A redemocratização brasileira é marcada por contradições. Se o país e o Congresso que o espelha são reinos do conservadorismo de baixa extração, o poder federal passou 20 anos nas mãos de pessoas mais à esquerda, ainda que só nominalmente.
O fastio que emergiu nas ruas de 2013 e em sua mutação à direita em 2016 desaguou no bolsonarismo, que aproveitou-se da implosão do sistema político via corrupção e Lava Jato para propor um novo paradigma —farsesco e golpista, como se provou.
Se no começo apenas militares saudosos da ditadura embarcaram no projeto, logo ele encantaria setores da finança e do empresariado e, principalmente, ganharia tração popular. Alquebrado, o sistema tradicional e a esquerda assistiram à ascensão do hoje prisioneiro Jair Bolsonaro (PL).
O resto é história, sendo notável como o então presidente se dizia dedicado a destruir o sistema, só para abraçá-lo quando sua algazarra tornou-se risco existencial em 2021. Naquele ano, o centrão tomou o governo e o semipresidencialismo atual foi lançado na forma de um mar de emendas.
Votado para fora do poder, inelegível, condenado e preso sem horizonte visível de liberdade, Bolsonaro agora cobra o preço final pela escolha que a direita, em sua maioria, fez ao abraçá-lo. Quer continuar no timão simbólico do navio.
O lançamento da candidatura de seu filho Flávio, que antes do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) era considerado em Brasília um Bolsonaro que proverbialmente sabia usar talheres, pode ou não ser uma farsa, mas seu objetivo já foi alcançado.
O senador do PL-RJ obriga Tarcísio e o centrão a escolhas impossíveis, um estreito de Messina político em que os monstros Cila e Caríbdis ameaçam ambos os flancos das embarcações.
Se apoiarem Flávio, o que observadores agudos acreditam ser inevitável num primeiro momento, o governador paulista e outros ganharão a radioatividade do sobrenome Bolsonaro.
Uma olhada na rejeição de quem o carrega no atual Datafolha é clara: os quatro postulantes, incluindo aí o ex-presidente, estão em patamar que só Lula (PT) enverga. Depois do pai, Flávio é o mais mal colocado, com 38% de eleitores que não votariam nunca nele.
A pesquisa oferece o argumento racional para um rompimento: os Bolsonaros têm desempenho bastante pior no inevitável segundo turno contra o petista se o pleito fosse hoje.
Os governadores competitivos da direita, Tarcísio e Ratinho Jr. (PSD-PR), chegam bem mais perto do presidente e contam com rejeições ínfimas, combinação áurea nas mãos de um bom marqueteiro.
Na mitologia grega, Ulisses optou a travessia pelo lado de Cila, que comia uns marinheiros mas pouparia a nau. Se a direita for por aí, vira traidora e pode perder os 20% do eleitorado que o Datafolha identifica como fiéis ao bolsonarismo, que iriam para alguém do clã.
Assim, ressalvando a distância do pleito, recuos táticos mirando um desmame do bolsonarismo até 2030 e pulverização de nomes são opções tentadoas, e declarações peremptórias agora servirão apenas para ganhar tempo.

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1 semana atrás
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