Crédito, Getty Images
- Author, Frankie Adkins
- Role, BBC Future
Há 9 minutos
As bolas de Netuno (Posidonia oceanica) são emaranhados de algas marinhas redondos e compactos, encontrados principalmente no mar Mediterrâneo.
As Posidonia são usadas há séculos para embalagem, roupas de cama e até para o isolamento de residências.
Mas pesquisadores da Universidade de Barcelona, na Espanha, descobriram que essas bolas esponjosas estão realizando espontaneamente outra função. Elas estão retirando plástico do fundo do mar.
No oceano, os microplásticos (partículas de plástico de menos de 5 mm) costumam se originar de produtos como sacos plásticos, garrafas e redes de pesca. Estes fragmentos de plástico podem prejudicar nossa saúde, afetando desde os ossos e as funções cerebrais até os hormônios.
A maior parte da poluição de plástico tem origem em terra firme, mas o oceano (incluindo os prados de algas marinhas) age como escoadouro.
Crédito, Anna Sánchez-Vidal
O que são as 'bolas de Netuno'
As folhas de Posidonia tornam o fluxo da água mais lento, segundo a principal autora do estudo espanhol, Anna Sánchez-Vidal.
"Existem menos correntes nos pastos de algas marinhas", explica ela. "Por isso, elas capturam carbono e sedimentos e agem como refúgio para a biodiversidade."
Mas esses campos subaquáticos em movimento também acumulam concentrações mais altas de plástico.
Todos os anos, 1,15 a 2,41 milhões de toneladas de plástico fluem dos rios para o mar. E, se um rio entrar no mar em um local onde houver crescimento de Posidonia, parte daquele plástico fica preso e se acumula.
Mas nem todo o plástico fica retido nos campos de Posidonia.
Todos os anos, no outono, a Posidonia perde suas folhas. Estes cordões fibrosos, ricos em lignina (um resistente polímero orgânico), se entrelaçam, formando densas bolas.
"À medida que se movimentam, elas transportam plástico entrelaçado nas fibras", afirma Sánchez-Vidal.
Os pesquisadores estimaram que os campos de algas marinhas podem capturar cerca de 900 milhões de fragmentos de plástico no Mediterrâneo todos os anos.
Crédito, Getty Images
Em 2018 e 2019, a equipe de Sánchez-Vidal examinou bolas de algas marinhas lançadas em quatro praias da ilha de Mallorca, na Espanha.
No litoral de Sa Marina, Son Serra de Marina, Costa dels Pins e Es Peregons Petits, eles encontraram fragmentos de plástico em metade das amostras de folhas de algas marinhas soltas, somando até 600 fragmentos por kg de folhas.
Apenas 17% das bolas de Netuno continham plástico, mas, quando era encontrado, o material estava retido em alta quantidade, atingindo cerca de 1,5 mil pedaços por kg. E as bolas mais rígidas capturavam o plástico de forma mais eficaz.
"Depois da publicação do nosso estudo, muitas pessoas começaram a me enviar [fotografias de] bolas de Netuno monstruosas", conta Sánchez-Vidal. São bolas que capturaram pedaços de plástico maiores e mais visíveis.
"Às vezes, elas continham absorventes higiênicos internos e externos, lenços umedecidos — objetos com muita celulose, que, por isso, afundam", segundo ela.
"Não, eu realmente não quero receber essas fotos de todo mundo", brinca ela.
Crédito, Getty Images
Como as bolas chegam ao litoral
Mares turbulentos, particularmente durante tempestades e mudanças da maré, podem deslocar as bolas de Netuno do fundo do oceano, segundo Sánchez-Vidal. Algumas bolas mergulham em águas mais profundas, enquanto outras são levadas para o litoral.
"Dizemos que é uma forma que o mar tem de devolver para nós o lixo que nunca deveria estar no leito do oceano", explica Sánchez-Vidal.
Mas a pesquisadora ressalta que as bolas de Netuno não são uma saída para o problema do plástico nos oceanos. "Nunca consideramos as bolas como uma solução, nem como uma forma de limpar o lixo do mar."
Ela pede a qualquer pessoa que encontrar bolas de Netuno que as deixe onde elas estão, na praia ou no oceano.
"As bolas trazem umidade e nutrientes para a praia", explica ela. "Se as retirarmos dali, estamos destruindo este ecossistema emergente da praia."
A descoberta surgiu em uma época em que as algas marinhas sofrem declínio em todo o mundo.
Crédito, Getty Images
No leste do Mediterrâneo, a Posidonia oceanica enfrenta uma ameaça constante e cada vez maior das ondas de calor e da poluição industrial. E uma espécie australiana relacionada, Posidonia australis, também está em declínio, apesar dos esforços de conservação.
Mas, no Mediterrâneo, existem iniciativas locais que correm para recuperar as algas, como a Floresta Marinha da Red Eléctrica na baía de Pollença, na Espanha, e o projeto de ciência cidadã Jardineiros de Posidonia, na Sicília (Itália) e em Malta.
Os campos de algas marinhas fornecem serviços vitais para o ecossistema, melhorando a qualidade da água, absorvendo dióxido de carbono, protegendo o litoral e servindo de berçário e refúgio para espécies marinhas.
"Mas plantar campos de algas marinhas em toda parte para agir como filtros de plástico também não é uma solução", alerta Sánchez-Vidal.
Ela orienta que a saída real está na fonte do problema.
"Precisamos simplesmente evitar que o plástico entre no mar e isso significa reduzir a sua produção."
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