Basicamente, a pesquisa mostra como o mercado de trabalho na maior economia mundial estrangulou as típicas ocupações de classe média, em decorrência do enfraquecimento dos sindicatos e da promoção do que se convencionou chamar de "neoliberalismo".
Como resultado, sobreveio a polarização: numa ponta, uma pequena minoria em postos altamente qualificados e bem remunerados. Na outra, uma maioria de trabalhadores disputando vagas precarizadas e pouco glamourosas.
Por sinal, o "ressentimento" da classe trabalhadora norte-americana que ficou para trás na corrida fratricida por oportunidades é frequentemente apontado como motivo para a ascensão de uma nova direita extremista, encarnada na figura de Donald Trump.
No Brasil, quinto país mais desigual do mundo, e historicamente marcado pela concentração de renda, a polarização do mercado de trabalho também é uma realidade.
Por aqui, sete a cada dez trabalhadores (68%, para ser mais exato) ganham até dois salários mínimos, segundo o Censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Quando miramos apenas a fotografia do mercado de trabalho formal, percebemos que 80% dos 45 milhões de brasileiros com carteira assinada ganham até cinco salários mínimos (R$ 7.590).
Somente 2,5% recebem mais de dez — ou seja, uma remuneração mensal superior a R$ 15 mil. Os dados foram compilados pelo site Poder 360 com base em dados oficiais da Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do governo federal.
A situação é agravada quando levamos em conta o "libera geral" da pejotização no topo da pirâmide social. Pessoas de alta renda têm constituído pessoas jurídicas prestadoras de serviço para driblar o pagamento de impostos.
Voltemos, então, ao tema da Inteligência Artificial. Em geral, o debate sobre tecnologias "disruptivas", como tudo nestes dias, tende a ser automaticamente capturado por posturas extremas.
De um lado, "tecno-utopistas" prometem saltos de produtividade por meio de robôs e algoritmos. Os mais espertos, inclusive, ganham um bom dinheiro dando pitacos sobre como se portar diante dessa nova realidade inexorável.
De outro, os "neoludistas" (herdeiros ideológicos dos pregadores da destruição das máquinas nos primórdios da revolução industrial) alertam para a supostamente inevitável substituição dos trabalhadores de carne e osso pelos chips de silício.
Como sabemos, todo avanço tecnológico implica a destruição de postos de trabalho e a criação de tantos outros. O xis da questão é diferente: com a explosão da Inteligência Artificial, é possível — para não dizer provável — que a polarização econômica se agrave.
Sem políticas efetivas de distribuição de renda, taxação dos mais ricos e capacitação profissional dos mais pobres, a era da Inteligência Artificial tem tudo para tornar ainda mais seleto o reservado clube da elite agraciada com trabalhos recompensadores.
Já à massa de trabalhadores no limite da substituição por máquinas devido à "baixa produtividade", como se diz no jargão econômico, sobrarão — se tanto — as ocupações 6x1 sub-remuneradas. Caixas de supermercados e de restaurantes fast-food que o digam.
O agravamento da polarização econômica é um dos principais temas do recém-lançado livro "O que os coaches não te contam sobre o futuro do trabalho", que também dá título a este artigo.
A obra compila quatro anos de produções publicadas no UOL e na Repórter Brasil por este colunista — e por seu colega Leonardo Sakamoto.
Ficam aqui o convite para a leitura do livro e também os votos de um feliz 2026!
Opinião
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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