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Por que não resistimos às retrospectivas nas redes sociais? Psicóloga explica

No fim do ano, as retrospectivas tomam conta das redes sociais. Plataformas como Spotify e Google Fotos lançam coletâneas das músicas que o usuário ouviu e das fotos que ele tirou, deixando a saudade do ciclo que está se encerrando e trazendo à tona uma avaliação do que está “ficando para trás”. A partir disso, redes sociais passam a explorar esse estado emocional como estratégia para manter o usuário engajado. O TechTudo conversou com a psicóloga Gabriela Inthurn, coordenadora do curso de Psicologia da UNIASSELVI, para entender como essa estratégia emocional pode ir além da nostalgia.

Por que o fim do ano nos deixa mais suscetíveis à nostalgia

O sentimento de nostalgia sempre aparece no fim do ano – e ele é amplamente explorado nas redes sociais quando dezembro se aproxima. Como aponta a psicóloga Gabriela Inthurn, o encerramento de um ano e a chegada de outro são momentos simbólicos que nos convidam a refletir sobre o passado e a planejar o futuro. “Culturalmente, o fim do ano, Natal e Ano Novo são momentos que nos levam a repensar a vida e o ano que passou e a planejar coisas para o próximo ano”, comenta Gabriela.

Ela afirma que este é um comportamento socialmente aprendido na cultura ocidental. Assim, com esse “movimento emocional”, as sensações ligadas à memória se intensificam e as pessoas tornam-se mais sentimentais ao revisitar lembranças como músicas, imagens, rotinas e referências de outras épocas.

Ainda de acordo com a psicóloga, essa predisposição à nostalgia é culturalmente construída e acaba sendo identificada pelos algoritmos das plataformas. Contudo, esse tipo de conteúdo pode ir muito além do conforto – e se não souber lidar com ele, o usuário acaba ficando nostálgico além da conta e, consequentemente, triste.

Como as redes sociais usam a nostalgia para aumentar o engajamento

A incidências de conteúdos nostálgicos publicados nas redes sociais durante o fim de ano não é coincidência: as plataformas entendem que os usuários estão mais suscetíveis à nostalgia nessa época de "encerramento". Por isso, utilizam essa emoção como uma poderosa ferramenta para aumentar o engajamento e mantê-los conectados.

E isso não é de todo mal. “A nostalgia, quando positiva, pode nos fazer voltar a um local de conforto e reviver sentimentos daquele momento”, explica a psicóloga. Em suma, os algoritmos aproveitam essa busca por boas sensações e prendem a atenção das pessoas, que acompanham as retrospectivas em diversas plataformas que usam, se divertem com o que veem e, muitas vezes, até compartilham os resultados com amigos e familiares.

Quando a nostalgia faz bem — e quando pode virar um problema

Embora a nostalgia possa proporcionar acolhimento e prazer ao relembrar de momentos felizes, ela também pode trazer à tona sentimentos negativos, como tristeza, idealização excessiva do passado e autocrítica. “Ela pode retornar você a um local confortável e bom, mas também pode fazer você retornar a momentos ruins. Temos o comportamento de tentar entender e editar o que aconteceu conosco, por isso voltamos tanto a pensar no que aconteceu e como poderíamos ter agido diferente”, alerta Gabriela.

Desse modo, se essa nostalgia te leva ao autojulgamento, revisitar o passado pode não ser saudável. Para evitar que esse tipo de conteúdo cause mais mal do que bem, a psicóloga recomenda que o consumo de nostalgia nas redes sociais seja feito com consciência. "Sempre se lembre de parar para pensar na sua realidade, nas suas condições e em quem você é. Aquele conteúdo é um recorte e não toda a realidade", aconselha Gabriela. Esse pensamento ajuda a evitar que as pessoas pensem nos momentos passados de forma idealizada, esquecendo que o agora também é importante.