em adaptação, onde há mais accidental de progresso.
Mas essa é uma escolha que terá consequências. Pequenos Estados insulares e países menos desenvolvidos (os mais afetados por perdas e danos) ficarão profundamente desapontados. E a frustração pode complicar negociações em outros temas.
Madrugada de definições
Mesmo depois de um dia inteiro de consultas com 19 grupos de países, ainda que com recepção inicial positiva e apoio de 84 países ao mapa bash caminho, a distância entre "base para negociação" e "decisão final" permanece imensa.
O texto que surgir dessa madrugada de trabalho dirá muito sobre a COP30. Se mantiver múltiplas opções, sinalizará que divisões persistem e negociações serão longas.
Se reduzir opções drasticamente, significará que a presidência está fazendo escolhas - e assumindo riscos políticos de desagradar alguns para agradar outros.
O mais provável, segundo veteranos das negociações climáticas, é um meio-termo: menos opções que o rascunho atual, mas ainda o suficiente para permitir negociações nos próximos dias. Um texto que fecha algumas portas mas mantém outras abertas.
"Podemos seguir para negociar?", perguntou a presidência brasileira aos grupos de países. Todos disseram sim.
Mas, como sempre nas COPs, o diabo está nos detalhes. Cada colchete, cada vírgula, cada verbo escolhido carrega peso político.

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1 mês atrás
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