Veados em neve e perto de tubulação

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Oleoduto no Alasca; no século passado, petroleiras encontraram enormes reservas no norte do Estado
    • Author, Redação
    • Role, BBC News Mundo*
  • Há 28 minutos

Os olhos do mundo estarão voltados nesta sexta-feira (15/08) para o Alasca, Estado americano onde os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, vão se reunir.

Os EUA compraram o Alasca da Rússia em 1867, o que dá um significado histórico ao encontro.

Trump anunciou a reunião na última sexta-feira (08), mesmo dia em que expirou o prazo que ele mesmo impôs para que a Rússia aderisse a um cessar-fogo, sob pena de enfrentar mais sanções americanas.

Reagindo às notícias do encontro no Alasca, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que qualquer acordo sem a participação de Kiev equivaleria a uma "decisão morta".

Zelensky deve participar de uma reunião virtual com Trump, com o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, e com líderes da União Europeia na quarta-feira (13).

A reunião entre Trump e Putin será o primeiro encontro presencial entre os dois desde 2019, quando se encontraram durante o primeiro mandato do americano.

A Casa Branca não explicou por que Trump decidiu realizar o encontro no Alasca.

O assessor presidencial russo, Yuri Ushakov, disse que o Estado americano é um local "bastante lógico" e que ambos os países são vizinhos, com o Estreito de Bering os dividindo.

"Parece bastante lógico que nossa delegação simplesmente sobrevoe o Estreito de Bering e que uma cúpula tão importante e esperada dos líderes dos dois países seja realizada no Alasca."

Trump e Putin se olhando em encontro

Crédito, REUTERS/KEVIN LAMARQUE

Legenda da foto, A última vez que Putin e Trump se encontraram presencialmente foi em 2019

O governador do Alasca, o republicano Mike Dunleavy, comemorou a escolha de seu Estado para o encontro, que chamou de "histórico".

"O Alasca é o local mais estratégico do mundo, situado na encruzilhada entre a América do Norte e a Ásia, com o Ártico ao norte e o Pacífico ao sul. Com apenas três quilômetros separando a Rússia do Alasca, nenhum outro lugar desempenha um papel mais vital em nossa defesa nacional, segurança energética e liderança no Ártico", escreveu Dunleavy na rede social X.

"É apropriado que discussões de importância global ocorram aqui."

Em 2008, a republicana Sarah Palin, ex-governadora do Alasca, destacou que a Rússia é a "vizinha" do Estado americano e pode ser vista de uma ilha no Alasca.

A última vez que o Alasca esteve no centro das atenções em um evento de alcance internacional foi em março de 2021, quando a recém-formada equipe diplomática e de segurança nacional de Joe Biden se encontrou com pares chineses em Anchorage.

Mas como esse pedaço de terra gelado saiu da mão dos russos e foi parar na dos americanos?

Loucura ou o melhor negócio de todos os tempos?

Os Estados Unidos compraram o Alasca do governo imperial russo em 30 de março de 1867, por US$ 7,2 milhões na época — aproximadamente US$ 152 milhões em 2024.

O território era uma imensidão isolada que não parecia ter utilidade econômica alguma.

Os críticos zombavam da "loucura de Seward" — a compra do Alasca, associando-a ao então secretário de Estado, William Seward, que tinha feito o negócio.

O tempo acabou dando razão a Seward: a aquisição se mostrou um dos negócios mais rentáveis da história.

A compra do Alasca adicionou mais de 1,5 milhão de quilômetros quadrados aos EUA.

Mas o Alasca é muito mais que um pedaço de terra gelada. É também um enorme depósito de recursos naturais: menos de 20 anos depois de o negócio ser fechado, instalou-se uma corrida por ouro na região.

Além disso, em meados do século 20, petroleiras encontraram enormes reservas no norte do Estado que, desde então, têm sido exploradas de maneira intensa e rendem milhares de dólares.

O Alasca se transformou numa poderosa economia. Tem uma população próxima de 740 mil habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de US$ 54,9 bilhões em 2024, em valores reais.

Em outras palavras, produz anualmente mais de 350 vezes o que a Rússia ganhou ao vender o território.

O Alasca sempre foi considerado estratégico do ponto de vista militar.

Acredita-se que, entre as razões pelas quais a Rússia vendeu a terra, estaria o receio de que o Reino Unido tivesse ambições expansionistas. Naquela época, os britânicos eram uma superpotência mundial e já controlavam o Canadá.

Trecho de documento manuscrito

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Este foi o cheque com que os Estados Unidos compraram o Alasca

Mal imaginaria o czar Alexandre 2º que, quase um século depois, em 1945, início da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, o Alasca se tornaria um posto militar de valor inestimável — permitia que tropas, radares e aviões americanos estivessem praticamente na porta da Rússia.

Logo, vista com as lentes da modernidade, a venda feita em 1867 pelos russos pode ser encarada como um erro comercial e uma falha estratégica.

Mas essa não foi a única compra de terras a favorecer os EUA no século 19.

Em 1803, décadas antes da aquisição do Alasca, os americanos compraram da França a área conhecida como Louisiana.

Era um território ainda maior que o Alasca, com 2,1 milhões de quilômetros quadrados que compreendem hoje 15 Estados dos EUA — vai da cidade de Nova Orleans, no sul, até Montana, no noroeste do país.

O custo da compra de Louisiana foi de US$ 15 milhões, o equivalente a cerca de US$ 415 milhões em 2024.

No século 19, os EUA conseguiram um aumento territorial expressivo mediante o pagamento de quantias irrisórias para potências europeias.

Mas uma coisa é verdade: naquela época, era difícil prever a expansão econômica que o país iria contabilizar décadas mais tarde.

Seward acabou entrando para história não como um louco, como previam seus contemporâneos, mas como o arquiteto de um dos maiores negócios de todos os tempos.

*A matéria foi publicada originalmente em 30 de março de 2017 e republicada com atualizações e novas informações sobre o encontro entre presidentes no Alasca