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Preço do arroz cai quase 50% e pressiona futuro da produção

Os preços pagos ao produtor de arroz chegaram ao menor nível em cinco anos, configurando um cenário de preocupação para a cadeia orizícola gaúcha. Em setembro, a saca de 50 quilos recuou para R$ 61,28, queda de 49% em relação ao mesmo período do ano passado. O valor está muito abaixo do custo médio de produção, estimado pelo Irga em R$ 95,04 por saca na safra 2024/2025, e acende um alerta sobre a sustentabilidade econômica da atividade. A pressão vem da baixa liquidez, da desvalorização do dólar frente ao real e da oferta abundante no mercado internacional, ampliada com a volta da Índia às exportações.

Para Denis Dias Nunes, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz), a conjuntura é inédita e exige atenção máxima. Ele avalia que a crise atual combina queda de preços, estoques elevados e dificuldade de comercialização. A estratégia defendida pela entidade é a redução da área plantada, como forma de equilibrar oferta e demanda e permitir, no futuro, uma recuperação das cotações.

Estamos em um momento crítico. Se não reduzirmos a área plantada de forma consciente, a tendência é que o prejuízo se consolide na próxima safra. O ano que vem será pior”, afirma.

Nunes reforça que a decisão de diminuir o plantio não é apenas econômica, mas também estratégica. Se não houver ajuste imediato, o setor pode se tornar inviável, comprometendo o abastecimento interno no médio prazo.

A preocupação é que, com a falta de estímulo ao produtor, podemos reduzir demais a capacidade produtiva e o Brasil passar a depender de importações. Isso seria um risco à nossa soberania alimentar”, alerta o dirigente.

Os números confirmam o movimento de retração. Levantamento do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) aponta que a área cultivada no Rio Grande do Sul deve cair de 970 mil hectares para 920 mil hectares na safra 2025/2026, uma redução de 5,17%. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima diminuição de 3,1%, enquanto a Federação da Agricultura do Estado (Farsul) recomenda corte de 8%. O objetivo é frear o crescimento dos estoques, atualmente em torno de 14 milhões de toneladas, frente a um consumo interno próximo de 12 milhões de toneladas anuais.

Outro ponto destacado pela Federarroz é a necessidade de ampliar exportações. Essa é considerada uma das poucas saídas para aliviar os estoques, mas enfrenta obstáculos crescentes. Nunes lembra que o arroz do Mercosul entra com custos menores e, muitas vezes, é apenas beneficiado ou ensacado no Brasil, competindo diretamente com o produto gaúcho.

O produtor nacional está em desvantagem. Enquanto arcamos com custos de produção elevados, o mercado interno é abastecido por arroz importado, muitas vezes reembalado aqui dentro. Essa concorrência desleal pressiona ainda mais a rentabilidade da lavoura”, critica Nunes.

Além disso, o dirigente chama atenção para a queda da participação do Rio Grande do Sul no fornecimento de arroz ao restante do País. Segundo ele, parte desse espaço vem sendo ocupado por grãos importados do Mercosul, que chegam a São Paulo e a outros Estados para serem beneficiados e comercializados.

Estamos perdendo presença no mercado nacional justamente porque o arroz estrangeiro, depois de processado em outros centros, passa a abastecer regiões que antes eram atendidas pela nossa produção”, observa Nunes.

Do lado técnico, o Irga confirma a dificuldade enfrentada pelo setor. O presidente do instituto, Eduardo Bonotto, destaca que a safra 2024/2025 apresentou produtividade média de 9.044 quilos por hectare, uma das maiores da história, consolidando o Rio Grande do Sul como responsável por 70% da produção nacional de arroz. Mesmo assim, os altos volumes disponíveis, somados à concorrência internacional, pressionam os preços internos.

Bonotto lembra que o custo de produção é elevado e que o Irga tem trabalhado em pesquisas para oferecer variedades mais produtivas e resistentes, além de estimular práticas de manejo e rotação de culturas, como o sistema RS-14, que integra arroz, soja, milho, trigo e pecuária. Segundo ele, essas iniciativas buscam reduzir custos e melhorar a sustentabilidade da lavoura.

O instituto também lançou, na Expointer, a campanha nacional “O Arroz é Energia”, que já circula nos meios de comunicação, incentivando o consumo interno. A ação busca enfrentar a diminuição do apetite dos brasileiros pelo cereal.

Em paralelo, o Irga participa de articulações com a Federarroz, o Sindarroz e a Agência de Desenvolvimento Invest-RS para ampliar mercados externos. Entre as iniciativas está a aproximação com o programa Brazilian Rice, liderado pela indústria em parceria com a Apex-Brasil, com foco em promover o arroz industrializado brasileiro no mercado internacional.

Mesmo com esses esforços, o momento exige cautela. O custo elevado de produção, a concorrência externa, o excesso de estoques e a limitação de crédito para os produtores criam um cenário de pressão contínua sobre a cadeia orizícola. A orientação das entidades é clara: reduzir área plantada e estoques, priorizar a produtividade e buscar alternativas de mercado, tanto internas quanto externas, para que o arroz gaúcho recupere competitividade e sustentabilidade financeira.

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