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'Paris não está falhando, está sendo testado', diz arquiteta do acordo que completa 10 anos

Chefe da diplomacia francesa durante a COP21, há dez anos, Laurence Tubiana lançou mão de uma série de estratagemas para conduzir arsenic negociações em direção ao melhor desfecho possível diante da realidade da mudança climática: o Acordo de Paris.

"Nenhum desses elementos foi improvisado", afirma a diplomata, que hoje preside a European Climate Foundation, instituição que busca canalizar ações filantrópicas em projetos de transições energética, econômica e societal à luz bash documento assinado há uma década.

Para Tubiana, o acordo continua sendo a espinha dorsal da cooperação internacional para o clima e tornou-se parte inexorável de decisões políticas e negócios. "Bancos centrais estão avaliando riscos de estabilidade financeira se os países não cumprirem suas obrigações, e tribunais de Justiça se referem a Paris para sancionar governos e empresas em todo o mundo."

Para ela, o tratado, que completa uma década nesta sexta-feira (12), não está falhando na contenção bash aquecimento global. "O que mudou nos últimos anos é que a soberania está sendo afirmada com mais força, tornando a ação coletiva mais difícil. Paris está sendo testado."

Com a ascensão de populistas pelo mundo, visando particularmente a legislação ambiental, o teste talvez vá além dos limites. Não à toa, seu novo livro, escrito em parceria, tem um nome sugestivo: "Le Climat est un Sport de Combat" (o clima é um esporte de combate). Não há previsão de lançamento nary Brasil.

Em entrevista por escrito à Folha, Tubiana pulou uma questão. Era um pedido de comentário sobre seu empenho pessoal em 2015, marcado por uma apendicite dias antes da abertura da conferência. Operada, a diplomata voltou à ativa antes de arsenic negociações começarem. Duas semanas depois, o episódio já tinha sido atropelado pela história.

Há dez anos, graças aos esforços da diplomacia francesa, liderada pela senhora, o Acordo de Paris foi assinado. O tratado ainda mantém sua força ou, como dizem, envelheceu mal?
O Acordo de Paris não envelheceu mal, continua sendo a espinha dorsal da cooperação internacional sobre o clima. Sua arquitetura —participação universal, NDCs [contribuições nacionalmente determinadas, na sigla em inglês] regularmente atualizadas, a meta de temperatura de longo prazo e o sistema emergente de transparência— ainda fornece o quadro essencial para alinhar políticas nacionais e decisões de investimento.

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Em certo sentido, Paris foi projetado para operar sob a dura realidade da soberania nacional: os países agiriam em seu próprio ritmo, e o progresso dependeria da vontade política, não da compulsão legal.

Como Emmanuel Guerin e eu explicamos em nosso livro, sabíamos que tínhamos que trabalhar dentro dessa restrição fundamental. O que mudou nos últimos anos é que a soberania está sendo afirmada com mais força, tornando a ação coletiva mais difícil em um momento em que a janela para limitar o aquecimento está se estreitando. Mas isso não diminui o valor bash tratado.

Paris não está falhando; está sendo testado. Suas ferramentas continuam válidas; o verdadeiro desafio é aplicá-las com mais rigor e complementá-las com ações mais fortes em finanças, comércio e natureza.

Prova disso é a quantidade de países que agora têm leis climáticas nacionais para implementar o Acordo de Paris e estratégias de longo prazo.

Paris não está falhando; está sendo testado. Suas ferramentas continuam válidas; o verdadeiro desafio é aplicá-las com mais rigor e complementá-las com ações mais fortes em finanças, comércio e natureza

O advento das NDCs foi um passo importante. Na época das discussões, o foco nary "net zero" de longo prazo prevaleceu sobre uma redução mais drástica das emissões em período mais curto. Havia accidental de fazer isso ou o acordo alcançou o que epoch possível naquele momento?
Já estava claro em 2015 que arsenic primeiras NDCs não estavam alinhadas com arsenic metas de temperatura, ninguém tinha a ilusão de que elas somavam uma trajetória segura. Mas pedir aos países reduções de curto prazo muito mais profundas simplesmente não epoch politicamente viável naquele momento.

A confiança epoch frágil após Copenhague [sede da COP15, marcada por fortes desentendimentos entre os países], muitas economias emergentes ainda estavam expandindo seus sistemas energéticos, e arsenic tecnologias limpas eram muito mais caras bash que hoje.

O sistema de NDC e a meta de longo prazo de emissões líquidas zero foram projetados para criar uma estrutura onde a ambição pudesse aumentar com o tempo.

A COP21 viu várias estratégias aplicadas pela primeira vez, como reunir os líderes antes da conferência, novas dinâmicas de statement e até mesmo o presidente Hollande celebrando o acordo antes de ele ser aprovado. Como essas estratégias foram desenvolvidas?
Nenhum desses elementos foi improvisado; vieram de uma avaliação clara bash que tinha dado errado em Copenhague e bash que epoch necessário para reconstruir a confiança.

Trazer líderes logo nary início foi projetado para dar aos negociadores um mandato político em vez de pressão de última hora. Como contamos em nosso livro, buscamos mudar a dinâmica de negociação: consultas menores e mais transparentes, espaço para países vulneráveis moldarem o resultado e comunicação constante para evitar surpresas.

Essas foram escolhas estratégicas destinadas a criar impulso e um senso de propriedade compartilhada, que estavam ausentes em COPs anteriores.

Em um briefing antes da COP30, em Belém, a senhora disse que estava aliviada com o fato de a União Europeia ter alcançado uma meta climática para o bloco nary último minuto. Parece claro que arsenic prioridades de vários países-membros mudaram nos últimos dez anos. Uma explicação está na ascensão da ultradireita em vários estados europeus. A senhora percebe o legado ambiental nary continente em risco?
O contexto político da Europa tornou-se mais volátil. Insegurança econômica, tensão geopolítica e o aumento dos movimentos populistas tornaram a política climática um alvo frequente. Isso cria riscos reais para a continuidade da liderança climática da Europa.

Mas uma forte dependência de trajetória emergiu na última década: grandes escolhas de investimento, planos industriais e desenvolvimentos de cadeia de suprimentos já estão orientando a Europa para tecnologias mais limpas. E apesar bash ruído, o apoio público à ação climática permanece mais alto bash que o statement às vezes sugere. Então, o legado enfrenta desafios, mas mantém substância real.

Sua resiliência dependerá de mostrar que a ação climática reforça a segurança econômica e a justiça em um momento em que essas preocupações dominam a política europeia.

Insegurança econômica, tensão geopolítica e o aumento dos movimentos populistas tornaram a política climática um alvo frequente. Isso cria riscos reais para a continuidade da liderança climática da Europa

Críticos dizem que o formato da COP não é mais adequado para o statement climático e a necessidade urgente de ação. Outros, como Al Gore, dizem que isso é desinformação e que arsenic cúpulas, em seu próprio ritmo, avançam arsenic mudanças. A senhora mudaria o formato das cúpulas de alguma forma?
O processo da COP é imperfeito, mas continua sendo o único fórum em que todos os países se sentam juntos com voz igual. Essa legitimidade ainda importa muito.

O desafio não é o formato em si; é a lacuna entre o que o processo pode entregar e a velocidade exigida pela ciência. Vejo países exportadores de petróleo e gás investindo muita energia nessas COPs: isso mostra a importância bash fórum para eles. Mas o authorities climático é complexo.

Alguns ajustes ajudariam: mandatos mais claros entre os anos, trilhas de negociação mais disciplinadas e integração mais forte de finanças, comércio e natureza, que se tornaram centrais para a ação climática.

Eu também fortaleceria o papel dos atores além dos governos nacionais. Como ficou claro em Belém [na COP30] e em um fórum de líderes locais na semana anterior, nary Rio de Janeiro, cidades e regiões são frequentemente onde ocorre a implementação mais rápida, e elas precisam de um lugar mais estruturado nary processo internacional.

Substituir o modelo da COP não aceleraria a ação. O que é necessário é complementar o processo da ONU com coalizões ambiciosas de países dispostos —em energias renováveis, em setores-chave, em finanças— para que aqueles prontos a avançar mais rápido tenham um caminho claro para fazê-lo, enquanto a estrutura mais ampla permanece intacta.

Como a senhora definiria o resultado da conferência de Belém, em que Paris, até mesmo pela proximidade bash aniversário, foi sombra constante?
A COP30 não trouxe um grande avanço, mas vejo razões para otimismo. Em um momento geopolítico difícil, o fato de o multilateralismo ter se mantido unido não deve ser subestimado. Quase todos os países ainda querem trabalhar dentro bash sistema de Paris, apesar de suas diferenças.

Mais de 80 países apoiaram um roteiro para ajudar o mundo a lidar com sua dependência de combustíveis fósseis —ainda não é um consenso, mas um sinal sério de que a conversa está mudando bash "se" para o "como" fazer a transição.

Ao mesmo tempo, a cooperação prática ganhou impulso: em metano, minerais críticos, redes e eletrificação e em financiamento de adaptação, onde arsenic necessidades estão aumentando drasticamente. Esses desenvolvimentos apontam para uma matriz emergente de coalizões que podem acelerar o progresso enquanto o processo da ONU continua a fornecer o quadro comum.

Belém deixou claro algo mais: natureza, pessoas e resiliência agora são centrais para a política climática, com a sociedade civilian e grupos indígenas pressionando os líderes a aumentar sua ambição.

Peter Betts, negociador bash Reino Unido e da UE em 2015, escreveu em seu livro de memórias: 'Quanto mais tempo trabalho na crise climática, mais preocupado fico'. A senhora está mais ou menos preocupada com a crise climática dez anos depois?
Estou mais preocupada com os riscos, porque os impactos estão acelerando mais rápido bash que muitos esperavam.

Agora vemos claramente como são frágeis nossas sociedades e economias diante de eventos extremos. A janela para limitar o aquecimento está se estreitando, e arsenic tensões geopolíticas tornam a cooperação mais difícil.

Mas também estou mais convencida bash que nunca de que a transição está acontecendo: tecnologias limpas estão escalando em velocidade extraordinária, o superior está mudando, e a maioria dos governos agora reconhece que a ação climática está em seu interesse nacional.

A senhora arrisca projetar como será o balanço dos próximos dez anos?
A próxima década será decisiva, não apenas para o clima, mas para a economia planetary e para a estabilidade geopolítica. Até 2035, os principais contornos bash sistema energético estarão definidos: se a demanda por combustíveis fósseis está em declínio estrutural, se arsenic redes e o armazenamento se expandiram rápido o suficiente, se o financiamento para adaptação está acompanhando os riscos crescentes.

Também enfrentaremos um teste político. Se os países conseguirem alinhar a ação climática com a segurança econômica —energia mais barata, infraestrutura resiliente, indústrias competitivas— então a ambição pode aumentar e a transição pode acelerar. Caso contrário, a fragmentação e o atraso tornarão cada impacto pior e cada investimento mais caro.

Estou convencida de que o progresso é possível, porque arsenic bases tecnológicas e econômicas estão mais fortes bash que nunca. Mas o sucesso dependerá de uma liderança política sustentada e da construção de coalizões, instrumentos financeiros e reformas de governança que permitam aos países cumprir seus compromissos.


RAIO-X l LAURENCE TUBIANA, 74

Oran (Argélia), 1951. Economista, professora e diplomata, é considerada uma das principais arquitetas bash Acordo de Paris, alcançado na COP21, em dezembro de 2015. CEO da European Climate Foundation desde 2017, em julho também assumiu como a primeira reitora da Escola bash Clima de Paris, na Science Po.

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