O governo federal lançou a Plataforma Centralizada de Autoexclusão, um sistema que permite aos brasileiros bloquear voluntariamente o próprio acesso a todas as casas de apostas regulamentadas no país. A ferramenta, que começou a operar em 10 de dezembro de 2024, surge como resposta ao crescimento explosivo das apostas online e aos impactos sociais e econômicos causados pelas bets. Com apenas um cadastro, o usuário pode se autoexcluir de todas as plataformas autorizadas simultaneamente, impedindo a criação de novas contas e o recebimento de publicidade do setor. Contudo, há um porém: sites ilegais não são bloqueados pelo sistema, uma vez que operam fora da fiscalização governamental. Veja a seguir detalhes da estratégia, como fazer, quando julgar necessário pedir ajuda e mais.
Governo lança sistema de autoexclusão de apostas; saiba bloquear seu acesso — Foto: Reprodução/Internet A autoexclusão é uma estratégia reconhecida pela comunidade científica como eficaz na redução de danos relacionados ao jogo problemático. Até então, cada site oferecia seu próprio mecanismo de exclusão, obrigando os usuários a fazer solicitações individuais em cada plataforma. Com a centralização, o processo se tornou mais simples e abrangente, permitindo que pessoas que perderam o controle sobre os gastos com apostas possam tomar medidas preventivas de forma unificada.
O cenário explosivo das apostas no Brasil
O mercado de apostas online no Brasil cresceu de forma vertiginosa nos últimos anos. Entre 2021 e abril de 2024, o setor registrou um crescimento de 734%, segundo levantamento da plataforma Datahub divulgado com exclusividade pela CNN Brasil, transformando o país em um dos maiores mercados do segmento no mundo.
Em 2024, os gastos com apostas online chegaram a R$ 100 bilhões, de acordo com dados do DataHub publicados pelo site iGaming Brazil. Além disso, ao final de 2024, 23 milhões de brasileiros haviam apostado - o que representa cerca de 15% da população acima de 16 anos, conforme a 8ª edição do Raio-X do Investidor Brasileiro, feito pela Anbima em parceria com o Datafolha.
O Governo Federal lançou um sistema que permite aos brasileiros bloquear o próprio acesso a casas de apostas no país; veja como fazer — Foto: Reprodução/Freepik Por trás dos números impressionantes de crescimento, esconde-se uma crise de endividamento. Entre os 23 milhões de apostadores em 2024, quase metade (47%) está endividada, segundo pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Cerca de 1,8 milhão de brasileiros entraram em situação de inadimplência por conta das bets em 2024. O impacto é desproporcional nas classes de menor renda: famílias com renda entre 3 e 5 salários mínimos viram o percentual de contas em atraso saltar de 26% para 29% entre novembro de 2023 e novembro de 2024.
Entre os apostadores, 52% dizem que tentam recuperar as perdas apostando de novo, 30% declararam apostar mais do que poderiam perder e 10% já recorreram a empréstimo ou venda de bens para continuar apostando. A pesquisa também revelou que 3 milhões de pessoas apresentam alta tendência ao vício em apostas.
Os brasileiros destinaram cerca de R$ 240 bilhões às bets em 2024, recursos que deixaram de circular no varejo tradicional e comprometeram orçamentos familiares. Dados da Organização Mundial da Saúde apontam que 1,2% da população mundial adulta tem problemas com jogos.
Governo lança sistema de autoexclusão de apostas; veja passo a passo para bloquear seu acesso — Foto: Distribuição: gov.br Como fazer a autoexclusão: passo a passo completo
A autoexclusão pode ser realizada por qualquer pessoa, mesmo quem nunca apostou e deseja se prevenir. O processo é totalmente online e gratuito. Veja como proceder:
1. Requisitos necessários
Para se cadastrar no sistema de autoexclusão, você precisará de:
- Conta gov.br nível prata ou ouro (obrigatório)
- CPF
- Nome completo
- Data de nascimento
Importante: Contas gov.br de nível bronze não são aceitas. Para elevar o nível da sua conta, acesse o portal gov.br e siga as instruções para validação de dados pessoais através de bancos conveniados, aplicativos ou biometria.
Acesse o sistema através do endereço oficial: gov.br/autoexclusaoapostas
Faça login utilizando suas credenciais do gov.br (CPF e senha). O sistema solicitará autenticação conforme o nível de segurança da sua conta.
3. Preenchimento do cadastro
a) Verificar seus dados pessoais
- Confirme se CPF, nome completo e data de nascimento estão corretos
- Os dados são importados automaticamente da sua conta gov.br
b) Escolher o período de bloqueio
- Bloqueio temporário: 1, 3, 6 ou 12 meses
- Bloqueio por período indeterminado: sem data definida para término
c) Informar o motivo da solicitação
- Decisão voluntária
- Dificuldades financeiras
- Recomendação de profissional de saúde
- Perda de controle sobre o jogo
- Questões de saúde mental
d) Aceitar os termos de uso
Leia atentamente as condições e aceite os termos do sistema.
Após concluir o cadastro, você receberá:
- Registro de confirmação da autoexclusão
- Documento com número de protocolo para acompanhamento
5. Prazo para entrada em vigor
Após a confirmação, as operadoras autorizadas têm até 72 horas para efetivar o bloqueio em seus sistemas. Durante esse período de transição, ainda pode ser possível acessar contas existentes.
Como reverter a autoexclusão
As regras para reversão variam conforme o tipo de bloqueio escolhido:
Bloqueio temporário (1, 3, 6 ou 12 meses):
- Não pode ser cancelado antecipadamente
- O bloqueio expira automaticamente ao final do prazo escolhido
- Você precisará aguardar todo o período para voltar a apostar
Bloqueio por período indeterminado:
- Há até um mês para cancelar a decisão após a solicitação inicial
- Após esse prazo, a reversão se torna mais complexa e pode exigir justificativas adicionais
- A rigidez nas regras de reversão é proposital, funcionando como uma barreira de proteção contra decisões impulsivas, característica comum em pessoas com transtornos relacionados ao jogo.
O que é bloqueado com a autoexclusão
Ao solicitar a autoexclusão, o sistema implementa os seguintes bloqueios:
- Contas existentes: Todas as contas ativas em sites de apostas autorizados são imediatamente bloqueadas
- Criação de novas contas: Impossibilidade de abrir cadastros em qualquer plataforma regulamentada
- Depósitos e apostas: Nenhuma transação financeira pode ser realizada com operadoras legais
- Durante o período selecionado, o usuário não vai mais receber publicidades relacionadas a apostas de nenhum site
- Isso inclui emails, SMS, notificações push e anúncios segmentados nas redes sociais
A autoexclusão abrange apenas sites de apostas autorizados pela Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda (SPA/MF). Atualmente, 72 empresas estão autorizadas, somando 156 marcas com o domínio ".bet.br."
Sites ilegais não são bloqueados pelo sistema, uma vez que operam fora da fiscalização governamental. Por isso, a autoexclusão funciona melhor quando combinada com outras estratégias de controle pessoal e busca por apoio profissional.
Recursos adicionais da plataforma
Além da função de bloqueio, a plataforma oferece:
- Autoteste de Saúde Mental: questionário para avaliar tendência ao vício em jogos
- Informações sobre saúde mental: conteúdo educativo sobre transtornos relacionados ao jogo
- Orientações de atendimento no SUS: links para Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)
- Contato com ouvidoria do SUS: para buscar ajuda especializada
O secretário de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, Regis Dudena, destacou que será "uma plataforma de múltiplas atividades, e não apenas de autoexclusão", funcionando como um centro de recursos para jogo responsável.
Apoio do Ministério da Saúde
A plataforma integra as ações do Grupo de Trabalho Interministerial sobre Saúde Mental e Prevenção de Danos do Jogo Problemático, que reúne os ministérios da Fazenda, Saúde, Esporte e a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.
Entre as ações previstas estão:
- Criação do Observatório Brasil Saúde e Apostas Eletrônicas para monitorar padrões de dependência
- Oferta de teleatendimento para pessoas com problemas de jogo, em parceria com o Hospital Sírio-Libanês (a partir de 2026)
- Capacitação de equipes da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
- Busca ativa de usuários que utilizarem a autoexclusão
Os atendimentos por transtornos do jogo no SUS cresceram: foram 2.262 em 2023, 3.490 em 2024 e 1.951 apenas no primeiro semestre de 2025, evidenciando a urgência de políticas públicas específicas para o tema.
Quando buscar ajuda profissional
A autoexclusão é uma ferramenta importante, mas pode não ser suficiente para casos mais graves de dependência. Segundo os critérios diagnósticos do DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), que é a referência internacional para identificação do Transtorno do Jogo, busque apoio profissional se você:
- Sente necessidade constante de apostar
- Aposta valores cada vez maiores para sentir a mesma emoção
- Fica irritado, ansioso ou deprimido quando tenta parar de apostar
- Mente para familiares sobre o quanto aposta
- Compromete relacionamentos, trabalho ou estudos por causa das apostas
- Recorre a empréstimos, venda de bens ou dívidas para continuar apostando
- Tentou parar sozinho várias vezes sem sucesso
Equipes das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) estão capacitadas para oferecer atendimento especializado e orientação para casos de transtorno do jogo.
Outras medidas de regulação do setor
Além da plataforma de autoexclusão, o governo implementou diversas regras para regular o mercado de apostas:
- Proibição do uso de cartão de crédito para apostas
- Cadastro obrigatório com CPF e reconhecimento facial
- Uso obrigatório do domínio .bet.br por operadoras autorizadas
- Limitações para publicidade, com proibição de propagandas voltadas a menores de idade
- Vedação de campanhas que representem apostas como meio de enriquecer
- Bloqueio para beneficiários do Bolsa Família e BPC apostarem (determinação do STF)
- Acordos de cooperação com Febraban, Anatel e organizações de integridade esportiva
A regulamentação das apostas esportivas entrou em vigor oficialmente em 1º de janeiro de 2025, estabelecendo que apenas empresas autorizadas pelo governo federal podem operar no país.
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