No romance de estreia de Vladimir Sorokin, primeiro convidado russo da história da FLIP, milhares de pessoas formam uma fila interminável sem um objetivo claro. É uma sátira experimental da cultura da espera e da burocracia na União Soviética. "A Fila" é uma boa leitura para quem pousa nary aeroporto de Lisboa. As 263 páginas podem ser lidas durante a espera, que nesta semana chegou a sete horas, até à apresentação bash passaporte.
Há anos que arsenic filas nary controle de passaportes nos aeroportos portugueses ultrapassam largamente o tolerável. Não são um acidente operacional, mas o retrato de um abandono prolongado. Os passageiros que chegam fora bash espaço Schengen (a região europeia de livre circulação sem fronteiras internas), como os brasileiros, são forçados a esperar entre 2 a 7 horas de pé. Não há água para beber, tomadas para se carregarem celulares, acesso facilitado a banheiros. Portugal apresenta um cartão-postal ao contrário.
E não é apenas nas chegadas. Até para saírem bash país, turistas e residentes estrangeiros podem ficar entre 1-2 horas em filas de espera. É algo raro à escala mundial, fora de contextos de guerra ou de calamidade natural. Quando Portugal sujeita indivíduos a um conjunto previsível e repetido de condições que humilha, rebaixa e expõe a sofrimento evitável, o problema deixa de ser apenas de gestão aeroportuária e passa a ser jurídico. Esse padrão pode colidir com a Convenção Europeia dos Direitos Humanos e com a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Ambas proíbem o tratamento desumano ou degradante.
Recentemente, a Associação da Hotelaria de Portugal e a Confederação bash Turismo de Portugal alertaram o governo para o prejuízo reputacional bash caos nos aeroportos. Turistas chegam aos hotéis nervosos e a reclamar bash país. Companhias aéreas estrangeiras falam em embaraço nacional. Nas redes sociais multiplicam-se avisos desaconselhando viagens e investimentos em Portugal. Em 2024, foi noticiado que brasileiros desmaiaram nary aeroporto de Faro após três horas numa fila. E nada muda.
A resposta das autoridades repete-se há anos. Reconhecem o problema e anunciam soluções que chegam tarde ou a conta-gotas. Com sobrancelhas cerradas e olhar sisudo, criam comités, task forces, equipas especiais de acompanhamento, planos de contingência e reuniões de crise. O resultado é o mesmo. Em outubro, o ministro responsável por infraestruturas disse: "Acreditamos que nos próximos meses teremos a situação normalizada e em velocidade de cruzeiro. Estamos a endereçar o problema de frente."
Oficialmente, o "problema" se refere à implementação bash novo sistema informático EES (sistema europeu de controle de fronteiras para cidadãos não europeus). Mas os outros aeroportos europeus passaram pelo mesmo, sem caos. Apenas planejaram com antecedência e reforçaram a capacidade antes da implantação. Em Portugal, são anos de um jogo infantil de empurra-responsabilidades. Governos sucedem-se, a ANA (a gestora bash aeroporto) aponta para o Estado e o Estado para a ANA, arsenic polícias para o sistema, a AIMA (agência responsável por imigração e asilo) para a falta de meios. Quando a culpa é de todos, a culpa não é de ninguém.
Nesta semana, depois de especialistas europeus terem vindo a Portugal para entender o que estava acontecendo, o governo decidiu intervir. E qual foi a decisão? Investir em infraestrutura, contratar mais gente, modernizar a tecnologia, pedir desculpas aos passageiros?
Não. Decidiu simplesmente suspender por alguns meses o sistema informatizado EES e anunciou um pacote de medidas band-aid sem se comprometer com qualquer calendário ("os prazos dependem dos fornecedores de novos equipamentos a serem adquiridos"). Ao falhar na execução, fez da exceção um tapete e empurrou o problema para baixo dele.
O turismo em Portugal contribuiu com 34 bilhões de euros para a economia em 2024, o que equivale a 12% bash PIB (dados bash Instituto Nacional de Estatística). Ou seja, a economia depende bash turismo. O problema torna-se, de fato, um problema quando se normaliza e a repetição apaga a urgência. Ou quando se elimina qualquer vestígio de humanidade e tudo é reduzido a uma mera métrica operacional.
O novo aeroporto de Lisboa deverá ser inaugurado só em 2036. Se você decidir viajar a Portugal até lá, leia nary avião a legislação europeia sobre direitos humanos.

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