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'Não sabia o quanto minha filha era viciada': brasileiros contam como foi a proibição de redes sociais na Austrália

O país é o 1º do mundo a adotar uma regra com esse alcance, aprovada no fim de 2024. Com o lema "Let them be kids" (deixem eles serem crianças), o governo australiano diz que o objetivo da mudança é proteger os jovens de conteúdos impróprios, aliciamento e riscos à saúde mental.

Agora, plataformas como Instagram, Facebook, Threads, TikTok, Snapchat, YouTube, X, o fórum Reddit e as redes de transmissões ao vivo Kick e Twitch deverão desativar contas já existentes de menores de 16 anos e impedir a criação de novos perfis.

Ficaram de fora da restrição plataformas como YouTube Kids, Google Classroom, WhatsApp, Roblox e Discord. Isso porque a lei se refere a plataformas que têm como único propósito ou propósito significativo permitir a interação entre usuários e a publicação de conteúdos.

Para saber mais sobre como foi essa mudança, o g1 conversou com famílias brasileiras que moram na Austrália. Confira alguns relatos abaixo.

  • 'Não sabia o quanto minha filha era viciada'
  • 'Estão tirando a nossa liberdade'
  • 'Crianças precisam viver no mundo real'
  • Novos apps e tentativas de burlar a proibição

'Não sabia o quanto minha filha era viciada'

Oprah e sua filha, Theodora — Foto: Acervo pessoal

Oprah Parsons, de 51 anos, mora na cidade costeira de Woy Woy, na Austrália, com sua filha, Theodora, de 9 anos.

Ela conta que, apesar de saber que a filha usava muito as redes sociais, não esperava que ela ficasse "tão sem chão" depois da proibição.

"Ela está nervosa, parece que tá faltando algo. No dia 10 [quando a proibição começou], ela chegou da escola, foi comer e senti ela 'meio perdida'. Eu não sabia o quanto minha filha era viciada", conta.

Oprah acredita que, desde que a menina se mudou de São Paulo para a Austrália para ficar com ela, há cerca de um ano, ela passou a usar as redes sociais para diminuir a solidão e a saudade do Brasil, "como um amigo mesmo".

Por isso, segundo a mãe, era muito difícil impor limites ao uso.

"Nesse sentido, a nova lei caiu como uma luva para mim. A minha proibição ela não estava acatando, mas a do governo teve que seguir", diz.

Oprah conta que, mesmo com o choque inicial, a medida vai ser positiva para a filha e que está a incentivando a brincar com bonecas e desenhar mais.

'Estão tirando a nossa liberdade'

Gabriella (à direita), seus pais (Hugo e Fernanda) e seu irmão, Gustavo (abaixo) — Foto: Acervo pessoal

Gabriella Rossi, de 14 anos, foi uma das adolescentes afetadas pela proibição das redes sociais na Austrália. Ela é brasileira e mora em Sydney com a família há 8 anos.

Ela conta que, apesar de não ter algumas das redes sociais mais conhecidas, como TikTok e Instagram, ela usava bastante o YouTube para ver vídeos de maquiagem e cuidados com a pele, por exemplo.

No dia em que a lei começou a valer na Austrália, ela correu para checar se a sua conta na plataforma tinha sido excluída — o que se confirmou (veja na foto abaixo um exemplo do aviso de bloqueio).

"Eu fico triste porque tira a nossa liberdade, mas, como eu não tinha redes sociais mais comuns, não me afetou tanto", diz.

Adolescente tem conta bloqueada para verificação de idade na Austrália. — Foto: STR / AFP

Para a sua mãe, Fernanda Rossi, de 40 anos, a proibição deveria ser algo determinado pela família mais do que pelo governo.

"Não sou 100% contra, mas acredito que esse tipo de decisão deve vir das escolas e dos pais", diz. "Além disso, acredito que só proibir pode inclusive despertar o interesse dos adolescentes".

'Crianças precisam viver no mundo real'

Jason, Ana Lúcia, Jake e Alicia — Foto: Acervo pessoal

Ana Lucia Ferreira, de 46 anos, mora em Sydney há 24 anos, e tem dois filhos australianos adolescentes: Alicia, de 12 anos, e Jake, de 15.

Apesar disso, depois de terem as suas contas bloqueadas, eles "ainda não reclamaram", segundo a mãe.

"Acredito que isso aconteceu porque esta medida foi anunciada com bastante antecedência e as escolas prepararam bem as crianças e os pais", justifica. "Eles já sabiam há um bom tempo que estava para acontecer."

Ana conta que tanto ela quanto a maioria dos pais com quem convive acharam a mudança muito positiva, já que "as crianças precisam viver no mundo real".

"Crianças precisam de tempo para criatividade e atividades físicas e as mídias sociais estavam roubando isso deles", afirma.

Novos apps e tentativas de burlar a proibição

O g1 não conversou diretamente com nenhum adolescente que tenha burlado a proibição das redes sociais na Austrália. Apesar disso, Gabriella, de 14, conta que alguns dos seus amigos conseguiram manter as suas contas ativas.

"Eles mudaram a data de nascimento na plataforma antes da proibição começar a valer", conta Gabriella.

Já Jake, de 15 anos, relata que alguns dos seus amigos tentaram fazer o mesmo, mas foram barrados pela ferramenta de reconhecimento facial das plataformas.

O jovem australiano contou também que, logo que a sua conta foi bloqueada no TikTok, ele baixou outro aplicativo de vídeos semelhante, que não estava na lista proibida pelo governo. E, segundo ele, muitos de seus colegas fizeram o mesmo.

Segundo o jornal The Guardian, o governo do país está de olho nessas redes sociais menores e pode incluí-las na proibição em breve.

Apesar de não proibir o acesso de menores de 16 anos a redes sociais, o Brasil também vai implementar novas medidas de segurança para adolescentes na internet. A partir de março de 2026, começam valer as exigências do Estatuto Digital da Criança e do Adolescente (ECA Digital), que virou lei em setembro.

Brasileiros contam como foi a proibição de redes sociais para menores de 16 anos na Austrália — Foto: Acervo pessoal

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