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Adeus, Nokia? HMD aposenta smartphones da marca; relembre história da empresa

A HMD Global vem, desde setembro de 2024, removendo gradualmente os smartphones Nokia de seu catálogo. Na última segunda-feira (13), a empresa atualizou a página de todos os aparelhos da Nokia para inserir o rótulo “descontinuado”, encerrando oficialmente a parceria. O evento conclui mais um capítulo conturbado na história recente da Nokia, que já esteve entre as líderes de mercado no setor de celulares, mas emplacou poucos sucessos comerciais na era dos smartphones, mesmo antes do fiasco do Windows Phone. Modelos clássicos como o Nokia 3310 — o "Nokia indestrutível" — ficaram marcados para sempre na memória dos brasileiros.

Pensando nisso, o TechTudo preparou um apanhado com a trajetória da Nokia de uma empresa de papel e borracha para uma das maiores empresas de tecnologia móvel do mundo, sua perda de popularidade com a chegada de smartphones ARM rodando Android, até sua possível saída efetiva do segmento. Vale ressaltar, no entanto, que a Nokia já não tinha fabricação própria de smartphones desde 2013 e passou apenas a licenciar o design de seus smartphones para outras empresas, ciclo que se conclui -—ao menos por enquanto — com o fim da parceria com a HMD Global.

 Reprodução/Carolina Ochsendorf Nokia 3310 foi um dos modelos mais populares da marca — Foto: Reprodução/Carolina Ochsendorf

Fundada em 1865 na Finlândia como uma fábrica de papel, a Nokia expandiu seus negócios para produtos de borracha ainda no século XIX. Nas décadas seguintes, a empresa diversificou suas operações, e passou a investir também no setor elétrico. Em 1967, a fusão com outras duas empresas resultou na Nokia Corporation, ampliando sua atuação em eletrônicos, redes e rádio, além de projetos variados, como a produção de respiradores.

Com o surgimento da telefonia móvel nos anos 1970, a Nokia identificou uma nova oportunidade de expansão. Em 1979, adquiriu parte da Mobira, empresa que, dois anos depois, lançaria a Nordic Mobile Telephone, a primeira rede internacional de telefonia celular. Apesar de ter sob seu guarda-chuva desde 1982 o Mobira Senator — um telefone móvel voltado para carros de luxo —, a Nokia inicialmente não demonstrou interesse em fabricar dispositivos móveis.

Com a expertise desenvolvida com a aquisição, a Nokia se especializou ainda mais no ramo de infraestrutura de telecomunicações, desempenhando um papel crucial no desenvolvimento das redes GSM e 3G nos anos 90. Em 1992, lançou o Nokia 1011, primeiro celular do mercado compatível com a rede GSM. Essa tecnologia mais moderna, diferente da rede CDMA, permitia não apenas chamadas de voz, mas também a transmissão de dados e o envio de mensagens SMS — recurso que se popularizou com o lançamento do Nokia 2110.

Clássicos que marcaram gerações

A Nokia chegou ao Brasil em 1997 por meio de uma parceria com a Gradiente, que resultou na criação da NG Industrial, no polo tecnológico de Manaus. A NGI trouxe ao mercado brasileiro modelos de sucesso, incluindo o Nokia 7110, primeiro celular da empresa no país. Lançado em 1999, o aparelho foi pioneiro ao incluir um navegador WAP, desempenhando um papel importante na popularização da internet móvel no país.

No entanto, poucos aparelhos foram mais memoráveis que o Nokia 3310 “tijolão”, com construção extremamente resistente — a ponto de ainda hoje gerar memes por sua fama de “indestrutível”. Além da resistência, o 3310 era praticamente todo montado no país, o que permitiu um custo mais acessível e favoreceu sua popularização.

 Divulgação/Nokia Nokia 3310 foi lançado no ano 2000 — Foto: Divulgação/Nokia

Não há um registro exato do valor praticado na época, mas modelos como o Motorola StarTAC custavam, em média, US$ 1.000 no mercado internacional — cerca de R$ 1,8 mil na época, e aproximadamente R$ 4.470 pela correção do IPCA. Outro modelo icônico que fez sucesso no país foi o Nokia 1100, de 2003, ainda mais acessível. Ele foi um dos aparelhos mais bem sucedidos da Nokia, com 250 milhões vendidas mundialmente.

Antes da chegada dos smartphones com telas de toque, como conhecemos hoje, as fabricantes de celulares já se aventuravam em criar aparelhos mais inteligentes, com o objetivo de entregar dispositivos multimídia e recursos de Internet mais avançados. A linha N da Nokia foi extremamente marcante nesse sentido. Enquanto o N-Gage se aventurava em ser um mini console, já antecipando o nicho em formação do mercado de jogos mobile, o N95 era quase um palm top, com aplicações para anotações, gerenciamento de agendas, reprodução de música e vídeo e mais.

 Divulgação Nokia N95 não era efetivamente um smartphone, mas estava no caminho certo — Foto: Divulgação

Apesar de o N95 não ter tela sensível ao toque, sua frente deslizável permitia acomodar uma tela grande para os padrões da época, ocultando o teclado numérico. Outro destaque da série N eram as câmeras digitais embarcadas, muitas vezes tão ou mais competentes que as de câmeras digitais populares do início dos anos 2000, como as Sony Cybershot.

Como a Nokia perdeu espaço no mercado

O declínio da Nokia no mercado mobile começou com a chegada dos smartphones, principalmente do iPhone, em 2007. Ao apresentar um dispositivo que combinava o ecossistema do iPod Touch com funcionalidades de celular, a Apple inaugurou uma nova era no mercado. Empresas como HTC e T-Mobile rapidamente se movimentaram para se posicionar nesse segmento emergente. Foi dessa corrida que surgiu o primeiro smartphone Android, fruto de uma parceria com o Google. O aparelho oferecia uma interface e uma experiência similares às do iPhone, mas com a vantagem de integração ao ecossistema Google, incluindo acesso direto ao Gmail e outros serviços da empresa.

Além de ter demorado a correr atrás do prejuízo e lançar smartphones para enfrentar o iPhone, um agravante que comprometeu ainda mais a posição da Nokia no mercado foi continuar investindo no sistema operacional proprietário Symbian — escolha que se provou desastrosa. Para os desenvolvedores, era mais vantajoso criar aplicativos para uma plataforma aberta, apoiada por uma big tech em ascensão e adotada por várias fabricantes, do que para o Symbian, limitado exclusivamente à Nokia.

 Divulgação/Nokia Nokia N8 possuía resposta tátil à digitação no teclado virtual — Foto: Divulgação/Nokia

Isso fez com que aparelhos até bem competentes, como o Nokia N9, acabassem pobres em termos de aplicativos e ofuscados por modelos de outras marcas, todas migrando para Android e oferecendo muito mais funcionalidades e soluções de software. Para tentar recuperar parte do mercado, a empresa finlandesa firmou uma parceria com a Microsoft para lançar os Windows Phone.

 Divulgação/Microsoft Lumia 640 foi um dos primeiros aparelhos a receber Windows 10 Mobile — Foto: Divulgação/Microsoft

No entanto, com o mercado de smartphones já consolidado, não fazia sentido para os desenvolvedores investirem em aplicativos exclusivos para uma única fabricante, especialmente considerando que os Windows Phone utilizavam arquitetura x86, a mesma de PCs domésticos. A combinação da baixa penetração de mercado da Nokia com o uso de uma arquitetura diferente da padrão ARM, predominante em smartphones, resultou em dispositivos que, apesar de oferecerem boa integração com o Windows, contavam com poucos aplicativos além dos desenvolvidos pela própria Microsoft, repetindo o erro da série N com o Symbian.

Em 2013, a Nokia vendeu toda a sua operação de dispositivos móveis para a Microsoft e deixou temporariamente o segmento. Três anos depois, em 2016, um grupo de ex-funcionários fundou a HMD Global e adquiriu os direitos de usar a marca Nokia. A estratégia era reviver o nome apelando para sua tradição no mercado e explorando a nostalgia. Nesse contexto, a HMD relançou o icônico Nokia 3310, em uma versão que combinava o design clássico com recursos modernos, mas com uma proposta minimalista: ser mais telefone que smartphone. Além disso, o dispositivo se destacava pelo preço acessível, anunciado inicialmente por € 69 (cerca de R$ 430 em conversão direta).

 Divulgação/Nokia Nokia anunciou a volta do Nokia 3310 na MWC — Foto: Divulgação/Nokia

Um dos diferenciais da abordagem da HMD para seus produtos era oferecer uma experiência próxima do "Android puro", algo que nem mesmo a linha Google Pixel preserva atualmente. Embora essa estratégia garantisse ciclos de atualização mais frequentes, o Android evoluiu ao longo dos anos para se tornar uma base extremamente funcional e simples, permitindo que fabricantes criassem interfaces proprietárias robustas, como a One UI, da Samsung. Nesse contexto, o Android puro passou a ser percebido como mais rudimentar.

Em relação à construção dos dispositivos, os designs da HMD/Nokia priorizavam a reparabilidade, seja facilitando a substituição de componentes, seja optando por peças menos sofisticadas, mas eficientes. Apesar desse foco em sustentabilidade e na experiência do usuário, a dependência da nostalgia como estratégia de mercado mostrou-se mais um problema que um chamariz. Com a popularização de fabricantes chinesas como OnePlus, Xiaomi, Huawei e até a Motorola (agora sob a Lenovo), que oferecem smartphones completos e acessíveis, a HMD Global encontrou dificuldades para sustentar o licenciamento da marca Nokia sem comprometer a receita.

 Divulgação/HMD Global Nokia 2660 Flip em mãos — Foto: Divulgação/HMD Global

O contrato de licenciamento da marca Nokia era válido até 2026, mas com os ciclos de desenvolvimento de dispositivos exigindo planejamento antecipado, a HMD começou a retirar os smartphones Nokia de seu catálogo no final de 2024. A marca foi oficialmente descontinuada no início de 2025.

O que esperar da HMD Global sem o nome Nokia?

Por outro lado, os smartphones da HMD Global, de modo geral, se mostram relativamente competentes. Com o fim das amarras contratuais, a tendência é que a empresa evolua para se tornar uma fabricante multimarcas. Durante o Mobile World Congress (MWC) 2024, Lars Silberbauer, Chefe de Marketing da HMD, destacou que o compromisso com inovações centradas nas pessoas abriu novas oportunidades para a empresa e seus colaboradores. A declaração foi feita logo após o anúncio de que a HMD começaria a lançar smartphones próprios, sem o selo Nokia.

Dessa forma, a proposta original da HMD de oferecer soluções eficientes, sustentáveis e com bom custo-benefício permanece intacta. Como uma marca independente, a empresa tem mais flexibilidade — e custos menores — para explorar o mercado sem depender da nostalgia de usuários, muitos dos quais já superaram a saída da Nokia do segmento de smartphones.

Com informações de Digitimes, Forbes, GSM Arena (1, 2), HMD Global, Microsoft (1, 2, 3), Nokiamob, Sandberg, Windows Central

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