No caso da médica Flávia Raquel Teodoro Rotiroti, da Congregação Cristã no Brasil, e da babá Elaine Cristina dos Santos Barboza, Testemunha de Jeová, o principal motivo para a falta de clima natalino é religioso.
A médica nunca comemorou o Natal, porque desde criança sua família já era evangélica. Já Elaine não comemora há 28 anos, desde que começou os estudos bíblicos.
O sociólogo Clemir Fernandes, diretor adjunto do Instituto de Estudos da Religião (Iser), explica que o Natal nem sempre ocupou o lugar central que tem hoje no cristianismo. Enquanto a Páscoa, ligada à Paixão de Cristo, é celebrada desde o primeiro século, o Natal só tem registros históricos a partir do quarto século, segundo ele.
Famílias reinventam o Natal para as crianças
Para as famílias que não celebram datas tradicionais, o desafio costuma ser explicar essa escolha às crianças. Elaine conta que seus filhos, hoje adultos, cresceram sem sentir falta do Natal, porque já cresceram dentro da religião. Já a neta, costuma celebrar com os outro avós.
Elaine com o filho mais velho, Rafael. — Foto: Arquivo pessoal
Flavia também não isola os filhos, que se encantam com as luzes e árvores espalhadas pela cidade e na casa de vizinhos.
Flavia não isola os filhos, que se encantam com as luzes e árvores de Natal. — Foto: Arquivo pessoal
Para Elaine, o mais divertido é dar presentes sem ter uma data comercial determinada. “É tão gostoso ganhar um presente quando você não espera. A surpresa é mais divertida”, afirmou.
Nem sempre o desinteresse pelo Natal passa pela religião. A enfermeira Nathalia Bastos diz que simplesmente não gosta da data. “Não vejo sinceridade em comemorar o nascimento de uma pessoa que foi crucificada e continua sendo crucificada todos os dias”, desabafa.
Para Nathalia, que lembra de comentários cruéis ouvidos de familiares, o Natal expõe algumas hipocrisias. “Muitas vezes eu era a crucificada. Poderiam começar vivendo o que o aniversariante ensinou: amar o próximo, sem julgamentos”, afirmou.
O sociólogo Fernandes observa que, cada vez mais, o Natal tem se afastado de seu sentido religioso. “Mesmo entre cristãos, virou uma celebração de comida, bebida, presentes e encontros familiares, com alegrias e também conflitos”, disse.
Çuriçawara: para povos indígenas, Natal é o dia da felicidade
Entre povos indígenas, o fim do ano também pode ganhar outros significados. Em uma publicação nas redes sociais, o professor e escritor indígena Yaguarê Yamã explica que, em algumas tradições, existe o Çuriçawara, que significa “o dia da felicidade”, na língua geral.
Segundo ele, trata-se de uma data ancestral que celebra alegria, amizade e comunhão entre humanos e espíritos da floresta. “Os velhos dizem que não se sabe quando tudo começou. Só se sabe que os espíritos da felicidade se unem para festejar com os humanos”, escreveu no Instagram.
Segundo o mito indígena, não há apenas um bom velhinhos, mas dois: a vovó Hary e seu esposo Karimã. “Salve o dia da felicidade, o Çuriçawara!”, disse Yamã.
Culturas orientais não têm tradição de Natal
O Natal também não ocupa espaço central fora do cristianismo. Em países islâmicos como Indonésia, Paquistão, Turquia e Egito, Jesus é reconhecido como profeta, mas não como figura divina. Os muçulmanos celebram principalmente o Eid al-Fitr, após o Ramadã, e o Eid al-Adha, ligado à história do profeta Abraão.
No budismo, predominante em países como China, Japão, Tailândia e Vietnã, Jesus é visto como um ser de grande sabedoria, um bodhisattva, mas o nascimento dele não é celebrado. A principal data é o Vesak, que marca nascimento, iluminação e morte de Buda.
Já para os judeus, Jesus existiu, mas não é o Messias. A principal festa do período é o Hanukah, a Festa das Luzes, que relembra a resistência religiosa e cultural do povo judeu.
No hinduísmo, presente sobretudo na Índia, o calendário é marcado por festas ligadas a diferentes divindades e energias, como Diwali, Holi e Krishna Janmashtami. O Natal não faz parte dessa tradição, assim como no taoismo e no xintoísmo, em que o dia 25 de dezembro tem, no máximo, caráter comercial.
Para Clemir Fernandes, esse panorama mostra que, embora o cristianismo tenha grande peso cultural, ele está longe de ser universal. “Existem muitas tradições religiosas com calendários próprios. Para algumas delas, o Natal é totalmente estranho ou desconhecido”, conclui.

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