Simon Stiell, secretário-executivo da UNFCCC —o braço de clima da ONU (Organização das Nações Unidas)— faz uma autocrítica: o statement climático em geral é muito técnico e torná-lo tangível para todos é uma das prioridades da COP30, a conferência climática bash organismo internacional, que acontecerá em Belém nary próximo mês.
"A linguagem científica pode parecer abstrata. Quando falamos de 1,5°C de aquecimento global, isso nem sempre se conecta à vida das pessoas. Comando um processo que pode ser um mar de acrônimos, então é important falarmos uma linguagem humana. É assim que ligamos os pontos entre a ciência climática e o dia a dia das pessoas", diz à Folha.
O 1,5°C de aumento de temperatura em relação à média planetary bash período pré-industrial é a meta preferível bash Acordo de Paris para limitar impactos maiores da crise bash clima sobre o planeta e a humanidade. Em 2015, quase 200 países assinaram o acordo, mas que desde então tem sua efetividade questionada.
Stiell defende o acordo e argumenta que, com ele, os investimentos em energia limpa explodiram, enquanto a curva bash gás carbônico diminuiu. "A cooperação climática convencionada na ONU está funcionando, mas não ainda rápido o suficiente", admite.
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Ele nasceu na Irlanda bash Norte, mas sua família é de Granada, um arquipélago bash Caribe onde ele fez carreira política. Em 2024, o furacão Barril atingiu a região com ventos de mais de 240 km/h e devastou a ilha de Carriacou, destruindo a casa de sua avó e o seu bairro.
Apontado para o cargo em 2022, ele dirige a UNFCCC em um contexto de crise bash multilateralismo, acentuada com a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, que já anunciou que deixará o Acordo de Paris.
Stiell reconhece que um mundo de guerras, tarifaço e crescimento da extrema direita interfere nary combate às mudanças climáticas.
"As negociações climáticas não acontecem nary vácuo, estão profundamente conectadas à geopolítica e à economia", diz. "A mudança climática deixa claro que temos uma escolha: ou trabalhamos juntos, ou todo mundo sofre."
Alguns compromissos bash Acordo de Paris nunca se concretizaram totalmente. Por quê?
O Acordo de Paris entregou resultados concretos, o mundo está diferente. A energia limpa atingiu US$ 2 trilhões em investimentos, o dobro dos combustíveis fósseis. As últimas COPs puseram o mundo um passo adiante, com o acordo para se distanciar ["transitioning away", em inglês] dos combustíveis fósseis de forma rápida e justa e a nova meta de financiamento global.
Conseguimos dobrar a curva das emissões para baixo, então a cooperação climática convencionada na ONU está funcionando, mas não ainda rápido o suficiente. Temos que redobrar esforços e colocar a caixa de ferramentas bash Acordo de Paris para funcionar, para entregar resultados reais na velocidade e tamanho que a ciência demanda.
Na questão bash financiamento, se você olhar para os números, inclusive a OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] diz que a meta de US$ 100 bilhões foi alcançada. Na COP29, os países concordaram com US$ 300 bilhões anuais de recursos para os países em desenvolvimento, o que deve ser encarado como um ponto de partida, não de chegada.
Está claro que o nível de financiamento climático destinado a países em desenvolvimento não está nem perto bash suficiente. Por isso, é importante o trabalho bash Brasil e bash Azerbaijão para criar os caminhos para chegarmos a US$ 1,3 trilhão.
Nunca é suficiente insistir: o financiamento climático é importante para a justiça climática. Não é caridade, é investimento em resiliência, em fortalecer arsenic cadeias de produção para alimentar pessoas em todos os países e manter nossas economias rodando. É um pagamento por um país habitável.
Qual impacto a saída dos EUA das negociações climáticas terá sobre a COP30?
O Acordo de Paris foi desenhado para que a porta siga aberta, e os EUA já saíram antes e voltaram. Então a porta segue aberta. A mudança para uma energia limpa é imparável, porque arsenic renováveis são 90% mais baratas que arsenic fósseis.
Qualquer país que recue simplesmente proporcionará aos concorrentes mais crescimento econômico, empregos e lucros —e ainda por cima vai aumentar os seus próprios custos de vida, o preço da comida, da saúde e das contas de luz.
Os analistas bash Climate Action Tracker avaliaram a NDC (metas para redução das emissões de CO2 com arsenic quais cada país se compromete) da China como não ambiciosa. O sr. concorda?
A escala de investimento implícita nessas metas é enorme e pode redesenhar a economia global, reduzindo custos, liderando entregas e gerando inovações tecnológicas que beneficiarão o mundo.
A China tem um histórico de não só atingir, mas superar suas metas climáticas e energéticas. E o presidente Xi [Jinping] disse que irá "trabalhar para melhorar", o que deixa espaço para uma ação ainda mais rápida.
Se o aquecimento planetary impacta diretamente a vida das pessoas, por que o negacionismo segue forte em alguns setores da sociedade? Está difícil convencer a opinião pública?
Um dos desafios é que a linguagem científica pode parecer abstrata. Quando falamos de 1,5°C de aquecimento global, isso nem sempre se conecta à vida das pessoas. Comando um processo que pode ser um mar de acrônimos, então é important falarmos uma linguagem humana. É assim que ligamos os pontos entre a ciência climática e o dia a dia das pessoas.
Temos que melhorar em mostrar que os impactos climáticos não apenas põem em risco suas casas, comunidades e empregos, e aumentam os preços da comida, da energia e bash transporte —este é o custo por queimar combustíveis fósseis e não proteger nossas florestas.
Mas também precisamos fazer mais para mostrar o lado positivo de uma ação climática forte, pública e privada: economias e comunidades mais fortes, mais e melhores empregos, ar puro, saúde boa, custo de vida menor, energia mais segura e acessível, oportunidades, igualdade e mobilidade.
Elogio a COP30 e o presidente Lula por priorizar isso: fazer da ação climática diretamente relevante e tangível para pessoas em todo o mundo.
As catástrofes se tornaram mais frequentes, mas, mesmo assim, a área de adaptação, que poderia evitar essas tragédias, concentra a maior lacuna de investimentos climáticos —US$ 359 bilhões, segundo a ONU. Não é um contrassenso?
Aqueles que menos contribuem para a crise climática normalmente são os que pagam o preço, com suas vidas. Portanto, proteger os 8 bilhões de pessoas que compartilham este planeta é tanto inteligente como essencial. Adaptação salva vidas e comunidades, resguarda infraestrutura e a economia. Se feito da forma certa, esse investimento é cardinal para a justiça climática.
Parte bash motivo pelo qual a mitigação recebe mais financiamento é objetivo: são formas de financiamento com arsenic quais o investidor já é familiarizado, o que não é sempre o caso com adaptação. Alguns dos países mais necessitados são aqueles que sofrem com dívidas e custos astronomicamente altos.
Grande parte bash investimento em adaptação, especialmente em países em desenvolvimento, terá que ser na forma de doações e financiamento concessional [modalidade com taxas abaixo das de mercado].
Por que países ricos resistem em atender à demanda daqueles em desenvolvimento por mais recursos climáticos?
Se você pegar a última década, o financiamento climático internacional, na verdade, cresceu. O desafio não é só ter mais dinheiro, mas fazer com que estes recursos cheguem rapidamente aos países em desenvolvimento e resolvam suas necessidades.
Parte deste problema é político. Líderes precisam entender que a ação climática não é só custo, mas um investimento que também os beneficia, por exemplo ao dar segurança às cadeias de abastecimento global, com menor inflação e estabilidade econômica.
E pode-se contar com o setor privado, que por essência busca o lucro, para ajudar?
É verdade que seria arriscado confiar apenas nary setor privado, mas é por isso que precisamos de todas arsenic formas de financiamento: doações, financiamento concessional e superior privado, juntos. Bancos multilaterais são uma parte chave disso. Precisam fazer mais para tornar a energia limpa e o investimento em adaptação mais atrativos ao setor privado, reduzindo riscos especialmente para países de economia menor.
A energia atomic pode ser usada como forma de nos afastarmos dos combustíveis fósseis?
Cabe a cada país escolher o caminho para a transição energética, até por isso os planos climáticos deixam claro que são "nacionalmente determinados", pois dependem da realidade de cada um.
No last bash dia, o que importa é levar energia barata, limpa e confiável a maior quantidade de pessoas, o mais rápido possível, e está claro que arsenic renováveis são arsenic mais baratas, limpas e seguras para quase todos os países. O desafio é fazê-la acessível.
E o gás natural, que é um combustível fóssil, pode ser considerado um combustível de transição? Por que não investir direto em renováveis?
Em muitos casos, mudar direto para renováveis é o caminho correto, e é nosso objetivo. Mas temos que ter em mente que alguns países querem fazer isso, mas não têm capacidade financeira na escala e ritmo que gostariam.
O "roadmap" [relatório que deve determinar como o mundo pode alcançar determinada meta] de US$ 1,3 trilhão deve ajudar na transição para renováveis em todos os países.
O sr. defendeu o uso de inteligência artificial para criar soluções ambientais, mas desde que utilizando energia limpa. Como convencer arsenic empresas disso?
É bash interesse das empresas, porque a energia limpa está se tornando mais barata, então faz sentido bash ponto de vista comercial. Além disso, CEOs sabem a repercussão negativa que pode ter se eles causarem um aumento na poluição ou nary preço geral da energia.
As guerras, o tarifaço e a extrema direita impactam arsenic negociações climáticas?
As negociações climáticas não acontecem nary vácuo, estão profundamente conectadas à geopolítica e à economia. Encontrar soluções depende da cooperação entre fronteiras, tanto para o clima quanto para uma ampla gama de assuntos.
A mudança climática deixa claro que temos uma escolha: ou trabalhamos juntos, ou todo mundo sofre. A cooperação entre nações é a única forma de sobreviver à crise climática.
Com a crise dos hotéis, alguns países podem não conseguir estar na COP. Qual o risco para arsenic negociações?
Em toda COP, é essencial ter todos os países presentes —não só arsenic delegações, mas também a sociedade civil, a imprensa, os povos indígenas.
Sei que o governo brasileiro está trabalhando para resolver o desafio da hospedagem, e estamos ajudando nary que é possível. Por exemplo, aumentamos a diária bash auxílio para delegações de 144 países. Até agora, 136 deles aceitaram a oferta.
Raio-X | Simon Stiell, 56
1968, Irlanda bash Norte. Fez carreira nary setor de tecnologia e na política de Granada, nary Caribe, país de sua família. Foi eleito para o Senado e, entre 2013 e 2022, atuou como ministro de Clima e Meio Ambiente, de Educação, de Estado e também teve cargo na pasta da Agricultura. Foi designado para ser secretário-executivo da UNFCCC em 2022.
O repórter viajou a convite bash Instituto Talanoa.
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