
Crédito, Reprodução Instagram/@zezedicamargo
- Author, Redação
- Role, BBC News Brasil
16 dezembro 2025, 13:33 -03
Atualizado Há 15 minutos
O cantor Zezé Di Camargo pediu ao SBT que cancelasse a exibição de seu especial de Natal após críticas públicas feitas por ele à presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de integrantes do governo no lançamento do SBT News, novo telejornal da emissora.
O episódio, que começou como uma reação individual de um artista alinhado ao bolsonarismo, rapidamente se transformou em um debate nacional sobre mídia, poder, polarização política e o uso simbólico do legado de Silvio Santos.
O especial "Natal é Amor com Zezé Di Camargo" estava previsto para ir ao ar no dia 17, mas foi retirado da grade depois que o cantor divulgou um vídeo nas redes sociais criticando duramente a emissora.
No pronunciamento, Zezé afirmou que o SBT estaria "se prostituindo" ao receber Lula e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes em um evento institucional de lançamento do novo jornal.
Pouco depois, o SBT informou, em nota, que decidiu não exibir o especial após avaliações internas e que divulgaria posteriormente a atração que ocupará o horário.
No vídeo, Zezé disse que não tinha "nada contra ninguém", mas afirmou que o que viu no evento não representava seu pensamento nem, segundo ele, o pensamento de grande parte do Brasil.
Ao mencionar diretamente as filhas de Silvio Santos, o cantor sugeriu que elas estariam adotando posições diferentes das do pai e declarou que "filho que não honra pai e mãe não existe".
Em seguida, pediu publicamente que seu especial fosse retirado do ar, por considerar incoerente associar seu nome a uma emissora que, na sua avaliação, teria mudado de posição política.

Crédito, Divulgação/SBT
Divergências políticas
O lançamento do SBT News, realizado na última sexta-feira, reuniu autoridades de diferentes campos políticos e foi marcado por um tom institucional e cordial.
Imagens do evento mostraram Lula compartilhando risadas e cumprimentos com adversários políticos, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
O encontro foi interpretado por críticos como um gesto simbólico de reaproximação do SBT com o atual governo.
Zezé Di Camargo, que há anos manifesta publicamente apoio ao bolsonarismo, não citou Lula ou Moraes nominalmente em seu vídeo, mas sua identificação política é conhecida.
Em outubro, durante um show em Santa Catarina, o cantor defendeu a anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro. Na ocasião, discursou para uma plateia que demonstrava apoio explícito ao ex-presidente Jair Bolsonaro, hoje preso sob acusação de liderar uma trama golpista.
A repercussão alcançou o campo político. A primeira-dama Janja Lula da Silva criticou as declarações do cantor e afirmou que Zezé foi "misógino" e "machista" ao usar o termo "prostituição" para se referir às decisões das filhas de Silvio Santos, hoje à frente da emissora.
Segundo Janja, a fala do cantor reflete um padrão de desrespeito à presença feminina em espaços de poder. Em publicação nas redes sociais, ela afirmou que acusar as filhas de Silvio de "prostituir" o SBT por convidar autoridades para um evento institucional alimenta discursos de ódio e revela preconceito contra mulheres que ocupam posições de comando.
No campo bolsonarista, a reação foi mais ambígua. O senador Flávio Bolsonaro, pré-candidato à Presidência pelo PL, criticou o uso da palavra "prostituir" por Zezé Di Camargo, embora tenha dito compreender a indignação do cantor.
Em entrevista, Flávio afirmou que a expressão foi um exagero, especialmente por envolver as filhas de Silvio Santos, e defendeu que divergências políticas não sejam tratadas de forma agressiva.
Segundo ele, o cantor deveria pedir desculpas pela forma como se expressou.
O legado de Silvio Santos
Durante sua crítica, Zezé Di Camargo sugeriu que a atual direção do SBT estaria se afastando dos valores e das posições que, em sua visão, marcaram a trajetória do fundador da emissora.
Mas segundo entrevista concedida em 2021 à BBC News Brasil pelo jornalista e biógrafo Mauricio Stycer, Silvio Santos sempre viu a política como uma ferramenta para garantir seus negócios, e não como uma causa a ser defendida.
Ao longo de décadas, manteve relações próximas com governos de diferentes matizes, da ditadura militar aos presidentes eleitos após a redemocratização.
Foi durante o regime militar que Silvio obteve autorizações fundamentais para operar canais de televisão em várias capitais, o que possibilitou a criação do SBT em 1981.
O apresentador demonstrava gratidão pública ao general João Figueiredo, último presidente da ditadura, e o canal exibiu por anos o programa "Semana do Presidente", que acompanhava de forma elogiosa as atividades do chefe do Executivo.
Depois, sua relação pragmática com o poder chegou a incluir uma incursão direta na política eleitoral.
Em 1989, Silvio Santos tentou se lançar candidato à Presidência da República, em uma articulação de última hora que envolveu disputas políticas e empresariais.
Embora nunca tenha exercido cargo público, o apresentador manteve relações estreitas com presidentes civis e militares e chegou a surgir como um nome competitivo nas pesquisas.
A candidatura acabou barrada por entraves legais e políticos poucos dias antes da eleição, mas o episódio evidenciou como Silvio via a política menos como um campo ideológico e mais como uma arena estratégica, segundo a biografia escrita por Stycer.
Nos governos civis que seguiram, Silvio teve relações cordiais com José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff, que chegaram a aparecer em depoimentos elogiosos em um documentário sobre sua vida.
Em 2010, no auge da crise do Banco Panamericano, Silvio se reuniu com Lula para discutir alternativas que evitassem a liquidação da instituição, que acabou sendo socorrida pelo Fundo Garantidor de Crédito antes de ser vendida.
A proximidade com o poder também se intensificou nos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro. Temer participou de programas do SBT enquanto buscava apoio para a Reforma da Previdência, e a emissora exibiu vinhetas defendendo a necessidade da medida.
Com Bolsonaro, a relação foi ainda mais explícita: o então presidente entrou ao vivo no Teleton logo após ser eleito e visitou Silvio em sua casa em São Paulo. Em 2020, Bolsonaro recriou o Ministério das Comunicações e nomeou para o cargo Fábio Faria, genro de Silvio Santos.
Para Stycer, essa proximidade sempre esteve ligada a interesses empresariais e à sobrevivência do grupo no competitivo mercado de comunicação.
Silvio nunca se apresentou como um militante político e tampouco manteve uma linha ideológica coerente ao longo do tempo. Seu objetivo central era proteger e expandir seus negócios.

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