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Cientistas detectam sinais da Starlink onde não deveria haver nada

O estudo é o mais abrangente já feito. A equipe analisou 76 milhões de imagens do céu captadas por uma estação protótipo do SKA (Square Kilometre Array), que será o maior e mais sensível radiotelescópio do mundo até o fim da década.

Os dados impressionam. Foram detectadas mais de 112 mil emissões de rádio de 1.806 satélites da Starlink — o registro mais completo desse tipo de interferência em frequências baixas já realizado.

A interferência é constante e imprevisível. Segundo Dylan Grigg, doutorando e autor principal do estudo, só durante os quatro meses de coleta de dados, a Starlink lançou 477 novos satélites. Em alguns momentos, até 30% das imagens estavam contaminadas por sinais da "constelação de satélites".

Satélites Starlink causaram 19 rastros de luz nesta imagem do Telescópio Víctor M. Blanco 4-meter, no Chile
Satélites Starlink causaram 19 rastros de luz nesta imagem do Telescópio Víctor M. Blanco 4-meter, no Chile Imagem: CTIO, NOIRLab, NSF, AURA, DECam DELVE Survey

O problema vai além da quantidade de equipamentos. Grigg destaca que o mais alarmante são as frequências em que os sinais aparecem. Emissões foram detectadas em faixas que deveriam ser protegidas, algo que compromete diretamente a radioastronomia.

Alguns satélites foram detectados emitindo em faixas onde nenhum sinal deveria estar presente, como os 703 satélites que identificamos em 150,8 MHz, que deveriam ser protegidos para radioastronomia. Dylan Grigg

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Não é possível prever ou filtrar os sinais. Como muitos desses sinais são não intencionais e resultam de componentes internos dos satélites, os astrônomos têm dificuldade em antecipá-los ou removê-los das observações.

As regras atuais são insuficientes. Para Steven Tingay, diretor executivo do CIRA e coautor do estudo, os regulamentos da UIT (União Internacional de Telecomunicações) cobrem apenas transmissões intencionais e não abordam esse tipo de emissão involuntária.

A Starlink não está descumprindo leis. Segundo Tingay, a empresa está operando dentro das normas vigentes. Ele ressalta que os diálogos com a SpaceX sobre o tema têm sido construtivos.

Longa exposição de um grupo distante de galáxias do Observatório Lowell, no Arizona (EUA), foi marcada por linhas diagonais da luz refletida por satélites da Starlink
Longa exposição de um grupo distante de galáxias do Observatório Lowell, no Arizona (EUA), foi marcada por linhas diagonais da luz refletida por satélites da Starlink Imagem: Victoria Girgis/Lowell Observatory

É preciso equilibrar ciência e tecnologia. Tingay defende que a conectividade global é importante, mas que ela precisa coexistir com a pesquisa científica. "Estamos às portas de uma nova era, em que o SKA pode ajudar a responder questões fundamentais da ciência. Mas ele precisa de silêncio no espaço para funcionar", afirma.

A pesquisa busca gerar conscientização. O objetivo dos cientistas é que o estudo sirva de base para uma atualização das políticas internacionais que regem o impacto de satélites na astronomia. Segundo eles, encontrar esse equilíbrio começa pelo reconhecimento do problema.

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A Starlink não é a única rede de satélites, mas é de longe a maior, e suas emissões estão cada vez mais presentes em nossos dados. Esperamos que este estudo contribua para os esforços internacionais em andamento para atualizar as políticas que regulam o impacto dessa tecnologia na pesquisa em radioastronomia. Steven Tingay

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