Vídeos nas redes sociais levantaram uma discussão que voltou ao centro do debate digital: celulares e assistentes de IA estariam acessando câmera e microfone sem permissão? Os conteúdos viralizaram ao sugerir que as respostas dos aplicativos seriam “precisas demais” para serem coincidência. As publicações reacenderam o medo de vigilância oculta e dividiram opiniões. O tema ganhou ainda mais fôlego depois de a OpenAI informar que pode acionar autoridades quando detectar riscos sérios em conversas, o que aumentou a dúvida sobre o quanto essas plataformas acompanham realmente o usuário.
Não há confirmação técnica de que os casos mostrados nos vídeos sejam reais. Ainda assim, as situações apresentadas levantam pontos importantes sobre segurança digital, permissões excessivas e versões antigas de sistemas operacionais, que deixam brechas abertas para ataques. Para separar fatos de ruídos, ouvimos dois especialistas em cibersegurança — Hesron Hori, diretor de Risk Assessment da Under Protection, empresa especializada em cibersegurança; e Fernando Corrêa, Fundador e CEO da Security First, empresa criada em 2011. A seguir, veja o que revelam os vídeos virais, o que dizem os especialistas e quais configurações merecem atenção imediata no seu celular.
Vídeos que sugerem vigilância silenciosa por celulares e IAs reacenderam o debate sobre privacidade digital. Especialistas explicam o que é possível e o que é mito — Foto: gerado pelo nano banana - O que mostraram os vídeos virais?
- É possível acessar câmera e microfone sem avisar o usuário?
- Malwares que permitem vigilância silenciosa
- Permissões que abrem brecha para monitoramento
- Configurações ignoradas que elevam o risco
- Vídeos virais: coincidência, falha de IA ou vigilância real?
- Como diferenciar caso real de viés de percepção
1. O que mostraram os vídeos virais?
Os vídeos mostram usuários sugerindo que seus celulares “adivinharam” informações nunca compartilhadas, como refeições, objetos próximos e situações específicas. Em alguns casos, as respostas das IAs pareciam tão precisas que geraram suspeita de monitoramento ambiental, especialmente por microfone ou câmera. Por isso, a viralização ampliou também a preocupação das pessoas.
Analisando as publicações, elas seguem um padrão: o usuário alega nunca ter mostrado uma imagem referente ao assunto, mas, ao questionar a IA, recebe uma resposta compatível com o contexto. Na maioria das vezes, não há prova de que o celular estava restrito a uma única fonte de informação. Ainda assim, as cenas foram suficientes para levantar dúvida sobre privacidade.
Especialistas alertam que esse tipo de vídeo explora um medo legítimo, mas nem sempre apresenta evidências. Muitas vezes, há edição, cortes ou perguntas amplas que podem ser respondidas com base em contexto genérico, padrões de linguagem ou memórias anteriores na própria ferramenta, não necessariamente por vigilância ativa.
2. É possível acessar câmera e microfone sem avisar o usuário?
Ciberespecialistas explicam que acesso clandestino é possível em aparelhos vulneráveis ou infectados — Foto: Reprodução/Shutterstock Sim, é tecnicamente possível. Tanto Fernando Corrêa quanto Hesron Hori afirmam que malwares e softwares mal configurados podem acionar microfone e câmera sem que o usuário perceba. Isso ocorre principalmente em sistemas antigos, com permissões mal protegidas e falhas já conhecidas. Segundo Corrêa, cerca de “50% dos dispositivos em uso rodam versões obsoletas”, o que amplia o risco.
Hori lembra que alguns dispositivos acionam o LED da câmera por software, e esse comportamento pode ser manipulado em ataques mais avançados. No microfone, a situação é ainda mais crítica: a captura de áudio geralmente não tem qualquer indicador visual nativo no aparelho. Ou seja, quando há invasão, a vigilância costuma passar despercebida.
Porém, os dois especialistas reforçam que isso depende de algum tipo de comprometimento do dispositivo: malware, permissões abusivas ou aplicativos maliciosos. Não se trata de algo que ocorra espontaneamente em celulares íntegros.
3. Malwares que permitem vigilância silenciosa
Os especialistas listam uma série de ataques capazes de acionar recursos de forma encoberta. Corrêa menciona adwares, spywares, trojans, keyloggers, rootkits e malwares bancários — todos capazes de controlar funções do aparelho quando obtêm privilégios elevados. Alguns, como rootkits, operam de modo totalmente invisível ao usuário.
Hori traz exemplos ainda mais sofisticados, como o Pegasus, usado em operações de espionagem avançada, que acessava câmera e microfone sem qualquer alerta. Ele também cita softwares comerciais (“bossware”), comuns em empresas, que possuem recursos semelhantes de monitoramento.
Esses programas costumam chegar ao celular por engenharia social: aplicativos falsos, mensagens falsas de bancos, páginas clonadas de lojas ou orientações fraudulentas de suporte. A porta de entrada costuma ser a confiança da vítima, não um ataque técnico extremo.
4. Permissões que abrem brecha para monitoramento
Acesso indevido costuma começar por permissões exageradas concedidas a aplicativos comuns. Permissões amplas, como microfone contínuo e sobreposição de apps, são portas de entrada — Foto: Reprodução/Freepik A maioria dos abusos começa com permissões concedidas pelo próprio usuário. Acesso a câmera e microfones são riscos diretos. Porém, permissões como “sobrepor outros apps”, localização contínua e acesso administrativo também criam caminhos perigosos.
Corrêa lembra que muitos aplicativos pedem permissões desnecessárias, como um app de música que solicita acesso à câmera, algo que pode ser explorado caso o app tenha vulnerabilidades. Hori reforça que permissões excessivas permitem que o próprio aplicativo “se dê mais acesso” ao longo do tempo, o que amplia o risco de uso indevido.
A recomendação é revisar permissões individualmente. No Android, isso é feito em Configurações > Aplicativos > Permissões. No iOS, em Ajustes > Privacidade e Segurança. Ambos mostram quais apps acessaram microfone e câmera recentemente.
5. Configurações ignoradas que elevam o risco
Muitos usuários instalam aplicativos sem revisar permissões, atualizações e fontes de download. Segundo Corrêa, versões antigas de Android e iOS são um dos maiores problemas: não recebem correções e têm controles de privacidade mais fracos, facilitando ataques.
Hori destaca permissões administrativas como risco máximo, poucos apps legítimos precisam disso. Outra falha ignorada é permitir que um app instale outros apps, o que abre uma cadeia de ataques silenciosos. Revisar relatórios de uso de permissões, quando disponíveis, ajuda a identificar comportamentos suspeitos.
Especialistas reforçaram que o usuário comum costuma ignorar avisos de segurança. Isso cria terreno fértil para golpes que se passam por lojas, bancos, empresas de cobrança ou suporte técnico.
6. Vídeos virais: coincidência, falha de IA ou vigilância real?
Vídeos podem refletir coincidências, inferências linguísticas ou edição; não acesso clandestino — Foto: Reprodução/Freepik Os especialistas concordam: os vídeos podem mostrar algo tecnicamente possível, mas também podem ser fruto de coincidências, vieses de percepção, edição ou funcionamento natural das IAs. Ferramentas generativas têm características como “delírio”, respostas inventadas que parecem plausíveis, mas são apenas padrões estatísticos.
Hori cita casos em que a IA responde sobre itens que nunca existiram, justamente porque se apoia em padrões linguísticos. Perguntas genéricas como “vegetais e proteína” podem gerar resultados coerentes sem qualquer captura de imagem. Isso cria a sensação de que o sistema “viu” algo, quando apenas inferiu.
Corrêa lembra que a memória dos apps também influencia. Se o usuário faz consultas frequentes (como calorias, dietas ou fotos enviadas anteriormente), a IA pode construir um histórico interno, dando a impressão de “adivinhação”.
7. Como diferenciar caso real de viés de percepção?
Para Hori, a melhor forma é testar o contraditório: bloquear a câmera fisicamente, criar situações impossíveis e observar a resposta. Se a IA “acertar” algo que não existe ou não está visível, é delírio, não vigilância. Isso ajuda a desmistificar a sensação de monitoramento.
Corrêa recomenda verificar indicadores nativos: pontos laranja e verde no iOS, ícones verdes no Android. Esses sinais mostram se câmera ou microfone estão ativos. Porém, ele reforça que metade dos aparelhos em uso no país não tem essas funções por rodarem versões antigas.
A checagem final sempre passa por um ponto: revisar permissões. Se a ferramenta nunca teve acesso à câmera ou microfone, qualquer resposta “sobrenatural” é fruto do modelo de linguagem, não de vigilância real.
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