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- Author, Ayelén Oliva
- Role, De Miami (EUA) para a BBC News Mundo
Há 7 minutos
Há mais de um século, a América Latina não era o primeiro destino de visita de um secretário de Estado norte-americano.
Na visita oficial que começou sábado passado (01/02) pelo Panamá, o secretário de Estado Marco Rubio — o primeiro de origem latina a ocupar o cargo — levou outro escolhido pelo presidente Donald Trump para acompanhá-lo.
Trata-se do advogado Mauricio Claver-Carone, de 49 anos. Como Rubio, ele também é de origem cubana e nasceu em Miami, no Estado americano da Flórida.
Claver-Carone construiu aos poucos sua relação de confiança com o presidente durante o primeiro mandato de Trump (2017-2021), quando foi diretor de Assuntos para o Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos.
Veterano em assuntos de política externa e conhecido principalmente pelas suas posições rígidas frente ao governo de Cuba, Claver-Carone foi agora escolhido por Trump como enviado especial do Departamento de Estado para a América Latina. Sua missão é "restaurar a ordem" na região, segundo o presidente.
"Nos últimos quatro anos, o caos e anarquia invadiram nossas fronteiras", escreveu Trump em sua rede Truth Social em dezembro, ao antecipar a nomeação. "Chegou a hora de restabelecer a ordem no nosso próprio hemisfério."
"Mauricio conhece a região e sabe como priorizar os interesses dos Estados Unidos", acrescentou ele. "Ele também conhece as graves ameaças que enfrentamos com a imigração ilegal em massa e o fentanil."
Trump destacou ainda que Claver-Carone trabalhará "incansavelmente para proteger o povo norte-americano".
Empossado na nova função, Claver-Carone faz parte de uma equipe "muito enfocada na América Latina", chefiada pelo também cubano-americano e ex-senador pela Flórida, Marco Rubio.
"Não existe região do mundo, seja por migração, segurança ou comércio, que afete mais a vida individual dos norte-americanos do que a América Latina", declarou ele em entrevista coletiva, na sexta-feira (31/01), antes do início da sua viagem oficial pela América Central e Caribe, que inclui visitas ao Panamá, El Salvador, Costa Rica, Guatemala e República Dominicana.

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Mas, antes mesmo da viagem, já estava clara a relevância da sua figura na política externa do novo governo.
Apenas uma semana depois de assumir o cargo, Claver-Carone se posicionou como a voz dos Estados Unidos frente à Colômbia para solucionar a crise diplomática desencadeada no domingo anterior (26/01), quando o presidente do país, Gustavo Petro, rejeitou dois aviões militares americanos que levavam colombianos deportados. Assim, foi evitada uma guerra comercial entre os dois países.
"Enviamos uma mensagem clara à região e ao mundo", destacou o enviado especial. "Quando há um acordo de boa fé com os Estados Unidos, ele é cumprido."
Da Casa Branca ao BID
Formado pelo Rollins College, na Flórida, com doutorado em Direito pela Universidade Católica da América e mestrado em Direito Internacional e Comparado pelo Centro de Direito da Universidade Georgetown, todas nos Estados Unidos, Claver-Carone começou a estabelecer vínculos com a ala mais rígida do Partido Republicano com um blog chamado Capitol Hill Cubans, criticando a política de abertura americana em relação a Cuba.
Defensor do embargo comercial dos Estados Unidos e de outras severas políticas econômicas, destinadas a suspender o financiamento ao governo cubano, ele também dirigiu a organização Cuba Democracy Advocates, cujo propósito é influenciar a política externa americana.
Foi naquela organização que ele consolidou sua posição de assessor em assuntos latino-americanos, dentro do universo republicano.
Claver-Carone começou sua carreira como assessor legal para a Controladoria do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, durante o governo do presidente George W. Bush (2001-2009).
Ele também foi diretor dos Estados Unidos no Fundo Monetário Internacional (FMI), quando ajudou o ex-presidente argentino Mauricio Macri (2015-2019) a conseguir um empréstimo de US$ 57 bilhões (cerca de R$ 329 bilhões, pelo câmbio atual) — o maior da história da organização.
"Levamos o maior programa da história do Fundo Monetário para a Argentina. Se o programa foi mal administrado, se a Argentina não o executou corretamente ou se custou uma eleição, esta já é outra história", declarou Claver-Carone, em uma conferência virtual com o Conselho Chileno para Relações Internacionais, em 2020.

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Mas foi no primeiro mandato de Trump que seu nome adquiriu mais relevância.
Em 2018, Claver-Carone foi nomeado responsável pelos assuntos do Hemisfério Ocidental no Conselho de Segurança Nacional e assessor especial do presidente.
Naquela função, ele foi um dos principais agentes da elaboração da política dos Estados Unidos para a Venezuela, que decidiu pelo apoio ao então líder da Assembleia Nacional venezuelana, Juan Guaidó, em suas pretensões de chegar à presidência. O plano acabou quando Guaidó abandonou o país e Maduro consolidou o poder.
Ainda assim, Claver-Carone pressionou como assessor para que fossem impostas fortes sanções à Venezuela e a Cuba. Ele justificou as medidas mencionando as "graves" violações de direitos humanos dos governos dos dois países.

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Em 2020, impulsionado pelo próprio Trump, Claver-Carone foi nomeado presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que concede financiamento a longo prazo para o desenvolvimento econômico, social e institucional da América Latina e do Caribe.
Sua nomeação não foi livre de críticas, por se tratar de um cargo historicamente reservado para a América Latina. Ele permaneceu no BID por dois anos e ficou marcado por um escândalo.
Claver-Carone foi acusado de manter relacionamento com sua chefe de gabinete, Jessica Bedoya. Eles já haviam trabalhado juntos no Conselho de Segurança da Casa Branca e Bedoya foi favorecida por promoções. Claver-Carone foi forçado a renunciar por ter violado o código de ética da instituição.
Ele foi o primeiro presidente da história do BID a ser demitido. Claver-Carone sempre negou o relacionamento e declarou mais de uma vez que foi vítima de uma campanha de difamação.
"No afã das elites arraigadas para prejudicar minha liderança e reputação, bem como a do meu pessoal, o Banco não agiu como uma instituição baseada em normas", defendeu-se ele, pouco mais de dois anos atrás.
Após sua saída do BID, Claver-Carone trabalhou em um fundo de capital privado de investimentos do Oriente Médio para a América Latina, segundo a plataforma de notícias especializada em economia Bloomberg.
Agora, ele volta à Casa Branca para ajudar a definir a estratégia dos Estados Unidos na América Latina.
"A nomeação de Claver-Carone representa a ala mais rígida da equipe que acompanha o presidente Trump", declarou à BBC News Mundo — o serviço em espanhol da BBC — um ex-embaixador que conhece de perto o advogado.
Olhar sobre a região
Antes da viagem pela América Central, sua agenda começou na última sexta-feira (31/01), com a reunião do enviado para missões especiais do governo Trump, Richard Grenell, com o presidente venezuelano Nicolás Maduro, em Caracas.
"Não será uma negociação", adiantou Claver-Carone, horas antes do encontro.
"É uma visita para transmitir uma mensagem inequívoca sobre dois pontos: os criminosos venezuelanos, incluindo os membros da (gangue) Tren de Aragua, serão devolvidos e é responsabilidade da Venezuela recebê-los; e os reféns norte-americanos devem ser liberados e regressar para os Estados Unidos", destacou ele.
"Se estas duas exigências não forem cumpridas, haverá consequências. Não haverá negociação sobre o petróleo da Venezuela. O petróleo venezuelano não faz falta para os Estados Unidos. Não haverá quid pro quo."
"Tenho um conselho para Maduro: que atenda às exigências porque, se não as cumprir, haverá consequências. Por isso, sugerimos que ele as considere uma oportunidade", declarou ele, deixando clara a forma de abordagem do seu governo em relação à Venezuela.
A visita ocorreu conforme o programado e Grenell regressou para os Estados Unidos com seis cidadãos norte-americanos que estavam detidos em Caracas. Eles haviam sido acusados de "terrorismo" e de serem "mercenários" de alto perfil.

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"A agenda de política externa do presidente Trump começa perto de casa", escreveu o secretário de Estado, Marco Rubio, em editorial publicado naquele mesmo dia pelo jornal The Wall Street Journal.
"Mesmo quando as circunstâncias exigem firmeza, a visão do presidente para o hemisfério continua sendo positiva", prosseguiu Rubio. "Vemos uma região próspera, repleta de oportunidades."
Claver-Carone também destacou as possibilidades de colaboração com os aliados na região, em temas como migração, segurança e comércio.
"[Os presidentes de El Salvador, Costa Rica e República Dominicana] Bukele, Chaves e Abinader são os líderes com maior aprovação da região, devido ao sucesso da sua gestão", declarou ele, sobre a visita oficial. "São grandes aliados dos Estados Unidos e queremos consolidar e fortalecer estas relações."
Mas alguns especialistas destacam que, na verdade, o governo Trump identifica na América Latina mais problemas do que benefícios.
"Trump infantiliza a região", declarou o analista Juan Tokatlian à BBC News Mundo. "Ele a considera irrelevante para os Estados Unidos e, por sua vez, diz que ela deve se comportar de determinada maneira para merecer algo positivo."
Para Tokatlian, o governo republicano observa a região com um olhar de que "não entende que suas ações podem prejudicar os Estados Unidos".
Em última análise, o novo enviado especial do Departamento de Estado americano é um velho conhecido de Donald Trump. Ele procura impor uma grande dose de velocidade às relações com a América Latina, para colaborar com a construção do que o presidente anunciou como "a nova era de ouro" dos Estados Unidos.

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10 meses atrás
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