Arden Cho sorri para o lado da câmera. Ela tem cabelo castanho longo e ondulado e usa vários brincos de ouro, blusa creme e casaco marrom, em uma sala com paredes creme e uma janela atrás dela.

Legenda da foto, Arden Cho é a voz em inglês da personagem Rumi em Guerreiras do K-Pop, a animação que ocupou o primeiro lugar da Netflix em 93 países
    • Author, Chi Chi Izundu e Rebecca Thorn
    • Role, BBC Mulheres Globais
  • Há 52 minutos

"Eu odiava ter traços asiáticos, não ter olhos azuis e cabelo loiro, o que era bonito na época", relembra a atriz Arden Cho, responsável pela voz em inglês da personagem Rumi, estrela do filme de animação recordista de audiência da Netflix, Guerreiras do K-Pop.

Em entrevista ao Serviço Mundial da BBC para a série Mulheres Globais, Cho, de 40 anos, descreve sua infância no Texas (Estados Unidos), como a filha mais velha de pais imigrantes da Coreia e sua luta em busca da aceitação na sociedade americana.

O filme conta a história de um trio feminino de K-pop que precisa salvar o mundo das forças do mal. Rumi precisa enfrentar sua identidade como parte humana, parte demônio.

Quando Cho leu o roteiro pela primeira vez, sua identificação foi imediata.

"Nasci na América e me sentia americana, mas havia pessoas que me tratavam como se eu não fosse", ela conta, "e eu tentava encontrar minha identidade como asiático-americana, como coreano-americana, como mulher".

Todos estes elementos que fizeram parte do início da sua vida estavam presentes na jornada de Rumi.

"Honestamente, posso dizer que, em diferentes momentos da vida, eu me odiei muito e queria ser outra pessoa. Quando somos crianças, o que você vê se torna o que irá ser no futuro e eu sinto que simplesmente não via muitas pessoas parecidas comigo."

A personagem Rumi, da animação 'Guerreiras do K-Pop'. Ela tem longo cabelo roxo trançado, veste uma jaqueta multicolorida, segura uma espada e é mostrada em ação, lutando contra demônios.

Crédito, Netflix

Legenda da foto, Para Cho, Guerreiras do K-Pop fez 'a Coreia ser amada'

Quando foi lançado pela Netflix, em junho, Guerreiras do K-Pop registrou 33 milhões de visualizações em apenas duas semanas, atingindo o top 10 da Netflix em 93 países.

Para Cho, estrelar o primeiro filme de animação de Hollywood ambientado na Coreia, com personagens coreanos, foi "um sonho que se tornou realidade". Mas também fez dela um poderoso modelo para as crianças asiático-americanas, do tipo que ela não teve quando era jovem.

Cho conta que muitos coreano-americanos disseram a ela que este é "um momento reconfortante". Eles estão orgulhosos, pela primeira vez, pela sua dupla bagagem e cultura.

"Sinto que o K-pop realmente, de verdade, abriu o caminho", afirma ela. "A beleza coreana teve um grande impacto e fez as pessoas amarem a Coreia."

"Mas acho que este filme foi além. Todos, agora, querem ir para a Coreia."

O sucesso da animação não era tido como certo. E Cho relembra sua percepção de que a equipe de produção "às vezes, parecia enfrentar um desafio, como se escalasse uma montanha".

"Percebo como é horrível dizer isso, mas, sempre que há um projeto liderado por asiáticos, as pessoas sentem que há um risco", ela conta. Por isso, ao aceitar o papel, Cho se esforçou para conhecer pessoalmente todas as pessoas que trabalharam no filme.

As estrelas que fizeram as vozes de 'Guerreiras do K-Pop', Ji-Young Yoo, Arden Cho e May Hong, em frente a uma grande imagem das suas personagens

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, As atrizes Ji-Young Yoo (esq.) e May Hong (dir.) também emprestaram suas vozes para a animação

Como asiático-americana que mora nos Estados Unidos, esta situação "é desoladora e decepcionante", segundo Cho. "Os imigrantes transformaram a América no que ela é hoje."

A imprensa coreana calcula que até 150 mil imigrantes coreanos sem documentos, incluindo crianças adotadas, estariam sujeitos à deportação.

Arden Cho sorri para a câmera, segurando uma fotografia de si própria quando criança. Ela tem longo cabelo castanho-escuro ondulado e, na fotografia, está em uma apresentação de dança, vestindo uma fantasia com saia e mangas bufantes, em pose com as pernas cruzadas e as mãos no ar.

Legenda da foto, Cho conta que, quando era mais jovem, as pessoas não sabiam o que significava ser coreano nos Estados Unidos

Ao chegar à idade adulta, Cho acabou percebendo que o racismo que ela vivenciou quando era mais jovem se devia, principalmente, à falta de conhecimento. As pessoas não sabiam o que significava ser coreano ou asiático.

"Mas, nos dias de hoje e na situação atual, percebo que o mundo e as pessoas deveriam saber mais, o que é muito decepcionante", ela conta. "Às vezes, acho que nos sentimos sem esperança."

Por isso, parece muito especial, segundo ela, que Guerreiras do K-Pop possa trazer "esperança, alegria e amor para todas essas comunidades distintas".

"Talvez por isso este seja meio que o filme do verão, pois simplesmente precisávamos de um pouco de esperança, de algo que nos unisse a todos."

O crescimento da inteligência artificial é uma preocupação importante para a indústria cinematográfica. O fenômeno levanta a possibilidade de que, no futuro, a IA possa ser empregada para produzir filmes de animação como Guerreiras do K-Pop.

Cho sabe que a IA já está sendo empregada para reproduzir as vozes dos atores, mas quer "ter esperança na humanidade" e acreditar que as pessoas continuarão buscando a arte criada por seres humanos.

"Sim, tenho certeza de que haverá atores e cantores de IA", prossegue ela. "Sei que eles já existem."

"Sei que nossas vozes já estão sendo manipuladas, mas espero que as pessoas tenham um pouco de respeito, vontade e amor pelo que é real."

A trilha sonora de Guerreiras do K-Pop também vem dominando as paradas de sucesso globais. Sete de suas faixas estão no Top 100 da Billboard.

A animação conta com sua própria fan art e o público de todo o mundo pede uma continuação.

Cho conta que gostaria de poder responder se isso irá acontecer. Mas ela e os fãs precisarão esperar a luz verde da Netflix ou da Sony Pictures Entertainment, produtora do filme.

"Sei que há muitos rumores, ouvi coisas maravilhosas", revela Cho.

"Vamos aguardar, acho que todos no mundo inteiro iriam se rebelar se não houvesse uma continuação."

Gráfico com 'Mulheres Globais' escrito em branco sobre fundo roxo, com arcos roxo-azulados em círculos concêntricos