Do ponto de vista das narrativas, Lula recebeu um presente dos Estados Unidos com o fim das sanções contra Alexandre de Moraes, e isso deve lhe conferir uma importante vantagem política para o início do ano. Por outro lado, ele precisará demonstrar muita habilidade para lidar com o custo político de governar, ainda mais em um ano eleitoral, em que os interlocutores possuem agendas e interesses próprios.
Câmara e Senado aprovaram o chamado PL da Dosimetria, que altera a forma de aplicar penas aos condenados pelos ataques de 8 de Janeiro. No Senado, a proposta passou por 48 votos a 25 e reduz a punição ao impedir, em certos casos, a soma de crimes como golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de Direito, além de prever redutores para quem não organizou ou financiou os atos. Lula já sinalizou veto e, se o fizer, o Congresso ainda pode derrubar a decisão.
No plenário, o projeto é descrito como "correção de excessos" por uns e "atalho para a impunidade" por outros. Nos mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram monitorados em tempo real pela Palver, entre as mensagens que tomam posição sobre a dosimetria, cerca de 86% defendem aliviar penas, quase sempre alegando "perseguição" e "injustiça", com apelos por "anistia". A rejeição à medida, perto de 14%, aparece ancorada no mote "sem anistia" e na ideia de que reduzir penas normaliza a tentativa de ruptura institucional.
O embate do governo com o Congresso faz com que aumente o custo político das negociações, preço que se elevará em 2026 ainda mais por se tratar de um ano eleitoral. Além disso, qualquer movimento precisa levar em consideração o fato de que, para que tenha governabilidade em um próximo mandato, Lula depende da construção de um Senado mais alinhado. A oposição também sabe disso, aumentando a pressão para que a costura política se mostre acertada.
Se o cenário nacional traz desafios, a política externa também não alivia, e o presidente precisa lidar com o tensionamento entre Washington e Caracas. Em dezembro, os EUA intensificaram operações no Caribe e passaram a interceptar petroleiros que saem da Venezuela, em uma estratégia que o governo Trump descreve como bloqueio ao comércio de óleo ligado ao regime de Nicolás Maduro.Do lado venezuelano, vieram acusações de "pirataria" e promessas de levar a disputa a fóruns internacionais.
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Nesse contexto, Lula tem uma oportunidade rara de conseguir costurar pontes e virar interlocutor em um conflito que mexe com petróleo, migração e democracia. No entanto, se fracassar ou parecer refém de um lado, perde credibilidade, e isso pode ter efeito na aprovação do governo. A política externa, que costuma render pouca pauta eleitoral, é uma armadilha política caso a falha nas negociações resulte em uma guerra.
Os dados da Palver mostram que, entre as mensagens que se posicionam sobre Venezuela, cerca de 77% reagem com vocabulário de "soberania" e "imperialismo", mirando os EUA; os outros 23% apoiam Trump e Milei e tratam a queda de Maduro como desfecho desejável. No entanto, é importante destacar que a grande maioria não se posiciona, mas apenas repercute manchetes, vídeos e boatos, cenário perfeito para que qualquer narrativa bem construída possa impactar radicalmente na opinião pública.
A combinação das duas agendas trará bastante para Lula e seu time. Por um lado, o Congresso sinaliza que a negociação em 2026 será mais cara e mais tensa, porque temas sensíveis viram moeda de pressão. Por outro, a crise venezuelana pode elevar o Brasil a um papel de mediação que há anos não exercia, mas também servir para minar a popularidade do governo Lula. As consequências das decisões tomadas não devem ser imediatas, mas erros de cálculo nesses temas podem ser muito custosos do ponto de vista eleitoral.

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