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Após a IA, é possível ainda ser criativo? Especialistas discutem o tema

Criar imagens e vídeos ficou mais fácil após a popularização de ferramentas de inteligência artificial (IA). Chatbots populares, como ChatGPT, Gemini, Deepseek e Claude.AI geram conteúdos em poucos segundos, e exigem somente alguns comandos para isso. Nesse cenário, alguns creators se veem encurralados pela necessidade de se reinventar em um mercado cada vez mais homogeneizado pela IA. Afinal, ainda há espaço para originalidade e criatividade ao criar?

Esse foi justamente o tema da última mesa da trilha Conecta no Voices 2025*, encontro sobre tecnologia e comportamento digital organizado pela Editora Globo. Para debater sobre o assunto, o TechTudo convidou o jornalista e especialista em Deep fakes Brunno Sarttori; o ator, roteirista e apresentador, Digão Ribeiro; e o pesquisador em IA, Hallison Paz, com mediação de Tainah Tavares, editora chefe do maior portal de tecnologia do Brasil. Confira os destaques da conversa, a seguir.

Após a IA, é possível ainda ser criativo? Especialistas discutem o tema — Foto: Victor Bastos/TechTudo Após a IA, é possível ainda ser criativo? Especialistas discutem o tema — Foto: Victor Bastos/TechTudo

Depois dos filtros, a IA. Ainda há espaço para originalidade e criatividade ao criar conteúdos?

Os primeiros relatos de inteligência artificial surgiram na década de 50. Contudo, as primeiras versões dos softwares como conhecemos hoje foram liberadas ao público somente há alguns anos. No caso do Brasil, Brunno acredita que foi o primeiro influenciador a usar a Deep fake, ferramenta capaz de alterar a aparência de pessoas para criar conteúdo, após ter contato com a tecnologia no fórum Reddit.

"Uma pessoa publicou o código fonte da Deep fake e eu procurei aprender sobre porque antes a gente precisava de um computador muito poderoso para rodar o sistema e treinar o modelo por vários meses até chegar a um resultado aceitável. Já fazia isso (edições) na minha cidade de Belo Horizonte, inseria o rosto dos políticos em vídeos com outros tipos de tecnologia, como After Effects"

O jornalista conta que sempre gostou de fazer paródias e com o avanço da tecnologia, pensou: "Eu posso colocar a Beyoncé cantando uma música que eu escrevi. Isso é muito legal!". A partir de 2018 seus vídeos viralizaram e desde então ele tenta informar as pessoas sobre as possibilidades de uso do programa, considerando que hoje ao assistir um vídeo realístico, porém digitalmente alterado, a maioria dos usuários acredita se tratar de um material verdadeiro.

"O contato com a tecnologia está muito maior, o que é uma vacina, quanto mais contato a pessoa tem com aquela tecnologia maior é a probabilidade dela imaginar que aquilo pode ter componente generativo ou um componente até de realismo falso"

Consciência sobre como funciona e limites

Um dos fundadores do ALFORRIAH, programa de mentoria para profissionais que buscam migrar para setores de tecnologia, Hallison Paz explica que conhece modelos que geram rostos de pessoas desde 2014, quando se formou em engenharia da computação. Ele destaca o refinamento presente nas edições atuais, assim como o impulso da personalização dos comandos na melhora das respostas ao longo do tempo, a partir da comparação de um prompt com a ideia de jogar um dado simples de 1 a 6.

“Antes, você pedia um número e era completamente aleatório. Agora, conseguimos dizer: ‘Quero um número par’ e ele retorna 2, 4 ou 6. Começamos a colocar condições e controlar aquela coisa, transportando isso para imagens, podemos entender uma classe, como pessoas, e depois controlar características: se tiver barba, se for mulher, e assim por diante”

Entre as principais limitações, Brunno considera que a reprodução de leis naturais de física ainda impede o avanço para o que algumas pessoas chamam de Inteligência Artificial Geral, uma espécie de segunda etapa da IA com aprendizagem mais otimizada. Apesar disso, o jornalista defende que em 5 ou 10 anos a tecnologia disponível na palma da nossa mão será algo parecido com o que vemos em filmes de ficção.

"Fico olhando o meu computador hoje e tenho certeza que vai chegar num momento que eu vou olhar para ele e falar: 'faz isso aqui igual eu fiz" , ele vai conseguir fazer, vai ser tipo o assistente do Homem de Ferro"

Digão relembra os efeitos da imersão tecnológica que aconteceu durante a pandemia de Covid-19 e intensificou a relação das pessoas com os aparelhos digitais, como celular e notebook, além de seus papéis na indústria criativa: "o mundo virtual ganhou uma importância tão grande quanto o nosso mundo físico". O artista também reflete sobre a posição da Inteligência Artificial (IA) como um meio de produção guiado por bases de dados construídas por humanos.

"Depois da pandemia a gente validou muito a potência das pessoas poderem criar também e se comunicar com esses conteúdos, mas temos que lembrar que é uma ferramenta que tem um dono, ele que é responsável pelo o que ela vai criar"

O ator conta que esses sistemas abriram portas para novos formatos de conteúdo artístico com suporte a aspectos técnicos e podem aumentar as abordagens de narrativas ocultas na grande mídia do entretenimento.

"O uso da IA, para mim, é essencial porque ela me ajuda a fazer uma edição melhor, fazer uma correção de cor, colocar legendas automáticas e edição de vídeo, o que é um avanço no ganho de tempo, então eu acho que isso democratiza"

Os especialistas reforçam o desafio que é imaginar como será a Inteligência Artificial daqui a 15 anos, uma vez que nesse mesmo período no passado não considerávamos possível chegar ao cenário atual e explicam suas expectativas. Digão acredita que a comunidade artística caminha em um sentido da democratização geral de produção e distribuição que podem tornar o mundo virtual mais potente do que o físico. Pensamento que vai de acordo com a visão de Brunno: "acredito que todo mundo vai conseguir criar e quem vai se destacar é quem tem originalidade e um roteiro bom".

Hallison, por sua vez, vê com cautela as áreas em que a tecnologia será aplicada e os possíveis interesses financeiros envolvidos em seu futuro:

"Quero acreditar que a gente vai potencializar coisas que já podemos fazer e criar o que não podemos. As pessoas estão fazendo coisas novas, mas existe o risco de tentarem viciar o sistema talvez querendo ganhar dinheiro e isso pode dificultar o encontro de conteúdos com mais qualidade. Cabe a nós cobrar o uso com responsabilidade"

O VOICES é um evento gratuito que acontece no dia 10 de dezembro no Museu de Arte Moderna (MAR), e conta com a presença de diversos especialistas brasileiros e internacionais. Neste encontro são abordados diversos temas, como inteligência artificial (IA), comportamento digital, inovação e empreendedorismo. O TechTudo terá uma trilha de mesas onde criadores de conteúdos, advogados, professores, pesquisadores e colunistas irão debater assuntos como tendências para dispositivos tech, golpes online e segurança digital, além de conteúdos sobre inteligência artificial.

*O Voices é uma iniciativa da Editora Globo e do Sistema Globo de Rádio, com patrocínio da Prefeitura do Rio e Secretaria Municipal de Educação, apoio da Zapt, patrocínio das trilhas por Claro Empresas e Insper e parceria da Play9.

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