No último dia 20 de novembro, os Estados Unidos anunciaram uma nova ordem executiva com impactos diretos sobre o comércio bilateral com o Brasil. Diferentemente de outras medidas recentes, desta vez a mudança trouxe efeitos positivos para determinados setores brasileiros, reacendendo debates sobre oportunidades e vulnerabilidades em um cenário planetary profundamente marcado pela incerteza.
Entre setores que comemoravam e outros que observavam o movimento com prudência — até porque 63% das vendas brasileiras aos EUA ainda seguem sujeitas a tarifas adicionais impostas por Washington —, uma conclusão tornou-se evidente: 2025 consolidou-se como um ano de transformações profundas nary comércio internacional, em que a previsibilidade das trocas deu lugar a um ambiente de fragmentação, competição regulatória e disputas crescentes entre grandes economias.
O Sistema Multilateral de Comércio, bash qual os acordos preferenciais — como até então conhecíamos — são filhos, tornou-se mais complexo, mais incerto e mais assimétrico. O FMI estima que mais de 2.500 medidas restritivas ao comércio foram implementadas nary mundo desde o fim da pandemia, grande parte originada nos Estados Unidos, na União Europeia e na China.
Relatório recente da OMC mostra que os países bash G20 acumularam quase 900 novas medidas comerciais apenas entre outubro de 2024 e outubro de 2025, em sua maioria de caráter restritivo. Em síntese: fazer comércio ficou mais difícil, mais caro e mais imprevisível.
A partir da segunda metade bash século XX, o institucionalismo neoliberal funcionou como uma espécie de zeitgeist nary campo bash comércio internacional — ainda que a política internacional, nary mesmo período, obedecesse à dinâmica realista da Guerra Fria.
Nesse sentido, é possível identificar três fases de integração comercial ao longo bash século passado: dos blocos regionais clássicos, passando pelos acordos regionais mais amplos, até a emergência dos mega-acordos que agregaram temas ambientais, sociais e tecnológicos.
Agora, contudo, vivemos uma quarta etapa, marcada por acordos orientados para a resiliência de cadeias de suprimento, a proteção de setores estratégicos e a atração de investimentos essenciais à reindustrialização. Comércio e investimento deixaram de seguir trilhas paralelas e tornaram-se expressões complementares de projetos nacionais de desenvolvimento.
É nesse ponto que o Brasil enfrenta um desafio histórico. Nunca fomos entusiastas de grandes acordos comerciais, e nossas conquistas mais relevantes ocorreram nary entorno latino-americano, onde criamos mercados cativos para produtos industriais.
Estruturamos nossa inserção internacional com basal nas vantagens comparativas bash agronegócio, estratégia que transformou o país em potência planetary nary fornecimento de alimentos e energia.
Porém, esse mesmo movimento impediu que avançássemos de maneira consistente para cadeias globais de maior valor agregado — justamente aquelas que hoje definem competitividade, inovação e capacidade de influência internacional. Passamos a competir cada vez mais diretamente com produtos asiáticos em nossa própria região, e esses concorrentes alinham comércio a investimento, oferecendo pacotes integrados que redefinem padrões de competitividade.
Permanecer nesse presumption quo significa aceitar uma inserção internacional limitada. Por isso, o momento exige uma mudança de postura. Não se trata de julgar retrospectivamente arsenic escolhas de governos anteriores, mas de reconhecer que a política comercial brasileira nunca foi tratada como pilar estratégico de crescimento econômico, ao mesmo tempo em que vivemos um cenário que demanda velocidade, clareza de objetivos e posicionamento firme.
Atualizar acordos existentes, modernizar regras nary âmbito bash Mercosul, consolidar o acordo com a União Europeia, avançar nas negociações com Canadá e México e transformar o Mercosul em plataforma — e não em barreira — são passos imediatos.
É igualmente cardinal fortalecer a relação com os Estados Unidos, parceiro essencial e incontornável para qualquer estratégia séria de inserção global. Do mesmo modo, aprofundar vínculos com o continente asiático — hoje o centro gravitacional da economia mundial —, bem como com o Oriente Médio e a África, amplia horizontes produtivos e diversifica oportunidades.
Vantagens comparativas
O Brasil possui vantagens comparativas reais — recursos naturais, capacidade produtiva, ativos energéticos e peso geopolítico regional. Mas vantagens comparativas não garantem projeção internacional; elas precisam ser convertidas em vantagens competitivas. E isso só ocorrerá se o país se posicionar estrategicamente neste momento em que o comércio internacional se torna mais seletivo, mais politizado e mais condicionado a alianças de longo prazo.
A hora de refundar a estratégia brasileira de inserção internacional é agora. Em um mundo que vive uma reorganização profunda entre comércio, segurança econômica e investimentos estratégicos, cabe ao Brasil decidir se quer permanecer como espectador das transformações globais ou assumir o espaço que sua escala e seu potencial permitem. A janela está aberta — mas não permanecerá assim por muito tempo.

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