ANUNCIE AQUI!

"95% das estatísticas que eu vejo na internet sobre o uso do ChatGPT estão erradas", diz Nicolas Robinson Andrade, diretor de relações governamentais da OpenAI para América Latina e Caribe. Corrigindo o erro: o Brasil é um dos três mercados que mais usam o chatbot e top 5 na criação de aplicações com o modelo de linguagem que impulsionou o frenesi da IA que vivemos hoje.
De olho no PL da IA, legislação no que vai regular a tecnologia no Brasil, a OpenAI engatou um corpo a corpo com integrantes do Congresso Nacional. Além de pleitos comuns a outras Big Tech, como a remuneração para donos dos dados usados para tornar os robôs inteligentes e o impasse sobre IAs de alto risco, a empresa coloca na mira alvos próprios, como o temor por uma regra que isole o Brasil do mundo e a responsabilidade por aplicações de IA, afirmam seus diretores ao Radar Big Tech em entrevista exclusiva. Há ainda a discussão sobre ampliar as fontes aptas ao treinamento da IA, algo que a coloca no front oposto ao de Google e Meta. Para convencer parlamentares, a empresa leva debaixo do braço exemplos do que já é feito aqui com sua tecnologia.
A legislação não é só para as companhias, mas também para a pessoa comum. Quando alguém usa o FavelaGPT ou ChatGPT para saber como fazer um trabalho escolar, que tipo de doença é essa ou para procurar o médico, essas são consultas do cotidiano, mas essas pessoas também estão sendo reguladas
Josiara Diniz, gerente de políticas públicas da OpenAI
O que rolou?
A OpenAI tem encurtado a distância com legisladores, visto que:
- Até agora, foi a única dentre as Big Tech a participar de audiência pública da Comissão Especial da Câmara dos Deputados para tratar do PL de IA (2883/23). E...
- ... Na semana passada, realizou em Brasil um evento para o qual convidou mais de cem assessores de parlamentares, ministérios, agências regulatórias e conselhos. Entre os participantes...
- ... Estavam lá integrantes das equipes dos deputados Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e Luisa Canziani (PSD-PR), relator e presidente da comissão especial, respectivamente; gente da Anatel, ANPD, CADE e das pastas da Fazenda, Ciência, Tecnologia e Inovação e dos Direitos Humanos. Todos pinçados a dedo.
A gente focou em quem de fato faz assessoria política para tomada de decisão (...) É muito importante que o Brasil veja que pode se tornar líder em IA, porque, de certa forma, ele já é líder pelo uso
Josiara Diniz

Por que é importante?
A OpenAI não possui os anos de jogo duro político acumulados por Google, Microsoft e Meta —chegou ao Brasil pouco menos de dois anos, quando Andrade assumiu o posto. Conta ainda com menos tentáculos comerciais, o que lhe dá menos poder de fogo, já que seu único modelo de negócio por ora é o uso pago dos GPT —as outras, por sua vez, atuam com redes sociais, serviços digitais, computação em nuvem, mensageria, publicidade online, streaming de vídeo, intermediação de pagamento, suítes de produtividade e por aí vai. Dado o cenário, a OpenAI corre para se fazer ouvir sobre o PL da IA, nos seguintes pontos:
Se, a partir do seu plano brasileiro de inteligência artificial, o Brasil coloca que pode ser líder, desenvolver aqui e olhando para diversidade linguística, social e cultural do país, a gente não pode ter uma legislação que não converse com isso, senão vai ser um entrave. A gente pode fazer uma legislação que seja para o bem de todos, não sufoque o ecossistema de desenvolvedores, empresas emergentes e consiga colocar o Brasil, não como espectador da mudança, mas como protagonista
Josiara Diniz
- Fontes de treinamento de IA: pode ou não usar dados já abertos ao público?
O texto poderia levar a uma concentração de mercado de IA. Seria melhor para o Brasil ter um sistema onde as empresas pudessem treinar [IA] com dados publicamente disponíveis. Quando coloca um limite ao treinamento, favorece naturalmente um número pequeno de empresas com acesso às próprias bases de dados
Nicolas Andrade
- IA de alto risco: serviços com essa classificação enfrentam carga regulatória maior que os outros.
Como o Brasil vai decidir que uma coisa é alto risco e outra não é, precisa conversar com essas categorias em outros países e regiões líderes de IA. Se a gente criar a nossa própria categoria diferente, não fica claro não só para quem tá inovando e criando, mas também para quem fiscaliza. Do jeito que está hoje, não fica claro no projeto de lei se qualquer uso de IA generativa é de alto risco. A maioria de brasileiros concordaria que traduzir um parágrafo de inglês para o português não é atividade de alto risco. Quando a gente fala numa legislação que vai determinar o futuro da IA no Brasil, não pode ter espaço para 'depende'
Nicolas Andrade
- Pagamento de direitos autorais
A gente não tem conhecimento de nenhuma forma existente em que se possa fazer
Nicolas Andrade
- Quem é o responsável pelo resultado das aplicações de IA?
A cadeia de valor da IA existe em qualquer lugar do mundo, mas aqui no Brasil chama muito atenção. O entendimento muito básico de alguém que descobriu a IA ontem é que você entra numa janela e faz uma pergunta. Mas, quando a gente fala em ecossistema de desenvolvedores e criadores, estamos numa situação que, numa analogia que usei na audiência pública, o fabricante de tijolo não é necessariamente responsável pela cor dentro do quarto. É a mesma coisa no mundo da IA. É importante fazer esse tipo de diferenciação de responsabilidades.
Nicolas Andrade

Não é bem assim, mas tá quase lá
Ainda que seja uma das líderes na corrida global da IA, a OpenAI tem uma presença pequena no Brasil. Segundo Andrade, o plano é ampliar a operação no país no médio prazo.
Enquanto inaugura nos Estados Unidos nova frente de negócios governamentais com um contrato de US$ 200 milhões do Departamento da Defesa, aqui no Brasil a empresa não concorre a licitações públicas ainda. Há, porém, abertura para conversa, diz Andrade, já que existe sinergia entre os objetivos de governos e os da OpenAI. Distante do Executivo nos negócios, a empresa comemora a proximidade em outro campo: no relatório do Plano Brasileiro de IA, capitaneado pelo MCTI, ela foi citada como a maior desenvolvedora de iniciativas de destaque.
É com esses casos que ela quer fazer brilhar os olhos dos legisladores. Durante o evento de Brasília, Solinftec foi uma das convidadas a dividir sua experiência. A companhia de agronegócio criou uma IA para ajudar o agricultor a aumentar a produtividade no campo, do plantio à colheita. "Eles estão literalmente vendendo robôs com inteligência artificial do interior de São Paulo para os Estados Unidos", afirma Andrade.
Mas, até mesmo quando trata de outra empresa, o diretor da OpenAI não perde de vista os objetivos regulatórios da dona do ChatGPT. "Todos esses debates ficam muito mais palpáveis quando a gente fala com as pessoas que estão lá na ponta. Se os dados de treinamento não incluírem informação brasileira, de repente as informações do solo e de quando a semente pode ser plantada não serão tão boas", afirma.
DEU TILT
Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

TEVE TAMBÉM EM REDAR BIG TECH
Marco Civil da Internet #1
STF responsabilizará redes se não atuarem para remover conteúdo criminoso Leia mais
Marco Civil da Internet #2
'Preocupação' e 'incertezas': o que dizem Meta e Google sobre Marco Civil Leia mais
Marco Civil da Internet #3
STF torna Marco Civil complexo ao criar 'prateleiras de responsabilização' Leia mais
Marco Civil da Internet #4
STF cria duplo regime para redes e arrasta IA para Marco Civil da Internet Leia mais
Deu Tilt #1
Apelido de 'LinkeDisney' tem seu lado positivo, diz diretor do LinkedIn Leia mais
Deu Tilt #2
Só 20% estão no LinkedIn atrás de emprego, diz diretor da rede no Brasil Leia mais
Deu Tilt #3
Habilidades com IA já são as mais buscadas por empregadores no Linkedin Leia mais
Comentários
Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro