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Armadilha inteligente pode reconhecer e aprisionar mosquitos da dengue

Um grupo de pesquisadores brasileiros desenvolveu um dispositivo capaz de capturar insetos alados que, uma vez que estão dentro da armadilha, serão examinados em tempo real. Se o equipamento detectar abelhas ou borboletas, elas serão libertadas pelo sistema inteligente. O objetivo é aprisionar apenas as fêmeas do Aedes aegypti, conhecidas por transmitir doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela, que ameaçam à saúde pública, especialmente entre os meses de outubro e maio.

O protótipo consegue integrar Internet das Coisas, computação em nuvem, Big Data e inteligência artificial para melhorar o monitoramento e controle de mosquitos, já que ações tradicionais como campanhas de conscientização e inspeções de residências e espaços públicos estão suscetíveis às limitações humanas. Ao mesmo tempo, sabe-se que alternativas como o uso de agrotóxicos podem ter consequências negativas para a saúde e o meio ambiente.

 Divulgação/Unsplash (National Institute of Allergy and Infectious Diseases) A fêmea do Aedes aegypti procura se alimentar de sangue durante período de maturação dos ovos — Foto: Divulgação/Unsplash (National Institute of Allergy and Infectious Diseases)

Outra vantagem da armadilha criada pelos pesquisadores do Inatel (Instituto Nacional de Telecomunicações), em Santa Rita do Sapucaí (MG), e apoiada pela Fapesp, é evitar que abelhas ou outros insetos polinizadores sejam capturados desnecessariamente, sendo que desempenham papel fundamental na natureza e produção de alimentos e já estão em declínio populacional.

Como saber se o mosquito é Aedes aegypti?

Aedes aegypti é o nome científico da espécie de mosquito que transmite o vírus da dengue e outras doenças. De acordo com o Ministério da Saúde, ele é conhecido pela presença de marcações brancas nas pernas e do dorso (em formato de uma lira). Apesar de possuir hábitos diurnos, ele não vai deixar a oportunidade passar se encontrar alguém para picar no período da noite.

Quem transmite a doença é a fêmea do mosquito, que se alimenta preferencialmente de néctar de plantas, até entrar em fase reprodutiva. Neste momento, ela começa a buscar sangue rico em proteínas para a maturação dos seus ovos. Ao ingerir sangue de um humano infectado, ela vira portadora do vírus, podendo transmiti-lo em uma nova mordida em pessoa saudável.

Atualmente, entende-se que o crescimento das cidades, o descarte inadequado de resíduos e as mudanças climáticas têm contribuído para a proliferação do mosquito em áreas urbanas e a principal medida de controle é a eliminação de criadouros (onde a fêmea deposita seus ovos). A armadilha inteligente objetiva ajudar os órgãos de vigilância sanitária com dados sobre densidade populacional e potencial de danos em determinada região. Desta forma, agentes de saúde e epidemiologia podem identificar áreas com presença prevalente do mosquito e direcionar esforços para o combate.

Armadilha para mosquito da dengue

O dispositivo desenvolvido pelos pesquisadores do Inatel é um dodecaedro, ou seja, um poliedro de doze faces, com volume aproximado de 300 cm³. Para atrair o inseto, uma solução com água, açúcar e um feromônio chamado octenol é inserida dentro da armadilha. Já no tubo de entrada, uma câmera detecta os insetos para realizar a identificação. Se for um Aedes aegypti, um cooler interno cria um túnel de vento que empurra o mosquito para um recipiente com líquido viscoso, impedindo a fuga. Se for qualquer outro inseto, ele será direcionado para fora por outro conjunto de ventoinhas.

A seleção só é possível graças à aplicação de algoritmos avançados de machine learning e visão computacional capazes de identificar e categorizar os insetos presentes na câmara. Para isso, foram utilizados um conjunto de dados consistindo em 7.673 imagens de várias espécies de insetos, entre elas 3.371 que pertenciam à classe Aedes aegypti. A armadilha também é equipada com câmeras de alta resolução e recursos de visão diurna e noturna, para capturar registros com qualidade em diversas condições de iluminação.

 Divulgação/Pexels (Pixabay) Algoritmos avançados de machine learning e visão computacional são capazes de identificar cada inseto dentro da armadilha — Foto: Divulgação/Pexels (Pixabay)

Uma vez que um ciclo de atração, identificação, captura ou redirecionamento é encerrado, a armadilha começa tudo de novo, monitorando o ambiente, se preparando para apanhar novos insetos e enviando feedbacks como temperatura e umidade registradas, número total de insetos detectados, suas respectivas classificações e localização exata da armadilha através de GPS.

O time de pesquisa realizou testes em laboratório e testes de campo em Santa Rita do Sapucaí (MG), registrando 97% de precisão na detecção de Aedes aegypyi, 100% de precisão na identificação de abelhas e 90,1% na classificação de borboletas. Durante o período de observação em praças públicas e na proximidade de córregos na cidade mineira, a armadilha foi monitorada no final da tarde, quando havia maior incidência de mosquitos, e o número de casos de dengue era expressivamente alto. Foram capturados 20 mosquitos Aedes aegypti.

Com o sucesso do protótipo, o objetivo agora é aprimorar a armadilha com materiais mais resistentes às variações climáticas, refinar o modelo para discriminação entre classes de insetos, explorar técnicas mais avançadas de machine learning e baratear os custos para uso de órgãos de saúde, permitindo o monitoramento em tempo real, essencial para otimizar estratégias de controle de insetos sem prejudicar a biodiversidade.

Essa matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Conheça o projeto aqui 👈

 Divulgação/Um Só Planeta Um Só Planeta atualizado — Foto: Divulgação/Um Só Planeta

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