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Crédito, REUTERS/Nathan Howard
- Author, Gary O'Donoghue
- Role, Correspondente-chefe da BBC na América do Norte
Há 30 minutos
Donald Trump tem o hábito de ligar para jornalistas de surpresa. O presidente dos Estados Unidos parece preferir uma conversa improvisada por telefone a uma entrevista formal diante das câmeras.
Na noite de segunda-feira (14/7), chegou a minha vez. E vou ser sincero: eu estava dormindo quando a Casa Branca ligou.
Passei quase cinco dias acreditando que havia uma chance remota de conseguir uma entrevista com ele, para marcar um ano da tentativa de assassinato sofrida em Butler, na Pensilvânia.
Minha cobertura daquele atentado ganhou repercussão mundial — e chamou provavelmente a atenção do presidente. Avaliei que talvez essa conexão fosse o caminho para garantir uma entrevista presidencial — algo bastante raro para veículos de imprensa estrangeiros nos EUA.
No domingo à noite, fui avisado de que a ligação estava prestes a acontecer, então minha equipe e eu ficamos prontos para gravar. Mas ela não veio.
Na noite seguinte, eu já tinha desistido da entrevista. Após semanas seguidas na estrada, sem folga, eu estava exausto e tirei um cochilo. Foi então que o telefone tocou.
Ainda sonolento, atendi. A voz da secretária de imprensa Karoline Leavitt surgiu no viva-voz: "Oi, Gary, estou aqui com o presidente, pode falar com ele".
Corri para a sala, tentando alcançar o gravador digital. A linha caiu e achei que tinha perdido a chance. Mas a ligação voltou, e passei quase 20 minutos conversando com Trump sobre tudo — da noite do atentado em Butler às frustrações com Vladimir Putin, passando por sua nova visão sobre a Otan e sua opinião sobre o Reino Unido.
Aqui estão os cinco principais destaques da nossa conversa surpresa.
1. Trump mostra outro lado ao falar sobre Butler
Em alguns momentos, ele foi bastante reflexivo — e soou visivelmente vulnerável ao falar sobre a tentativa de assassinato. Ficou claro que não se sente à vontade com o tema.
Para um presidente que é idolatrado por seus apoiadores por falar sem filtros, houve pausas longas e momentos de introspecção raramente vistos em público.
Quando perguntei se a tentativa de assassinato o havia mudado, Trump demonstrou certa vulnerabilidade ao responder que tenta pensar o mínimo possível sobre o episódio.
"Não gosto de ficar remoendo isso, porque, se fizesse isso, sabe, poderia ser algo transformador... e eu não quero que seja", disse ele.
Em seguida, explicou que acredita no "poder do pensamento positivo — ou do pensamento positivo sem pensar".
Houve também uma longa pausa quando perguntei se ele confiava no presidente russo, Vladimir Putin.
Eventualmente, respondeu: "Para ser honesto com você, não confio em quase ninguém".
Mudando para a política doméstica americana, perguntei se o plano de deportações em massa estava funcionando — tanto em termos de agilidade quanto considerando que algumas pessoas estavam sendo deportadas mesmo sem fazer parte do público-alvo.
O presidente insistiu que sua equipe estava fazendo um "ótimo trabalho" em cumprir as promessas de campanha, citando a queda drástica no número de migrantes cruzando a fronteira com o México.
Alguns integrantes do governo têm expressado frustração com a lentidão das deportações. Quando pressionei Trump a dizer quantas deportações seriam consideradas um sucesso neste segundo mandato, ele se recusou a dar um número.
"Bem, eu não estipulo um número, mas quero tirar os criminosos rapidamente — e estamos fazendo isso, como você sabe", respondeu. "Estamos mandando de volta para El Salvador, entre muitos outros lugares."
Crédito, REUTERS/Leah Millis/File Photo
3. Mais frustração com Putin
Trump expressou frustração com o presidente russo, Vladimir Putin — encerrando um dia em que ameaçou atingir a economia de Moscou com sanções secundárias caso não se chegue a um acordo sobre a guerra na Ucrânia em até 50 dias.
Após ter feito campanha prometendo acabar rapidamente com a guerra, Trump pareceu perplexo por ainda não ter conseguido chegar a um acordo com seu homólogo russo para encerrar o conflito.
Mais uma vez, ele sugeriu que havia um descompasso entre as palavras e ações de Putin: "Achei que já tínhamos fechado um acordo quatro vezes. Aí você volta pra casa e descobre que bombardearam um asilo em Kyiv. Pensei: 'Mas que diabos foi isso?'"
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e outros líderes europeus já acusaram Putin de não estar comprometido com o fim da guerra. Para eles, a dúvida não é novidade.
Mas, quando perguntei a Trump se tinha desistido do líder russo, ele manteve a porta aberta: "Não terminei com ele, mas estou decepcionado".
4. Novo tom sobre a Otan
Lembrei a Trump que ele já havia sugerido que a Otan era obsoleta. Ele respondeu que agora acredita que a aliança militar ocidental está "se tornando o oposto disso".
Ele havia acabado de receber o novo secretário-geral da Otan, Mark Rutte — com quem, aparentemente, tem boa relação. Os dois trocaram elogios diante das câmeras e anunciaram que os EUA venderiam armas à Otan, que seriam posteriormente repassadas à Ucrânia.
Durante nossa conversa, Trump indicou que estava deixando de lado o ressentimento com o fato de os EUA gastarem proporcionalmente mais com defesa do que os aliados.
"Era muito injusto, porque os Estados Unidos pagavam quase tudo. Mas agora eles estão pagando suas próprias contas — e acho isso muito melhor", afirmou, referindo-se a uma promessa recente dos membros da Otan de elevar os gastos com defesa para 5% do PIB de cada país.
"Nós mudamos muita coisa na Otan", disse ele.
5. Respeito por Starmer e pelo Reino Unido
Trump destacou seu respeito pelo Reino Unido e pelo primeiro-ministro, Sir Keir Starmer — com quem, no mês passado, assinou um acordo para reduzir barreiras comerciais. "Gosto muito do primeiro-ministro, mesmo ele sendo um liberal", afirmou.
Ele enfatizou que a relação entre os dois países continua sendo "especial", como muitos britânicos gostam de acreditar e acrescentou que acredita que o Reino Unido lutaria ao lado dos EUA em uma guerra.
O presidente americano pareceu tranquilo quanto a eventuais desfeitas. Embora sua visita de Estado ao Reino Unido, prevista para este ano, não inclua um discurso no Parlamento, Trump não exigiu a convocação dos parlamentares. "Deixem eles se divertirem", disse.
Trump chamou o rei Charles de "um verdadeiro cavalheiro". E minimizou um discurso recente do monarca no Parlamento canadense, visto por alguns como uma defesa da soberania do Canadá diante das ameaças de Trump.
Teve até piada: "Vocês têm muitos nomes diferentes, né?", brincou. "Inglaterra, se quiserem cortar umas partes. Aí tem Reino Unido, tem Grã-Bretanha. Acho que é o país com mais nomes da história."
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