Apesar das enchentes do ano passado e do desempenho inferior no setor de turismo, a macrorregião da Serra conseguiu manter — e até ampliar levemente — o número de postos de trabalho formais: o crescimento foi de 1,62% um ano após a enchente de 2024.
O índice foi impulsionado, principalmente, por duas regiões: o Vale do Caí, que ampliou em 2,85% suas vagas, e a Serra, que teve um crescimento de 2,32%, semelhante ao do Estado do Rio Grande do Sul, que foi de 2,4%. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e consideram a variação de abril de 2024 a abril de 2025.
O crescimento da macrorregião foi impulsionado, de maneira geral, por dois setores. A indústria, que se destacou no incremento do número absoluto de empregos, com cerca de 4 mil novas vagas, e os serviços, com 3 mil postos de trabalho criados. Entre eles, ainda, é possível observar atividades específicas que cresceram ou decaíram. É o caso da fabricação de máquinas e equipamentos (6,8%) e do setor coureiro-calçadista (-2,7%).
Em ambos os casos, entretanto, é possível que, em um futuro próximo, os impactos das tarifas de 50% a produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos impostas pelo presidente norte-americano Donald Trump gerem uma regressão nas vagas. O setor coureiro-calçadista, embora ainda seja o que mais gera empregos no Estado, já apresenta uma queda nos postos de trabalho que podem regredir ainda mais, enquanto outros segmentos da indústria podem estagnar ou decair na criação de oportunidades laborais.
A situação tem preocupado o pesquisador do Departamento de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (DEE-RS) Guilherme Sobrinho, principalmente considerando o peso desses segmentos para o mercado de trabalho gaúcho. "A indústria ainda é super importante na estrutura ocupacional do Estado, embora o setor de couro e calçados tenha tido boa parte da produção externalizada para outros estados em busca de benefícios fiscais e redução de custos de forças de trabalho. Então, pode ser que seja um impacto bastante grande", analisa o especialista.
Para Sobrinho, um dos principais empecilhos é a incerteza quanto à duração das tarifas. Entretanto, ele avalia que ainda é necessário aguardar o anúncio das medidas compensatórias que estão sendo estruturadas do ponto de vista governamental. "Ainda é cedo para analisar, mas a tendência é que o impacto seja grande", complementa. Entre os instrumentos de mitigação dos efeitos do tarifaço, o pesquisador acredita que apostar em inovação e apoio tecnológico pode ser mais eficaz do que a oferta de linhas de crédito.
Serra e Vale do Caí se destacam na geração de emprego
Concentrando a maior população da macrorregião, a Região da Serra conta com 939.680 habitantes e também possui o maior volume de vagas de emprego, com 348.963 postos de trabalho. Há um adensamento dos profissionais na região que conurba alguns dos seus principais municípios e concentra o polo metalmecânico local: Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Farroupilha.
Somados, os municípios geraram 2.566 novos postos de trabalho no setor industrial e cresceram em 5,5% os empregos na construção civil. No caso da indústria, as vagas foram ampliadas principalmente em fabricação de máquinas e equipamentos (803) e de produtos de metal (491). No caso da construção, o destaque é em serviços especializados (aumento de 6,8% nas vagas).
Já no Vale do Caí, que ampliou, proporcionalmente, mais o número de empregos que o Rio Grande do Sul, o destaque está em Bom Princípio, que aumentou em 6,2% suas vagas de trabalho. Nesse caso, o crescimento está atrelado aos setores de fabricação de móveis e de produtos de plástico e borracha, além de serviços especializados em construção.
Os Campos de Cima da Serra e o Vale do Paranhana Encosta da Serra estiveram estagnados. Eles cresceram, respectivamente, apenas 0,16% e 0,94%.
Região da Serra conta com 939.680 habitantes e também possui o maior volume de vagas de emprego JC
Região das Hortênsias foi a única a perder empregos
Enquanto o restante da macrorregião da Serra cresceu, a Região das Hortênsias teve um desempenho negativo na geração de empregos. Dependentes do turismo e dos serviços atrelados a ele, os municípios foram intensamente afetados pelo pós-cheias, especialmente por um problema logístico atrelado à inoperação do Aeroporto Internacional Salgado Filho, de Porto Alegre, entre os meses de maio e outubro de 2024, quando os voos passaram a ser retomados gradualmente.
Sobrinho destaca que o impacto é evidente e que, considerando o aumento populacional das Hortênsias entre 2010 e 2022, anos em que foi realizado o Censo pelo IBGE, foi uma região proporcionalmente mais penalizada que as demais na geração de empregos. Entre ambos os levantamentos estatísticos, os municípios dessa região ampliaram 17,7% o número de habitantes.
Não é de se estranhar que das sete cidades pertencentes à Região, cinco delas tenham tido um desempenho negativo na geração de empregos. Entre elas, está Cambará do Sul, conhecida pelos cânions dos Parques Nacionais de Aparados da Serra e Serra Geral, que desde a pandemia batalha para retomar o movimento de visitantes, que caiu 40% em 2024 no pós-cheias. No município, 4,6% das vagas de emprego foram perdidas.
A principal representante da região, Gramado, despencou 5% no número de empregos formais, com uma perda de 1.057 postos de trabalho. O impacto foi maior no setor de alojamentos (-7,6%) e alimentação (-9,8%). A redução no número de turistas impactou também o varejo, que caiu 5,9%. As atividades ligadas à prestação de serviços em atendimento à saúde, embora não ligadas ao turismo, sofreram uma queda drástica de 86,2%, diminuindo suas 690 vagas para apenas 95.
Crescimento de vagas não acompanha oferta de mão de obra
Embora seja citada como um problema recorrente em todo o Estado, a falta de mão de obra foi destacada especialmente por lideranças políticas e empresariais que participaram do terceiro evento do Mapa Econômico do RS, realizado na cidade de Garibaldi no dia 7 de agosto. Na ocasião, esse foi um dos principais desafios para o desenvolvimento regional a ser comentado, tendo o investimento em educação e capacitação profissional como uma possível solução levantada pelos presentes.
"Quando tem uma menor disponibilidade, é preciso ter uma outra atitude com relação a uma certa redistribuição da força de trabalho. Se o crescimento populacional não dá conta do crescimento econômico, é necessário ter uma abertura a outras formas de suprir isso", avalia Sobrinho.
Para o pesquisador, considerando a lei de oferta e demanda que rege o mercado econômico, é importante investir na atratividade de talentos para buscar sanar esse entrave. "Muitas vezes, o nível dos salários não estimula pessoas que estão fora do mercado de trabalho a ingressarem nele", avalia Sobrinho.
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